Após percorrermos o Marrocos, mergulhamos de corpo inteiro na vizinha Tunísia, terra dos antigos cartagineses e que possui uma história milenar às margens do mediterrâneo, o mar mais navegado do mundo.
Foi palco de incontáveis guerras nos tempos da expansão do império romano e também incontáveis invasões de povos bárbaros. De tudo isso sobraram preciosas construções e um tesouro cultural em todas as áreas do conhecimento que atrai turistas do mundo para aquele país.
Foi uma experiência incrível saborear pratos deliciosos e outros muito estranhos, já que a culinária tunisiana preserva muitas tradições medievais e que incrementam esta diversidade de culturas vivendo num mesmo território.
Há muitas semelhanças entre o povo marroquino e o tunisiano, mas eles fazem questão de dar ênfase às diferenças para ressaltar as riquezas culturais que cada um possui. Visitar uma pequena comunidade que vive no mesmo estilo que viviam muitos grupos lá pelo ano 1.000 antes de Cristo foi como mergulhar no túnel do tempo e acordar 3.000 anos atrás.
Há muitos desertos na Tunísia, e em parte deles ocorreram célebres batalhas durante a 2ª guerra mundial. Esta é a parte brilhante das tradições, da cultura, a mistura de crenças religiosas convivendo pacificamente, cada um respeitando as convicções e tradições religiosas daqueles que pensam diferente. Contudo, há um setor que enfrenta um dos mais significativos desafios da sua história, e uma história contada em milênios. Refiro-me ao setor produtivo, especificamente a área da agricultura.
As oliveiras representam para a Tunísia o que a soja representa para o Brasil. A diferença é que nós plantamos a soja a cada ano, as oliveiras são árvores que podem viver mais de 200 anos, então a cada ano basta colher, sem necessidade de semeadura. Contudo, na parte Sul do país, estamos falando em mais de 50% da área do país, uma seca atormenta a vida dos tunisianos há quatro anos. É isso mesmo, fazem quatro anos que não chove na metade Sul do país, e, segundo o Sr. Taher, nosso guia na Tunísia, as oliveiras podem suportar até cinco anos de seca, depois vão morrer.
Será uma tragédia sem precedentes na história do país. Isto porque se as oliveiras vierem a morrer, as centenas de milhões de pés de oliveira espalhados pelo país terão que ser plantadas novamente e demorarão em média 12 anos para começar a produzir.
O aquecimento global nunca foi tão global quanto está sendo agora. Não foi um grito de ambientalista, e sim um fato incontestável a assombrar um país. É um alerta mundial anunciando que estamos quase dobrando o “cabo da boa esperança” e parece que estamos chegando a um ponto de não volta. Se as chuvas chegaram a tempo de salvar a produção daquele país não sei, o fato é que nossa região sente na pele e no bolso os efeitos das mudanças climáticas, pois o comprometimento da produção nos últimos anos foi causado pelo mau humor da natureza.
A riqueza de conhecimentos e experiências proporcionadas por cada viagem me mostraram que o mundo é um livro e as viagens nos permitem ler as mais diferentes e incríveis páginas do universo.
Por Elio Migliorança. Ele é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa
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