O Presente
Dom João Carlos Seneme

Igreja, sacramento universal de salvação

calendar_month 8 de novembro de 2025
4 min de leitura

Neste domingo (9/11), em comunhão com toda a Igreja, celebramos a dedicação da Basílica de Latrão, a catedral de Roma e “mãe de todas as igrejas”. Mais que uma recordação histórica, esta festa é uma profissão de fé: Deus quis habitar entre os homens e fazer de cada batizado uma morada viva de sua presença.

A Basílica de Latrão foi o primeiro grande espaço de oração dos cristãos após as perseguições. Representa o momento em que a fé, antes escondida nas casas e catacumbas, pôde se manifestar à luz do dia. Mas não se trata apenas de um edifício de pedra e arte: ela é sinal da Igreja viva, formada por homens e mulheres que, unidos em Cristo, tornam-se o verdadeiro templo de Deus.

Dedicada ao Santíssimo Salvador e aos Santos João Batista e João Evangelista, a Basílica de Latrão é a catedral do Papa, Bispo de Roma, e a mais antiga igreja do Ocidente. É considerada “mãe e cabeça de todas as igrejas do mundo”, pois guarda a cátedra do Sucessor de Pedro. Embora situada em Roma e não no Vaticano, goza de direitos extraterritoriais concedidos pelo Tratado de Latrão (1929).

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel descreve um rio que brota do templo e faz viver tudo o que toca. Essa água simboliza a presença de Deus que transforma, purifica e fecunda o mundo. O templo não é um lugar fechado sobre si, mas fonte de vida e misericórdia, de onde jorra graça e reconciliação.

Assim também deve ser a comunidade cristã: espaço de comunhão onde o Evangelho corre como um rio, fecundando os desertos da existência. Quando nos reunimos para celebrar, Deus nos faz participar dessa torrente de vida que é o próprio Cristo, “rio de água viva” que brota do seu lado aberto na cruz (cf. Jo 19,34).

Jesus é o verdadeiro templo. Nele se cumpre o desejo de Deus de habitar entre nós: “Destruí este templo, e em três dias o reconstruirei” — ele falava do templo do seu corpo (Jo 2,19-21). De seu peito traspassado brotam sangue e água, sinais do Espírito que vivifica. O cristão, portanto, não vai ao templo apenas para encontrar Deus: ele se torna templo quando deixa Deus habitar em si.

São Paulo recorda: “Vós sois construção de Deus… Ninguém pode colocar outro alicerce além de Jesus Cristo” (1Cor 3,9-11). Ser templo é edificar a vida sobre esse fundamento. É viver de modo que os outros percebam em nós o perfume da presença divina e o reflexo da caridade que edifica.

Celebrar a dedicação da Basílica de Latrão é olhar para nossas comunidades: elas só serão verdadeiras casas de Deus se forem lugares de acolhida, partilha e serviço; se nelas o amor for mais forte que as divisões. O perigo é transformar o templo em “casa de comércio” (Jo 2,16), onde prevalecem o interesse e a vaidade. Deus quer uma casa de comunhão.

A dedicação da Basílica de Latrão é, sem dúvida, uma festa que deseja inspirar sentimentos de comunhão com a Igreja de Roma; mas é também ocasião para assumir, com renovada responsabilidade, a tarefa de honrar a Diocese à qual pertencemos. É precisamente a nossa humanidade, inserida no tecido vivo de uma comunidade cristã, que é chamada a se tornar um rio que visita e alegra a vida do mundo, anunciando a todos o mistério do “corpo” (Ef 2,21) de Cristo — esse “fundamento” de graça que não se cansa de dar vida e salvação a todas as coisas.

Cada vez que fazemos de nossa paróquia, de nosso lar, de nossa vida um espaço onde o amor se torna fecundo, o templo de Deus renasce no mundo. Cada gesto de perdão e cada oração sincera é um tijolo vivo na construção desse templo espiritual.

A festa da dedicação da Basílica de Latrão é, portanto, um convite à comunhão e à missão: ser Igreja é ser rio que, alimentado pela fonte do altar, corre para as periferias da vida levando esperança e paz. O Senhor continua a dizer: “Esta casa eu escolhi e santifiquei, para nela estar o meu nome para sempre”. Essa casa é o coração humano aberto à graça.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 
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