As pessoas equilibradas e sensatas estão em choque com o relato e as imagens chocantes de crimes contra as mulheres. Eles sempre existiram, mas a brutalidade vem aumentando, e o pior cenário, é que muitos já perderam a capacidade de se indignar.
Isso me incomoda muito e angustiado me pergunto: o que cada um pode fazer para ajudar a dar o primeiro passo na direção contrária? Direção contrária significa como será possível desconstruir esta herança maldita que vem tomando conta da sociedade? Será que estamos perdendo a racionalidade?
São questionamentos pertinentes já que em todas as espécies animais, o respeito às mães é inegável e comprovado. E os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus como diz a Bíblia, jamais deveriam ser capazes desta brutalidade, justamente por serem racionais.
Ao longo de milênios a sociedade era patriarcal e sendo assim, o poder era exercido pela figura paterna. E isso veio passando de geração a geração, até os nossos dias. Acontece que na mesma medida em que fomos evoluindo intelectualmente, as mulheres foram conquistando espaços de forma legítima, através do desenvolvimento intelectual e passou a se sobressair em muitas atividades onde os homens sempre nadaram de braçada. Recordo-me de um fato, entre muitos que poderia citar, ocorrido na Escola onde passei parte da minha vida como professor.
Estava no auge da fama o Show Rural em Cascavel, e como somos uma das mais eficientes e prósperas fronteiras agrícolas do mundo, sugeri ao Diretor do Colégio uma forma de incentivo e prêmio para os alunos mais dedicados aos estudos, passar um dia no show rural. Calculamos a média geral do ano anterior em cada turma. Eram 4 turmas do Ensino Médio. E para surpresa geral, em cada uma das turmas o 1º lugar foi de uma menina.
O prêmio foi concedido e as meninas foram visitar o show rural, por conta do colégio. É um fato interessante para entender que, quando se trata de cérebro que funciona, todos somos iguais e vence quem se esforça mais. Isso tem deixado muitos homens em pânico, já que ao longo dos séculos se cultivou aquela ideia da superioridade masculina, algo ultrapassado e inaceitável no século XXI.
É o assunto do momento no Brasil, quando diariamente somos informados de crimes brutais e que muitas vezes ficam impunes, já que a nossa legislação possui muitas brechas por onde passa a impunidade. A solução seria aumentar a pena para os autores de feminicídio? Isso até pode ajudar um pouco, mas não vai resolver o problema.
O crime é apenas o ultimo estágio do ciclo da violência. A sociedade está contaminada pela violência e precisamos reverter o quadro. Eis a pergunta titulo deste artigo: como fazer isso? A fórmula ninguém tem, mas há muitos caminhos, principalmente se considerarmos que ninguém nasce bandido, ninguém nasce homofóbico, ninguém nasce machista. Tudo isso se constrói ao longo da vida. Primeiro precisamos mudar nosso jeito de ser.
Qualquer piada, gesto ou ato discriminatório tem que ser banido da sociedade. Implantar políticas públicas para proteção e principalmente começar um processo de conscientização e educação que ensine a nova geração a ser mais humana e solidária. Além da prisão, obrigar os agressores a indenizar suas vitimas e quando houver dano físico irreparável, sustenta-las para o resto da vida.
Acabar com os privilégios, ensinar a igualdade às crianças desde o berço e não tolerar a discriminação. Se isto for feito e houver verdadeiramente justiça, em 20 anos estaremos colhendo bons resultados, porque isso é tarefa de longo prazo. Mas você pode mudar suas atitudes a partir de hoje. Será um bom começo.
Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa
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