Arno Kunzler
Sinais de estabilização
Vários setores da economia começam a demonstrar que o momento mais agudo do processo inflacionário já passou.
Mesmo que alguns produtos continuem aumentando de preços, a raiz do problema, que é o consumo desenfreado, está sob controle.
Em vários segmentos a desaceleração do consumo assusta os comerciantes, como no setor de materiais de construção, que estavam acostumados a bater recordes todos os meses.
Todavia, os preços que insistem em não parar de subir estão, via de regra, ligados a grandes monopólios que conseguem manter níveis de consumo, apesar dos preços proibitivos.
Preferem vender menos e manter os ganhos a vender mais.
Apesar disso, a estabilização da economia começa a acontecer, gerando uma aparente tranquilidade.
Só que os preços estabilizaram em níveis elevados que não correspondem ao poder de compra da nossa moeda, que se desvaloriza com a inflação e especialmente com os juros, agora muito altos.
O remédio dos juros altos era necessário, ainda que o governo tenha esperado demais para perceber que o incentivo ao consumo estava gerando inflação, desde meados de 2020.
A inflação foi boa para os governos, aumentou a arrecadação e congelou as despesas, como folha de pagamento e outras.
Era preciso controlar a inflação, ainda que utilizando o pior remédio, juros altos, mas é o único que funciona.
Agora é preciso cuidar de um outro problema que a inflação criou: o poder aquisitivo das pessoas.
A inflação tirou parte dos salários e dos ganhos de cada um e os setores que não conseguem recuperar essa defasagem vão fazer barulho.
Servidores públicos de todas as esferas, aposentados, funcionários das fábricas e do pequeno comércio e os pequenos comerciantes que não têm vendas para aumentar sua receita estão nesta lista.
Tudo indica que esses setores somente vão recuperar parte dos seus ganhos quando os juros voltarem a patamares convidativos, para que o cidadão se sinta encorajado a tomar novos empréstimos.
A julgar pela demora do Banco Central para aumentar os juros, é possível que somente ocorra uma queda consistente em 2024.
Em 2023 teremos turbulências geradas pela eleição e formação de novos governos e o Banco Central deverá ser prudente com os juros para não permitir novos desarranjos da economia.
É apostar para ver.
Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul