Tinha ficado para trás aquele dia em que alguns pescadores deixaram suas redes nas margens do Lago de Tiberíades e decidiram atender o chamado de Jesus atraídos pela palavra e pessoa. Neste domingo, no texto do Evangelho, as coisas tinham mudado, suas vidas e sentimentos eram diferentes. Em suas bocas sentiam o amargo da derrota, da dispersão após a morte de Jesus. O fracasso da morte na cruz tinha sido muito forte e arrasador para eles que aguardam o triunfo do Messias a partir da concepção que traziam consigo. Retornaram, então, à vida de outrora, retomando o trabalho de pescadores. Ao menos estavam juntos e poderiam rever os acontecimento com calma e serenidade. Mas, tudo era muito difícil: sem a presença do mestre, uma noite dura de trabalho e com as redes vazias.
É neste contexto que Jesus aparece, mas eles não reconhecem que é Jesus. Contudo, obedecem a palavra do desconhecido e jogam a rede onde ele indicou e o resultado é uma rede cheia de peixes. É o Senhor! O toque teológico de São João ao relatar o fato diz tudo: era manhã e renascia de novo a esperança perdida.
A pesca é sempre um símbolo da atividade apostólica, muitas vezes marcada por dificuldades, perseguições, aridez, rede vazia, desalento. O resultado da pesca realizada à noite, sem luz e sem Jesus é um grande fracasso. A chegada da manhã (da luz) coincide com a presença de Jesus (Ele é a luz do mundo). No momento em que acolhem a palavra do Senhor, o resultado é outro. O evangelista quer afirmar que podemos colocar todas as nossas forças na tentativa de mudar o mundo; mas se Cristo não estiver presente, se não escutarmos a sua voz, se não ouvirmos as suas propostas, se não estivermos atentos à Palavra que Ele continuamente nos dirige, os nossos esforços não farão qualquer sentido e não terão qualquer êxito duradouro. É preciso ter a consciência nítida de que o êxito da missão cristã não depende do esforço humano, mas da presença viva do Senhor Jesus.
Em seguida, Jesus se dirige a Pedro para reforçar o seu papel na continuidade da obra de Jesus. Aquele que negou Jesus três vezes é agora convidado por três vezes a manifestar sua adesão a Jesus para receber a missão de pastor. As ovelhas e os cordeiros (todo o rebanho) são de Jesus, mas é Pedro que deverá apascentá-los.
De ora diante, Pedro deve representar na Igreja e para a Igreja a presença do Ressuscitado, daquele que deu a vida pelas ovelhas, que estava morte e agora vive. Pedro é aquele que torna visível o amor com que Jesus amou sua esposa. As ovelhas sentirão o quanto são amadas por Jesus através de Pedro.
A missão de Pedro continua em nosso Papa Francisco, que procura incessantemente recordar o amor de Jesus pela sua Igreja, de modo especial, pelos mais frágeis e nos convida a fazer o mesmo. Ele é o vigário de Cristo; sua função é deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e unir todos os carismas e ministério na edificação do único corpo de Cristo. Pedro como Francisco continuam sendo homens frágeis como todo mundo. Jesus os chama e os envia como sinais do Reino de Deus a ser construído. Este é o estilo de Deus que realiza suas maravilhas através de pessoas comuns para nos comunicar que o poder vem dele e deve voltar para ele. Este é cuidado que deve acompanhar cada atividade que exercemos em nome da Igreja de Cristo como discípulos missionários.
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
