Ainda é comum muitas pessoas serem surpreendidas com altas taxas de colesterol e glicose, ao fazerem exame de sangue, prática que tem ajudado a prolongar a vida das pessoas. O crescimento dos níveis de colesterol e glicose no organismo são processos indolores e imperceptíveis, ao ponto de muitos serem surpreendidos com um acidente vascular cerebral (AVC) ou com um infarto agudo do miocárdio, não raras vezes provocando a morte. Porém, quando detectado em tempo, começa uma guerra contra tudo o que possa aumentar os índices e uma corrida na direção contrária, com atitudes, alimentos e medicamentos que possam baixar os níveis e trazê-los para patamares aceitáveis e seguros.
Esta é a realidade a que nos acostumamos e atualmente é prática comum a maioria das pessoas trilhar o caminho da prevenção, mais segura e menos dolorosa.
Por outro lado, desde o final da década de 1980 e início da década de 1990, a humanidade foi alertada sobre os perigos das mudanças climáticas, caso continuasse agredindo o meio ambiente. Desmatamento, queimadas, queima de combustíveis fósseis e poluição industrial estão entre as mais impactantes. Mas, a exemplo do colesterol e da glicose que vão aumentando os níveis sem nos incomodar, com o meio ambiente foi mais ou menos assim também.
As mudanças vieram crescendo, e para cada uma delas sempre havia uma bela explicação por parte daqueles que não estavam interessados em fazer alguma coisa no sentido inverso. Mas, aos poucos a manifestação da natureza cresceu e os eventos climáticos se intensificaram, causando prejuízos, destruição e mortes em escala cada vez maior.
Nos últimos dois anos tivemos catástrofes e tragédias que deixaram feridas doloridas e que demoram a sarar, com algumas que sequer saram. Nossa microrregião já foi atingida por frustrações de safra, secas aqui e enchentes acolá, vendavais e chuva de granizo que colheram em minutos o trabalho de uma safra inteira. Agora já estamos sendo alertados para o derretimento das calotas polares. Na Antártida, a temperatura está 20ºC acima da média para o período e no mês de julho registramos o dia mais quente do Planeta Terra desde que tal cálculo vem sendo feito.
O derretimento do gelo nos polos vai elevar o nível dos oceanos que já cresce em média uma polegada a cada dez anos, o que é assustador, e nos próximos anos pode engolir dezenas de cidades do mundo, localizadas à beira mar. Para nós, mortais comuns, há pouco a fazer para deter o crescimento destes indicadores climáticos. Mas o que assusta e preocupa é ver a passividade e falta de atitude das autoridades ao redor do mundo, a quem cabe planejar, tomar decisões e executar um plano urgente de reversão das mudanças anunciadas.
O que temos visto são promessas para 20 ou 30 anos que não são cumpridas e ninguém é responsabilizado. Simples assim, e a cada ano estamos mais próximos da beira do abismo.
Este artigo também não fará diferença alguma senão apenas nos ajuda a tomar consciência de que um futuro assustador nos aguarda após a próxima esquina. Aquela rotina tranquila e previsível está no passado, e o que devemos fazer é criar mecanismos para enfrentar os desafios para continuar produzindo e sobreviver. Estamos dentro do futuro desequilíbrio climático outrora anunciado.
Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa
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