Não há dúvida que este governo do PT tem o pior começo dos governos eleitos desde a eleição de Fernando Collor, em 1989.
O primeiro grande desafio foi ajustar o orçamento para pagamento do auxílio emergencial. Conseguiu, mas teve que ceder aos congressistas inúmeros favores e atender reivindicações que aumentaram o rombo no orçamento.
O segundo foi a desoneração dos preços dos combustíveis. Mesmo dividido, o governo teve que ceder à pressão dos governadores e às necessidades do seu caixa.
Não obstante, o governo ainda tinha feito promessas que teve que atender.
Uma delas foi reajustar a tabela de imposto de renda, o que está reduzindo a arrecadação.
A outra foi reajustar o salário mínimo, o que aumentou as despesas, especialmente com aposentadorias e funcionários públicos que recebem o salário como piso.
Não bastasse isso, vieram as primeiras invasões de terras. O que era medo no meio rural agora virou pânico e críticas sem trégua pela inércia ou omissão do governo.
Com tantos problemas, o governo ainda ressuscitou um assunto que já estava caindo no esquecimento: a demarcação de terras produtivas, escrituradas e cultivadas há quase um século, para áreas indígenas.
Paralelamente a isso, o governo gera um debate desgastante sobre os juros que precisam ser elevados para evitar um mal maior, a inflação.
Na discussão o governo confunde o alvo – os juros – com a autonomia do Banco Central (BC).
Se tem razão que os juros são altos e poderiam baixar, não tem razão quando defende o fim da autonomia do BC.
Não bastassem esses problemas, o governo ainda consegue ampliar suas dificuldades insistindo com projeto de reforma tributária que nitidamente pretende aumentar impostos para vários setores, unicamente para fazer frente ao crescimento dos gastos.
Em meio a tanta turbulência, o presidente tem dificuldade para manter suas propostas de campanha, como a propalada previsibilidade.
Sem contar que daqui a pouco Bolsonaro pode retornar ao país e incendiar os seus eleitores frustrados com sua derrota e desesperançosos com o rumo do governo petista.
Lula não tem muito tempo para fazer o governo dar certo, ou será triturado pela antecipação da campanha de 2026.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul