A diplomacia internacional requer cuidados quando um chefe de Estado oferece suas críticas e opiniões a respeito de questões internas de outro país.
No caso de Lula, um líder com grande popularidade mundial por comandar a política brasileira durante quase três décadas, e por ter nascido politicamente como um operário sindicalista, tudo passa meio desapercebido.
Ou passava desapercebido.
Nos dias atuais, e com os recortes pontuais dos pronunciamentos, as falas de Lula parecem mais como palpites furados do que críticas com as quais os governantes e a população mundial se acostumaram a ouvir do nosso presidente.
Tudo bem que Lula seja de esquerda e queira manifestar apoio aos governantes de esquerda mundo afora.
Mas quando fala sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia desconhece que um país infinitamente superior econômica e militarmente invadiu o outro e foi matando gente, crianças, trabalhadores, empresários, profissionais inocentes.
Quando fala que a disputa entre Rússia e Ucrânia se resolve com um copo de cerveja sentado no boteco, minimiza, de propósito, um conflito de repercussão mundial de iniciativa unilateral.
Quando se refere à guerra entre Israel e o Hamas, faz uma declaração esdrúxula comparando as ações de Israel às de Hitler durante a 2ª Guerra Mundial.
Desconhece que cidadãos inocentes de Israel foram atacados primeiro, mortos e tornados prisioneiros por um exército terrorista.
Desconhece que os grupos terroristas subsidiados pelos aliados do Hamas (governos de esquerda) têm armas e motivação para atacar Israel e seus cidadãos, ao menor descuido do exército israelense.
Poderia o nosso presidente lamentar a morte de crianças inocentes, primeiro de israelenses e depois de inocentes cidadãos e refugiados palestinos, sem tomar partido e sem ignorar a rivalidade milenar que é alimentada por ambos os lados e a manifesta em constante provocação de líderes palestinos de acabar com o pequenino Estado de Israel.
Agora vem a eleição da Venezuela e nosso presidente, apesar de ter um papel importante no continente e ter peso nas discussões com o ditador Nicolás Maduro, fala que isso é uma briguinha e que os derrotados procurem a Justiça.
Ora, pois, que Justiça?
Obviamente que nós, brasileiros, não queremos que o nosso presidente mande o exército atacar a Venezuela, mas também não precisa dizer que não reconhece as manifestações de um povo nas ruas clamando por justiça.
O que o governo brasileiro precisa reconhecer é que sete milhões de venezuelanos já abandonaram o país em busca de comida e de trabalho na mais absoluta miséria, sujeitando-se a subempregos nos países mais pobres da América.
Que o regime que governa a Venezuela há tanto tempo, sob a denominação de “chavismo”, está produzindo uma catástrofe no continente.
E que sem alternância no poder e sem uma nova Constituição que permita uma disputa sem vícios, o país e seu povo continuarão nas mãos e sob as ordens de um ditador que não tem apoio popular e nem consegue ajuda internacional para minimizar os problemas que enfrenta com a falta de comida, remédios e principalmente de perspectivas para um futuro melhor.
Lula não pode e nem precisa querer mudar o governo da Venezuela, mas pode deixar de ignorar o mal que esse regime já produziu e continua produzindo para o seu povo.
Um país com uma economia pujante e um dinamismo econômico e cultural impressionante acabou em três décadas de ditadura.
No mínimo o que se espera de um presidente de um país vizinho é perceber que a Venezuela e seu regime estão produzindo miséria e discórdia dentro e fora do país.
A Venezuela está escrevendo um dos capítulos mais obscuros do nosso continente e que só pode mudar com uma nova ditadura ou uma eleição livre e transparente.
É fácil perceber qual é a melhor solução.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul
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@arnokunzler