O Evangelho deste domingo (Lc 17, 5-10) começa com um pedido sincero dos discípulos: “Aumenta a nossa fé”. Eles percebem que seguir Jesus, amar os inimigos, perdoar sempre, viver com misericórdia, não é possível apenas com esforço humano. É preciso um dom de Deus. A fé, aqui, não é apenas uma ideia, mas um jeito de viver, de se apoiar em Deus com firmeza, como indica a palavra “amém”: firmeza, segurança, confiar em Deus como nosso único fundamento. Ele é sempre fiel.
Abraão é chamado “pai da fé” porque confiou. Mesmo sem ver as promessas realizadas, acreditou que Deus era fiel. Esse é o mesmo caminho que os discípulos pedem a Jesus para percorrer.
Jesus responde com imagens fortes: um grão de mostarda, pequeno e humilde, capaz de crescer e abrigar; e uma amoreira, de raízes profundas e resistentes, que, pela fé, poderia até ser arrancada e plantada no mar. A fé é humilde como a semente, mas forte como as raízes de uma árvore. Ela não se mede em quantidade, mas em qualidade: é confiança total em Deus, que faz brotar o impossível em nossa vida.
A fé cristã não é mágica nem fuga, mas força para enfrentar as situações de injustiça, violência e dor, como Habacuc que clamava: “Até quando, Senhor?”. A resposta divina faz referência à fidelidade de Deus “ele não falhará” e à fé do ser humano “se demorar, espera, pois ela virá com certeza”. “O justo viverá pela fé”. Não pelo desespero, não pela violência, mas pela confiança perseverante em Deus.
Jesus conclui falando do servo que faz o que deve e não exige recompensa. É um convite à humildade e confiança em Deus: a fé verdadeira não busca prestígio, reconhecimento ou poder. O discípulo serve com amor, porque sabe que tudo vem de Deus e tudo deve voltar a Ele.
Assim também nós: servimos no trabalho, na família, na comunidade, não para sermos aplaudidos, mas porque a fé nos impulsiona a amar gratuitamente, como Jesus.
No mundo de hoje, marcado pela intolerância, pelo rancor e pela desonestidade, os cristãos são chamados a testemunhar que é possível viver de outro modo: com paciência, perdão, honestidade, solidariedade e amor. A fé não é apenas oração ou teoria, mas um modo de viver: é colocar toda a nossa segurança em Deus, e a partir dessa confiança agir com coragem e justiça.
Ao rezarmos “amém” na missa e em nossas orações, renovemos nossa fé. “Amém” significa: confio em vós, Senhor; apoio-me em vós, que sois firme e fiel.
Que a nossa fé seja humilde como o grão de mostarda, forte como a amoreira e fiel como o servo do Evangelho.
E que, assim, possamos mostrar ao mundo que é possível viver sem ódio, sem rancor, mas com amor, porque o justo viverá pela fé.
Com a festa de Santa Terezinha do Menino Jesus, iniciamos o mês das missões e do rosário. Na missão encontramos o sentido de nossa existência como batizados. Deus nos chama para fazer tudo o que está ao nosso alcance para anunciar o evangelho. Temos consciência de nossa fragilidade e limitação, mas o que garante o êxito da missão é a ação do Espírito Santo. “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.
Por Dom João Carlos Seneme. Ele é bispo da Diocese de Toledo
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