Se 2020 nasceu com a perspectiva de ser um ano bom, antes da pandemia, de crescimento econômico e tranquilidade política, com grandes projetos de reforma sendo votados e aprovados, 2022 se apresenta como um período extremamente difícil.
A economia está visivelmente desorganizada e imprevisível, seja pelas ações dos próprios governantes, seja pela consequência natural da pandemia.
Na política não está fácil para ninguém.
Numa leitura rápida do quadro atual, podemos concluir que a esquerda, dividida entre Lula e Ciro Gomes, terá enormes dificuldades para eleger o próximo presidente, apesar da aparente vantagem de Lula.
Vejamos. Para superar a casa dos 40% de intenções de votos, o candidato da esquerda precisa reconquistar os votos perdidos para Ciro e os perdidos pela desestruturação total dos governos do PT, que deixaram um rastro de acusações e de corrupção sem precedentes.
Vai ser difícil aquele eleitor que desacreditou no PT votar em Lula na próxima eleição.
Por outro lado, para Ciro crescer, terá que avançar sobre o eleitorado de Lula, o que não parece tão fácil.
Mas também não será fácil para o atual presidente Jair Bolsonaro, por enquanto sem partido, mas com chance de se filiar ao PP, que luta para evitar a disparada da inflação, ao mesmo tempo em que precisa gastar com seu projeto social Auxílio Brasil e ainda recebeu de presente os precatórios.
As reformas já empacaram e a inflação não dá sinais de recuo, nem mesmo com a elevação dos juros, tardiamente, é bem verdade.
Bom, se não está fácil para Lula, nem para Ciro e nem para Bolsonaro, então deve estar mais fácil para os que defendem uma candidatura alternativa a Bolsonaro.
Ledo engano. Também não será.
Há vários pretendentes, mas não será fácil escolher um que tenha apelo suficiente para se tornar uma candidatura viável e com credibilidade suficiente para tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno.
Rodrigo Pacheco se filiou ao PSD de Gilberto Kassab. Terá um partido grande e forte, mas não terá unanimidade.
Sergio Moro é esperado no Podemos. Terá um partido interessante, mas provavelmente não encontrará alianças para reforçar sua candidatura.
A fusão do DEM com o PSL resultará no maior partido do Congresso, a Aliança Brasil, com a intenção de lançar candidato próprio à Presidência da República, mas o provável candidato, ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, está no mesmo patamar de incertezas com um partido dividido entre os que apoiam o presidente Bolsonaro e os que querem candidatura própria.
O PSDB, que sempre foi o partido que atraiu as demais legendas para polarizar com o PT, parece que, desta vez, não vai exercer esse papel, podendo lançar João Doria ou Eduardo Leite em chapa solo ou até servir para compor uma chapa majoritária com outro partido.
A soma desses nomes representa uma fatia considerável do eleitorado e que facilmente poderia conduzir um candidato ao segundo turno, mas ainda não há consenso entre os partidos sobre a melhor opção, se todos lançam seus candidatos no primeiro turno ou, para evitar a atual polarização, compõem uma única chapa já no primeiro turno.
E quando esse nome for escolhido, se haverá mesmo a soma ou se, ao invés de somar, dividem o interesse dos demais para apoiá-lo.
Portanto, além das dificuldades econômicas que certamente vão interferir no processo político, ainda teremos muitas disputas internas dentro dos próprios partidos e entre os dirigentes dessas diversas legendas que desejam se unir para combater a polarização entre direita e esquerda.
Se 2020 parecia bom e ficou complicado pela pandemia, 2022 bem que poderia parecer difícil e ser um grande ano.
Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos
