Retornei recentemente da visita feita à Austrália e Nova Zelândia, os dois países que formam o Continente Australiano. Foi uma experiência incrível e um aprendizado ímpar mergulhar na realidade daquele continente. Ambos extremamente preocupados com o aquecimento global e com as consequências dele decorrentes.
O assunto é levado muito a sério porque o sol naqueles países queima de um jeito diferente. Devido à fina camada de ozônio que protege o continente, há ali um alto índice de incidência de câncer de pele.
O zelo por todos os itens que podem influenciar o aquecimento global é quase uma obsessão.
Visitamos uma ilha onde a única água disponível para consumo humano é a água da chuva, e não é uma ilha pequena pois tem 120 quilômetros de extensão. Igualmente, a Austrália, um país de dimensões continentais e que possui gigantesca área do seu território formada por desertos, já que seus 27 milhões de habitantes vivem na faixa costeira com até 40 quilômetros de largura a partir do oceano, luta bravamente em defesa das práticas conservacionistas para retardar o aquecimento global.
Por outro lado, temos no Brasil uma parcela considerável da população que não acredita que o fenômeno exista e acham que o aquecimento global é uma fábula inventada por ecochatos, negando, desta forma, a influência do aquecimento global sobre as mudanças climáticas. Mas, quando o temporal bater no seu quintal, pode ser que seja tarde para tomar alguma providência ou contribuir para evitar que um evento extremo reduza a cinzas todo o trabalho e patrimônio construídos ao longo de uma vida inteira de trabalho.
Embora a última safra de milho no Brasil tenha surpreendido a todos pelo resultado, é inegável que foram muitos os sobressaltos vividos pelos agricultores enquanto o produto ainda estava na lavoura. A lavoura é uma indústria a céu aberto e, portanto, sujeita a todas as variações climáticas, que, às vezes, prejudicam pela falta e, outras vezes, pelo excesso, tanto de sol quanto de chuva.
Os sobressaltos são contínuos, e mesmo quando para muitos o final é feliz, há outra parcela que fica pelo caminho da sub produção e consequentemente do prejuízo.
Ainda não temos um projeto nacional ao qual todos estejam engajados de alguma forma, e sequer conseguimos uma consciência coletiva da necessidade de um projeto de médio e longo prazo, com metas claras e cronograma definido para sua execução.
Prestes a sediar a COP 30, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Notícias recentes revelam que o desmatamento dos últimos 44 anos corresponde à área da França, o que por si só já é assustador. Quando o temporal chegar no seu quintal pode ser tarde demais.
Muitos justificam o desmatamento de forma simplista, alegando que europeus e americanos destruíram sua cobertura vegetal e agora querem que preservemos a nossa para eles terem oxigênio, o que pode até ser verdade. O fato concreto é que quando faltar oxigênio para eles também faltará para nós. E talvez antes que falte oxigênio, vai faltar água e comida, ambos vitais para a sobrevivência da humanidade.
Somos extremamente eficientes na tecnologia e avanços genéticos para melhorar a produção, mas se do céu o precioso líquido não vier, estaremos todos no mesmo barco, e será importante ter a consciência de que se o barco fundar, todos naufragaremos juntos. Preservar é vital para a sobrevivência da humanidade.
Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa
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