O que muitos previam, aconteceu. Desde dezembro passado, os brasileiros começaram a forçar a porta de saída das casas e das cidades em direção aos balneários, estâncias e praias, cansados do retiro forçado a que foram submetidos como prevenção à Covid- 19.
No período das festas de final de ano então, foi um Deus nos acuda. Festas clandestinas, temporadas de praia e viagens marcaram os noticiários, alertando para o perigo de uma elevação brutal de infecções e mortes no mês de janeiro. Dentro em breve saberemos o resultado.
Essa exaustão da população em geral me leva à reflexão sobre a capacidade que tem o ser humano de vencer todos os obstáculos que se apresentam na vida, nas várias esferas em que vivemos, tais como trabalho, família, lazer e espiritualidade. Um trabalhador em média precisa de 30 anos ou mais para se aposentar. Significa que deve enfrentar este desafio, muitas vezes uma cansativa rotina até que a aposentadoria permita novas experiências. Família é para toda a vida, ou pelo menos deveria ser. Onde buscar a força, motivação e equilíbrio para construir uma vivência por décadas?
Àqueles que possuem uma religião, onde encontrar a força para perseverar na fé?
Aos profissionais da saúde, tão em evidência nestes tempos de pandemia, talvez os mais atingidos pelo tsunami causado no mundo, primeiro por estarem em perigo constante e segundo por verem o trabalho aumentando a cada dia e sem perspectivas a curto prazo de que a situação possa mudar para melhor.
Ao jornalista, que diariamente procura conscientizar as pessoas através dos noticiários que servem de alerta tanto pelos crimes como pelas mortes diárias, muitas fruto da irresponsabilidade do ser humano, e mesmo assim parece que as pessoas estão anestesiadas e cenas tristes se repetem a cada dia, apesar do esforço para que as pessoas observem as leis e a ordem.
E foi pensando nisso tudo que me ocorreu a ideia do título. Desidratação se caracteriza pela baixa concentração não só de água, mas também de sais minerais e líquidos orgânicos no corpo a ponto de impedir que ele realize suas funções normais. Nos desertos ou em lugares de baixa umidade é aconselhável consumir água mesmo sem sentir sede, porque o processo de desidratação é rápido e sem que a pessoa perceba. Quando perceber já terá provocado danos ao organismo. Há um processo de desidratação mental fruto deste cansativo processo de isolamento parcial e do constante risco de sermos infectados, cujas consequências são imprevisíveis. Foram apenas dez meses que parecem ter durado alguns anos. Assim, o cansaço foi vencendo o bom senso, as pessoas não se deram conta que a pandemia é imprevisível, chegou tão rápido que não houve tempo de preparação e quando nos demos conta estávamos no olho do furacão, e pior, os descuidados foram os primeiros infectados e muitos morreram.
Desta forma, pela fé, por uma programação mental, pela psicologia ou por determinação pessoal, a cada começo de dia é preciso ter o propósito de não fraquejar neste dia. Olhando assim é mais fácil vencer do que olhar pra frente e pensar que isso ainda pode durar alguns anos. Se quisermos chegar vivos ao final deste ano é preciso recomeçar a cada dia, com fé em Deus, apoio na família e nos amigos e a certeza de que um brilhante novo dia vai raiar e a vida voltará ao normal.
O autor é professor em Nova Santa Rosa
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