Recentemente percebi que meu esposo tem uma mania: bater os pés no chão antes de entrar, para não levar a sujeira de fora para dentro.
Fico pensando que muitas pessoas têm isso como uma capacidade natural de não arrastarem os aspectos ruins de sua criação para outros relacionamentos ou não trazerem para casa o que pode atrapalhar o convívio com as pessoas que ama.
Neste sentido, Brené Brown tem uma frase que aplica esta analogia à liderança:
“Os líderes precisam dedicar uma quantidade razoável de tempo para lidar com medos e sentimentos, ou vão desperdiçar uma quantidade exorbitante de tempo tentando gerenciar comportamentos ineficientes e improdutivos”.
A questão é que nossas crenças definem nosso comportamento, e o nosso jeito de liderar depende da história de vida que trilhamos até aqui. Se não estivermos atentos, acabamos “entrando com os pés sujos” nos ambientes em que atuamos, seja na família, no trabalho, na igreja, no voluntariado…
Levamos mágoas não resolvidas, medos silenciosos e até mesmo padrões aprendidos que nunca foram questionados. Esses “resíduos” emocionais, por menores que pareçam, podem contaminar relações, decisões e a forma como enxergamos o outro.
Na liderança, isso se torna ainda mais visível. Quando alguém em posição de influência age a partir de seus gatilhos reativos ou na defensiva, as consequências podem se espalhar por toda uma equipe. Falta de escuta, excesso de controle, resistência ao erro, dificuldade de confiar – tudo isso pode ter raízes em experiências passadas não digeridas. Por isso, um bom líder precisa ter coragem para olhar para dentro e se perguntar: o que estou carregando comigo que não cabe mais aqui?
O autoconhecimento, nesse contexto, não é um luxo, mas uma responsabilidade! Liderar é, antes de tudo, uma jornada de si para o outro, é servir! Não é possível guiar com clareza se estamos com os próprios olhos embaçados. Da mesma forma que limpar os pés antes de entrar em casa mostra respeito pelo ambiente e pelas pessoas ali, cuidar do que carregamos internamente é uma forma de honrar aqueles com quem convivemos e colaboramos todos os dias.
Talvez o verdadeiro ato de liderança comece no invisível – nas escolhas silenciosas que fazemos ao iniciar o dia, nos sentimentos que escolhemos processar antes de reagir, nas palavras que escolhemos usar com mais consciência.
No fundo, ser líder é, também, aprender a bater os pés antes de entrar: deixar do lado de fora o que não serve e entrar inteiro, presente e limpo para construir algo novo.
Este é o meu desafio para você hoje, aprenda a “bater os pés antes de entrar” em um novo relacionamento, em um novo desafio, em uma conversa qualquer. Avalie constantemente se a maneira como você aprendeu as coisas ainda te serve bem ou se está na hora de limpar os pés e parar de arrastar coisas que não devem mais nos pertencer.
Até a próxima!
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