O Presente
Comunicando no Presente

Duas pizzas caras e uma vergonha gratuita!

calendar_month 5 de março de 2025
5 min de leitura

É muito curioso pensar sobre como nos relacionamos com a vergonha, e sobre como respondemos de formas diferentes aos sentimentos desagradáveis. Hoje, trago uma história que representa como nossos gatilhos da vergonha funcionam, desde as coisas mais simples, até as mais complexas.

Em 2023, quando participei do campeonato mundial de oratória, pude conhecer a cidade de Zurique, na Suíça, e as cidades de Innsbruck e Salzburg, na Áutria… Isso foi a realização de um grande sonho para mim!

Maaaas, nenhuma viagem, por mais glamurosa que possa parecer, escapa da possibilidade de te proporcionar alguns perrengues (e convenhamos, melhor passar perrengue na Europa, do que os perrengues diários que inevitavelmente já enfrentamos, né?!).

Na cidade de Innsbruck, eu e meu esposo passamos os mais variados tipos de apuros: uma hospedagem que parecia cena de um filme de terror, cujos habitantes eram mais mal encarados que personagens da máfia italiana, e um apartamento cheio de percevejos. Algumas localidades ainda estavam se recuperando da crise de bedbugs (percevejos) que começou na França e afetou grande parte da Europa. Depois de puxar a carta “vou acionar meu advogado”, conseguimos reembolso total e fomos para outro apartamento.

Com a cotação do euro beirando R$ 6,00, alimentar-se bem tornou-se um desafio! Talvez você já conhece a lógica: se é um lugar muito barato, você pode estar colocando sua viagem em risco ao pegar uma intoxicação alimentar. Se é muito caro, É TUDO X 6!

Encontramos uma pizzaria onde tudo parecia muito bom, e realmente era. Façamos um parênteses aqui, para reconhecer o fato de que eu estava me achando a dona do inglês! Há aproximadamente quatro dias eu havia ganhado o título de melhor oradora do mundo, tendo discursado em inglês, num país desconhecido, para jurados que falavam diversas línguas! Dá licença!

Mas, mesmo para a campeã mundial de oratória, ser uma brasileira pedindo pizza em inglês para um casal de turcos na Áustria pode ser extremamente desafiador! Depois de descobrir que para eles kebab era carne suína, fomos sentar e aguardar nossa pizza. Neste momento percebemos que o casal ao lado tinha, cada um, uma fatia enorme de pizza em seus pratos. Pensamos que, apesar de as fatias serem grandes, uma só não seria o suficiente para nós dois. Levantei, fui até o balão, e pedi mais uma!

Em menos de 10 minutos nossa pizza chegou… E é isso mesmo, Brasil! Não era uma fatia, era uma pizza inteira (o que poderíamos chamar de uma pizza média ou grande aqui). Quando eu vi aquela baita pizza, percebi que haviam duas modalidades de pedidos, a pizza e a fatia. Levantei rapidamente para tentar cancelar o segundo pedido, dei dois passos, olhei para frente e me deparei com o garçom trazendo a segunda pizza!

Estávamos em mesas tipo bistrô, e tivemos que ficar em mesas separadas, porque não cabia tudo em uma mesinha só:

Este na foto é meu esposo, Stevan Tierling, que não parece nem um pouco incomodado pelo fato de termos errado o pedido!!!

Prezados leitores, não sei porque eu senti tanta vergonha nesta hora! Só sei que senti! Talvez eu estivesse na expectativa de que os perrengues que passássemos não seriam relacionados à minha comunicação! TALVEZ!

Superada a vergonha, nós começamos a rir incontrolavemente, e as pessoas que estavam a nossa volta (talvez entenderam o motivo, talvez não) começaram a rir junto!

Comemos o equivalente a uma pizza, e fomos até o balcão pagar e pedir para embalar o restante para levarmos. O dono do restaurante nos olhou e pediu “Too much??” (Muito??) hahahahahahaha  QUE-VER-GO-NHA!

Cada pizza custava aproximadamente 20 euros (o que nos custou um valor próximo de R$ 240,00, e nos deu de brinde uma vergonha gratuita e uma boa história para compartilhar.

Podemos atribuir à vergonha os mais diferentes significados. Mas, no geral, a vergonha é o medo da desconexão, de não se sentir pertencente, de estar inadequado em alguma situação. Sentimos vergonha quando temos a sensação de que não sabemos o suficiente, não somos bons o suficiente.

Este sentimento pode nos levar a diferentes lugares: a culpabilização por nos colocarmos naquela situação, a jogar responsabilidade do erro ou equívoco em outras pessoas porque “Deeeeus me livre eu ser a pessoa que errou”, ou até mesmo, a tradicional “vontade de sumir”.

É triste, mas, somente depois de passar um turbilhão de coisas ruins em nossa cabeça, é que conseguimos reconhecer nossa humanidade, dar risada e normalizar a vergonha. Se estas fossem as nossas primeiras reações, não as últimas, tudo seria mais fácil!

Hoje, o desafio que eu lanço a você é o de repensar como você tem lidado com seus erros. Quando você erra, você fica refém da vergonha por quanto tempo? Seus gatilhos reativos são violentos, deixam os outros desconfortáveis, ou você aprendeu a subverter a situação e pensar claramente?

No final das contas, o erro é certo! Pode parecer redundante, mas o que eu quero te dizer é que, nós vamos errar! Então o ponto central sempre estará em como lidamos com isso, e como utilizamos o erro como aprendizado para as próximas experiências!

Hoje, meu erro virou entretenimento e aprendizado para você (assim espero). Hoje, teu erro pode parecer te desestabilizar fortemente, mas logo você pode perceber que ele foi necessário para você, quem sabe até, para as outras pessoas aprenderem grandes lições contigo!

Até a próxima!

Sobre a autora

Bruna Tierling é professora de Filosofia, comunicadora, passada presidente da JCI Marechal e Campeã Mundial de Oratória.

@bruna.tierling

Perdeu as primeiras colunas da Bruna? Tá na mão ??

 
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