As imagens de prédios públicos depredados e saqueados em Brasília são o retrato fiel da destruição das nossas instituições.
O vandalismo ou terrorismo, como queiram, são a barbárie irracional daqueles que desacreditaram de vez.
A falta de confiança na autoridade constituída não pode gerar reações assim.
Atacar os prédios é apenas a forma das pessoas demonstrarem o que podemos chamar de “aquilo não me representa”.
De fato, propositalmente ou não, nossas instituições foram perdendo a credibilidade, a imprensa de falar e escrever, o Parlamento de fazer leis, o Executivo de realizar serviços e obras de boa qualidade a preços compatíveis e o Judiciário de fazer Justiça.
Aí surge algo fora das instituições que promete soluções e as pessoas acreditam.
Essa visão não está presente só nos bolsonaristas radicais; ela é de grande parte da população.
Muitas vezes, esse sentimento generalizado é por falta de conhecimento político, outras vezes é por falta de informação verdadeira.
As pessoas costumam se juntar em grupos de WhatsApp, formando bolhas. Abrem centenas de mensagens diariamente com informações agressivas, falsas e até de ódio e supremacia racial e social.
Isso vai formando no ser humano uma casta que não permite mais aceitar o contraditório, não encontra mais espaço para soluções negociadas e é capaz de partir para a violência dentro de sua própria família por questões políticas.
E quando se junta, a massa fica incontrolável, como uma torcida organizada em um estádio de futebol.
Destrói tudo sem sentimento de culpa, sem medo e sem considerar qualquer possibilidade de derrota.
A esquerda também fazia isso, só que potencialmente de forma menos violenta, mas fazia.
Quando Lula foi levado aos tribunais e toda a corrupção foi revelada, as acusações contra as instituições, especialmente contra o Poder Judiciário, eram as mesmas.
Agora o disco virou e quem está na mira e será levado a enfrentar os tribunais são os adversários.
Como não se pode imaginar um país ser governado de forma anárquica, temos que escolher um caminho, e o que parece e seguramente é o menos ruim é a democracia.
Democracia pressupõe instituições fortes e livres, onde os eleitos governam e fazem as leis, e não o contrário.
Se não acreditarmos nisso, vamos continuar acreditando em soluções pouco prováveis.
Na democracia não se pode tolerar a violência política. A democracia é o regime do diálogo, da aproximação dos diferentes e do entendimento.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul