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Dom João Carlos Seneme

Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais

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A missão de Jesus é salvar a humanidade, reconduzi-la ao Pai. Por isso, em suas atitudes e palavras Ele revela a misericórdia infinita do Pai que acolhe o pecador e denuncia o pecado. É o que veremos no evangelho deste domingo (5º domingo da quaresma – Jo 8, 1-11). Jesus se encontra em Jerusalém para a festa dos Tabernáculos que recorda o tempo em que Jerusalém viveu no deserto.

Jesus está na entrada do Templo no momento em que que os fariseus e os mestres da lei apresentam uma mulher surpreendida em adultério e sugerem que Jesus aplique a lei de Moisés que diz que ela deve ser apedrejada até a morte. Imaginamos que primeiro pensamento de Jesus seria perguntar onde se encontra o homem cúmplice, pois o adultério implica duas pessoas! Os fariseus e mestres da lei sabiam que a lei determinava que deviam ser apedrejados os dois, não somente a mulher. A atitude deles revela que se tratava de uma armadilha para Jesus. Não lhes interessava cumprir a lei, mas surpreender Jesus para que Ele se manifestasse contra a lei: “Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar”. De outro, queriam também desmoralizá-lo, uma vez que o centro de sua mensagem era o perdão.

Jesus consegue escapar da armadilha e coloca em evidência a hipocrisia de todos: todos são pecadores, mas a intenção deles é humilhar aquela mulher. O resultado é que todos vão embora desmoralizados. Lançar a pedra é cômodo. O “farisaísmo” é a doença de quem não se olha no espelho. Todos nós carregamos luzes e sombras e, muitas vezes, ocultamos o nosso lado pecador para apontar os pecados dos outros.

Hoje também apontamos nosso dedo na direção dos outros na intenção de humilhar e destruir. As redes sociais estão cheias de calúnias, mentiras e desprezo que demonstram a arrogância, intolerância de muitos que destroem a reputação e a vida de tantas pessoas.

A conversão é um processo longo que exige empenho. Arrependei-vos e crede na boa-nova. O caminho é agir como Jesus: “pensar como Jesus pensou”, “amar como Jesus amou, “perdoar como Jesus perdoou”.

No centro deste modo de pensar e viver está o perdão. Perdoar sempre: “setenta vezes sete”. A atitude de Jesus com os pecadores e pecadoras era sempre de compreensão, não condenava nunca, mas oferecia um convite à mudança de vida, a conversão: “Ninguém te condenou? Ninguém, Senhor? Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

Finalmente, o relato de hoje nos leva a pensar que os gestos e as palavras de Jesus vão além do fato de revelar a hipocrisia e maldade dos escribas e fariseus. O ponto central é (e isso nos traz ao contexto da Quaresma que estamos vivendo) enfatizar que, mesmo quando cometemos pecado, Deus nos concede a oportunidade de arrependimento, para que retomemos o caminho da conversão na direção de Deus e dos irmãos. Jesus não nega a realidade do pecado e tampouco condena. Ele simplesmente nos convida à conversão, a mensagem muito simples que ele tinha proclamado desde o início do seu ministério: “O reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Mc 1,15). Estas são as mesmas palavras pronunciadas sobre a imposição das cinzas, no primeiro dia da quaresma.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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