O que os preços dos produtos têm a ver com a liberdade comercial?
Certamente muito, ou quase tudo.
Ao longo de décadas, o mundo viveu intensos embates entre países e grandes indústrias visando remover obstáculos para exercer a liberdade comercial, criando leis e quebrando monopólios.
Foram criadas regras rígidas para impedir que países bloqueiem a entrada de produtos de outros países, desde que se enquadrem nas exigências mundialmente aceitas.
Foram criadas regras para que grandes conglomerados não pudessem manipular preços a seu favor, ou pelo menos tentar impedir que o fizessem, o que na prática sempre existiu e continua.
E os preços dos produtos básicos foram se tornando mais populares, inclusive em países onde eles deixaram de ser produzidos para permitir que importados mais baratos pudessem atender a demanda local.
Assim, ficou mais barato para um americano comprar roupas da China do que da indústria local.
Isso foi gerando debates e com a pandemia recente descobrimos que o mundo de fato agora depende das indústrias chinesas, não só para fornecer roupas, mas também remédios e, pasmem, máscaras.
Diante dessa realidade agora exposta e escancarada, líderes mundiais de muitos países começaram a questionar esse modelo de liberdade comercial e essa absurda dependência.
E a ponta do iceberg promete ser a eleição de Donald Trump para o seu segundo mandato, agora mais forte e mais articulado internacionalmente.
Trump que reverter, pelo menos em parte, o que o mundo inteiro queria que acontecesse – liberdade comercial, para os seus produtos e para que o consumidor tivesse acesso aos melhores preços daquilo que deseja consumir.
A realidade nua e crua está provocando novas e grandes discussões sobre qual o limite que pode ser bom e quando a concentração da indústria mundial nos países asiáticos começa a gerar consequências danosas para as economias, especialmente as dos países ocidentais.
Qualquer tentativa de distribuição de riqueza sempre, ao longo da história, gerou pânico para quem está no alto da pirâmide, seja isso entre países, dentro das grandes corporações e na política doméstica dos países.
Tirar de quem tem mais para aumentar a renda de quem tem menos gera pânico e talvez nunca seja possível.
Mesmo com políticas de distribuição de renda dentro de empresas e países, a concentração de riquezas está aumentando nas mãos de poucos.
O que é inegável é que ao longo das últimas décadas, notadamente quando esse modelo comercial atual foi sendo implantado, as pessoas (em muitos países) aumentaram sua renda, seja através de produtividade, políticas sociais ou através de preços mais favoráveis.
Pobres de ontem hoje viajam mais, comem melhor e têm acesso a produtos e serviços que até 30 ou 40 anos não existiam, pelo menos não para essa faixa de renda.
Que consequências para os preços, inclusive dentro dos Estados Unidos, podem gerar essa política de taxação prometida por Donald Trump?
Outros países conseguirão fazer o mesmo, ou terão que aceitar se quiserem continuar vendendo para os Estados Unidos?
Será que o “ruim” de agora pode piorar no futuro?
Será que esse modelo de liberdade comercial, com queda de tarifas e facilidades legais, tão propalada e festejado até há pouco tempo, está com seus dias contados?
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul
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@arnokunzler