O Presente
Elio Migliorança

O poeta acertou em cheio

calendar_month 3 de outubro de 2025
3 min de leitura

Quando éramos estudantes, declamar uma poesia era parte importante do processo de aprendizagem. Desenvolvia a memória, afinal a boa poesia tem que ser decorada, e a declamação em si ajudava a exercitar a dicção e o tom de voz, e a vencer o medo de enfrentar uma plateia.

Foi nos bancos escolares que muitos descobriram o dom da comunicação e isso abriu para muitos as portas do sucesso. Um dos clássicos da poesia é a consagrada obra intitulada “A Pátria”, do inesquecível poeta Olavo Bilac.

Ela canta as belezas incríveis desta terra, enaltecendo as riquezas com as quais a natureza nos brindou.

A primeira frase da poesia está gravada no coração e na mente dos brasileiros porque propõe a gratidão que devemos à nossa terra natal, quando conclama a todos dizendo: “ama com fé e orgulho a terra em que nasceste”.

A segunda frase da poesia exalta o comparativo com as outras nações, ao afirmar: “Não verás nenhum país como este”.

Do ponto de vista geográfico, a afirmativa é uma verdade cristalina. Dos países que já visitei, mais de 30, realmente nenhum deles têm as riquezas que nós temos e nem a diversidade produtiva que aqui se agigantou, a tal ponto que cada ano que passa, novos recordes de produção são sucessivamente alcançados.

Me perdoe Olavo Bilac, mas se eu pegar a segunda frase e começar a fazer um comparativo com os políticos dos países visitados, realmente não se vê nenhum país como este. Em contraste à natureza que nos brindou com riquezas incomparáveis com as outras nações, fomos castigados com a pior classe política do planeta.

O que temos visto nos últimos anos e em escala galáctica nos últimos meses foi uma afronta ao bom senso e à ética que faz até os carecas ficarem com os cabelos arrepiados. Nem é necessário retroceder muito ao passado para buscar fatos assustadores.

Fiquemos com os dois mais recentes, que ainda estão repercutindo. Um deles o projeto para blindar políticos que cometerem crimes. A ideia que nasceu no passado e tinha um propósito nobre que era o de proteger o parlamentar contra perseguição ou retaliação pelas ideias ou pela sua defesa contra propostas absurdas, acabou sendo distorcida e aos poucos esta proteção se estendeu a crimes dos mais diversos níveis, fazendo com que o Congresso Nacional se tornasse um refúgio seguro para determinados tipos de crimes que nada têm a ver com a atividade parlamentar.

Saiu do campo das ideias para proteção a corruptos e bandidos de qualquer nível, algo inimaginável como disse o poeta Olavo Bilac. As mazelas são tantas no Parlamento brasileiro que a poesia poderia incluir a seguinte frase: “não verás nenhum Parlamento como este”. Lembro que na visita à Suécia esta foi uma descoberta surpreendente: lá, parlamentares e prefeitos vão para o trabalho de ônibus, ou seja, com o transporte público.

O segundo fato mencionado acima é o recentíssimo aumento no valor do Fundo Eleitoral, que ultrapassou os R$ 5 bilhões. Um legalizado crime contra os cofres públicos. Nós estamos pagando para sermos ludibriados, enquanto falta dinheiro para tudo neste país.

Um projeto que isenta do pagamento do imposto de renda quem recebe até R$ 5 mil mensal está se arrastando há meses no Congresso, como se ganhar tal valor mensal tivesse dinheiro sobrando ao ponto de ter que pagar imposto de renda.

Premiados por uma natureza incomparável, somos castigados pela qualidade dos políticos que temos. Consolemo-nos, nem tudo pode ser perfeito.

Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

@eliomiglioranza

 
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