Passamos anos discutindo as relações do governo com o Congresso.
Atribuiu-se ao Congresso uma responsabilidade e força que ele nunca teve.
Um governo bem articulado e com interesse em aprovar projetos, desde que sejam minimamente defensáveis, aprova o que quer.
A prova disso é a PEC da gastança ou do estouro, como queiram.
Um Congresso amplamente contrário ao governo Lula aprovou exatamente o que Lula e sua articulação política queria e em tempo recorde.
Quando o governo quer e coloca seu time em campo ele faz aprovar o que é do seu interesse.
E não é só Lula que consegue fazer isso. Quando Bolsonaro queria eleger o presidente da Câmara o fez com muita tranquilidade.
Num regime democrático existe uma coisa chamada “articulação”, sem ela nem prefeito, nem governador e nem presidente conseguem governar.
Articular não significa comprar, como já aconteceu no passado, significa convencer.
Para convencer, às vezes, é preciso ceder.
E essa é outra palavra-chave para um governante ser bem-sucedido politicamente.
Quem não sabe convencer e não sabe ceder quando precisa tem dificuldades para governar.
O que nos resta agora é torcer para que o nosso Congresso eleito em outubro seja “republicano” nas negociações com o governo Lula.
Que o novo governo, com todas as falhas e questionamentos que possa merecer, não consiga fazer o que fizeram no passado.
E para isso, não é só o governo ser “republicano”, mas os congressistas terem respeito com os eleitores que os elegeram.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul