A China se tornou uma potência industrial não porque a Europa ou os Estados Unidos queriam e nem porque é amiga da Rússia.
A China se tornou uma potência porque seus trabalhadores são disciplinados, treinados e baratos e o Estado abriu as portas para que as tecnologias e capitais de todos os continentes entrassem no país para ganhar dinheiro.
Além disso, nas últimas décadas, foram derrubadas quase todas as barreiras comerciais de modo que produtos de um país pudessem ser consumidos em outro sem agregar tantos custos.
Quem fez a China ser uma potência industrial são os consumidores que preferem produtos mais baratos, inclusive os consumidores europeus e americanos e os empresários que levaram suas fábricas para a China.
É claro que isso incomoda, mas enquanto não incomodava todos se aproveitaram do crescimento chinês, vendendo seus produtos para esse imenso mercado consumidor.
A China não só vende produtos industrializados para o mundo, aliás, o mundo ficou dependente da China, como também compra comida e, principalmente, tecnologia para alimentar seu povo e qualificar ainda mais seu parque industrial já instalado.
É possível imaginar hoje que se um país decidir não comprar nada da China terá enormes dificuldades para abastecer seus consumidores internos, tamanha é a variedade da pauta de exportações chinesa.
Para tornar o parque industrial chinês obsoleto e o mundo menos dependente da China, como gostaria Donald Trump, as fábricas precisam produzir em outros países.
É possível que o presidente Donald Trump consiga despertar nos americanos a necessidade de atrair suas próprias indústrias de volta, mas isso só será possível com muito tempo, não de um mês para outro.
Uma indústria precisa de capital, tecnologia, mercado e muito especialmente de trabalhadores treinados.
Aí a Europa e os Estados Unidos não têm competitividade, primeiro porque não têm gente suficiente para trabalhar nas fábricas. Os que estão lá e se sujeitam a esses empregos, via de regra, são estrangeiros, e não bastasse, ainda custam muito mais caro do que os chineses.
Logo, produzir nos Estados Unidos é muito mais caro, mesmo com incentivos e mercado consumidor atraentes.
Essa é a conta, quem vai pagar ela?
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul
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