Em tempo de catástrofes, entra em cena uma turma insaciável de candidatos à celebridade. São os oportunistas que lutam para conseguir um furo de reportagem que os faça merecer a “bola de ouro” da comunicação. Esta busca frenética pelo estrelato na comunicação em redes sociais tem possibilitado uma mobilização jamais imaginada, unindo centenas de milhões de pessoas em prol de uma causa comum: o socorro às vítimas da enchente no Rio Grande do Sul.
Isso tem um lado altamente positivo, pois em curtíssimo espaço de tempo o socorro tem chegado a tempo de salvar muitas vidas. Mas, como nem tudo pode ser perfeito, esta poderosa arma da comunicação também está ao alcance dos bandidos e mal-intencionados, que a utilizam para atrapalhar, destruir, beneficiar-se ou até matar as vítimas da maior tragédia vivida pela polução do extremo Sul do país.
A perversidade começa quando alguém espalha uma notícia falsa, as famosas fake news, cuja consequência imediata é confundir as pessoas, fazendo-as acreditar numa mentira. É um ato criminoso porque uma das consequências diretas é as pessoas não enviarem doações que poderiam salvar vidas por acreditar que as doações estão sendo desviadas ou entregues mediante fraude.
Outra forma bandida de se aproveitar da tragédia alheia é protagonizada pelos bandidos que assaltam e roubam as casas daqueles que tiveram que sair para salvar a própria vida e a dos familiares. É uma monstruosidade de difícil classificação com os recursos disponíveis na língua portuguesa.
E aí quando você acha que já viu e ouviu tudo o que era possível, surgem os profetas do apocalipse que colocam uma espada na mão de Deus e o fazem sair demolindo tudo o que encontrar pela frente. Estes são aqueles que colocaram Deus em rota de choque, uma espécie de vingança como resposta às manifestações religiosas do povo gaúcho.
São aqueles que consideram possuir o monopólio da verdade e daquela religião que Deus estabeleceu para o povo rio-grandense. Não foram poucos os que queimaram a língua querendo atribuir a Deus a iniciativa do castigo das enchentes. O que precisa ser enaltecido, louvado e glorificado é o espírito de solidariedade da população em geral, que se mobilizou e abriu seu coração para socorrer os irmãos gaúchos, com doações e muitos com a presença física para ajudar a salvar vidas e a reconstruir o que foi destruído, um processo que será longo e muito difícil.
Outro fato é que precisamos nos preparar para o que vem pela frente. O mundo mudou, o clima mudou e o que estava previsto sobre as mudanças climáticas está começando a mostrar a cara, e uma cara assustadora. O que vem pela frente, não sabemos. É bom estarmos preparados e torcer para que nunca nos esqueçamos que somos todos irmãos, portanto ser solidário é o mínimo decente a ser feito, para também receber solidariedade quando chegar nossa vez, torcendo para que nunca chegue pra ninguém.
Contudo, se a humanidade quiser prolongar sua vida sobre a terra, precisa andar a passos largos para reverter o estrago já realizado. É bom não esquecer: nunca faças ao outro aquilo que não queres que te façam.
Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br
@eliomiglioranza