O Presente
Dom João Carlos Seneme

Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão

calendar_month 16 de novembro de 2024
4 min de leitura

Chegamos às duas últimas semanas do Ano Litúrgico. Na liturgia da Palavra fomos acompanhados pelo evangelho de São Marcos, que hoje apresenta uma parte do discurso de Jesus sobre o fim dos tempos (Mc 13,24-32). Não se trata de um discurso sobre o fim do mundo, mas sim um convite a viver bem o presente, a estar vigilantes e sempre prontos para quando formos chamados a prestar contas da nossa vida. Jesus diz: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol escurecerá, a lua perderá seu clarão, as estrelas cairão do céu”.

Estas palavras nos fazem pensar na primeira página do Livro do Génesis, a história da criação: o sol, a lua, as estrelas, que brilham na sua ordem desde o início dos tempos e trazem luz, sinal de vida, aqui são descritos em sua decadência, enquanto mergulham na escuridão e no caos, um sinal do fim. Ao contrário, a luz que brilhará naquele último dia será única e nova: será a do Senhor Jesus que virá em sua glória com todos os santos.

Nesse encontro veremos finalmente o seu Rosto em plena luz da Trindade; um Rosto radiante de amor, diante do qual também todo ser humano brilhará.

A história da humanidade, como a história pessoal de cada um de nós, não pode ser entendida como uma simples sucessão de palavras e fatos que não fazem sentido. Nem sequer pode ser interpretada à luz de uma visão fatalista, como se tudo já estivesse pré-estabelecido segundo um destino que retira qualquer espaço à liberdade e responsabilidade, impedindo escolhas que são fruto de uma verdadeira decisão.

Pelo contrário, no Evangelho de hoje, Jesus diz que a história dos povos e dos indivíduos tem uma finalidade e uma meta a alcançar: o encontro definitivo com o Senhor. Não sabemos quando e como isso acontecerá; o Senhor afirmou que sobre aquele dia e hora, ninguém tem conhecimento, nem os anjos do céu, nem o Filho; tudo está guardado no segredo do mistério do Pai.

Pois bem, mesmo que não conheçamos o dia e a hora, ninguém pode escapar deste momento, nenhum de nós! A astúcia, que muitas vezes colocamos no nosso comportamento para credenciar a imagem que queremos transmitir, não terá mais utilidade; da mesma forma, o poder do dinheiro e os meios econômicos com os quais presunçosamente afirmamos comprar tudo e todos já não podem ser utilizados.

Não teremos conosco nada além daquilo que alcançamos nesta vida crendo na Palavra e seguindo os passos de Jesus. Só levaremos conosco o que fizemos uns pelos outros movidos pelo amor.

Para nos confirmar na esperança e manter firme nossa fé diante das adversidades, Jesus apresenta a parábola da videira. No final do período chuvoso, as folhas da videira brotam para indicar que a estação seca (o verão) se aproxima; o tempo da colheita está próximo: quando os ramos vicejam e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Vós, do mesmo modo, quando virdes acontecer essas coisas, sabei que Ele está próximo (Mc 13,29).

Quando tudo o que nos garantiu uma certa estabilidade está perdido, podemos aprender a acreditar que não atingimos o fim da linha, mas simplesmente em um ponto de recomeço. Deus, aquele que prometeu estar sempre conosco, é um fiel aliado de nossas vidas: Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão (Mc 13,31).

Somente depois de termos passado pelas inevitáveis – e necessárias – tribulações, podemos pronunciar novamente essas palavras tão desejáveis e necessárias ao nosso tempo. Palavras que expressam o nosso destino e a nossa dignidade: “para sempre”.

Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 
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