O Presente
Fátima Baroni Tonezer

Aprendendo a se amar e parar de brigar

calendar_month 30 de dezembro de 2024
5 min de leitura

Eu sou uma privilegiada e também uma sobrevivente. Por que digo isso? Porque eu nasci numa época em que para conversar com amigos e parentes precisávamos usar um telefone público, de ficha. Poucas pessoas e famílias tinham telefone em casa. E mesmo quando nós pudemos ter o nosso telefone, não tínhamos muitas pessoas para quem pudéssemos ligar de casa, porque muitas dessas pessoas não tinham telefone.

Eu também cresci ouvindo que eu não tinha idade. Quando eu era criança, eu não tinha idade para um monte de coisas: eu não podia ir para o baile com os meus irmãos porque eu não tinha idade. Eu não podia sair sozinha, não podia comprar o que eu queria e nem comer o que eu queria, porque eu tinha que comer aquilo que os meus pais tinham condições de colocar no prato. E tinha que obedecer porque eu não tinha idade.

Então, cresci ouvindo que eu não tinha idade. E quando cresci pensei, ingenuamente: Ah! agora eu posso tudo. Então continuei escutando que eu não tinha idade. Eu não tinha idade para brincar, eu não tinha idade para dançar sozinha na chuva, eu não tinha idade para dar risadas altas. Eu não podia me apaixonar pelo galã da televisão porque não tinha mais idade para fantasia. Enfim, eu não tinha mais idade. Eu tinha que olhar as prioridades dos outros e atender suas necessidades.

E é duro a gente encarar essa realidade, principalmente comparando com o que acontece hoje. Por quê? Porque hoje já na barriga da mãe o bebê começa a escutar que ele pode tudo, que ele vai fazer tudo que ele quiser e que ele só precisa ser feliz, independente do que ele for fazer. E isso é uma grande mentira.

Primeiro porque, gente, vamos combinar, nós não podemos fazer tudo. Nós não podemos ter tudo o que queremos. Porque tudo que eu quero tem um limite, que é o outro, então eu não posso fazer qualquer coisa que me passe pela cabeça, porque algumas destas coisas vão prejudicar o outro e vão depender da vontade do outro, da necessidade do outro. Logo, isso é uma falácia. E continua sendo uma ingenuidade e agora até uma ingenuidade maldosa, porque as crianças crescem entendendo que elas podem tudo.

E o outro lado dessa moeda é que se eu posso tudo, se eu posso fazer o que eu quiser e eu não der conta de fazer, porque o mundo tem os seus limites e as suas regras, que não combinam com o meu querer e o meu sonho, eu começo a me sentir frustrada. E começo a me sentir incompetente. Porque eu não dei conta, todo mundo ao meu redor está dando conta, só eu não dou conta. Isso é maldade. Porque, sim, tem muita coisa que se eu ficar jogando para o universo, com pensamentos positivos, enquanto estou sentada comodamente no sofá da minha casa, não vai acontecer. E aí sim a responsabilidade é minha.

Agora tem muitas coisas que eu preciso fazer ou que eu sonho fazer e que depende do outro, do outro querer, do outro permitir, do limite do outro. Então, é importante que a gente olhe para isso. E por que eu estou falando isso hoje? Porque quem me acompanha sabe que eu trabalho com autoestima e amor-próprio e se tem um tiro no pé que mata qualquer possibilidade de autoestima e de amor-próprio é eu acreditar que eu posso tudo, que só depende de mim e que eu dou conta de tudo. E que para isso eu só preciso ser perfeita.

É POSSIVEL MUDAR DE CRENÇAS USANDO O AMOR-PRÓPRIO

No artigo anterior (clique aqui e leia) escrevi sobre o apreço por mim, isto é, o amor-próprio. Como aprender a nutrir esse amor-próprio, esse apreço? É essencial que eu saiba quem eu sou, para além das convenções e padrões culturais. Amar quem eu sou é um exercício diário, escolha que preciso fazer todos os dias. Me amar significa olhar e aceitar aqueles traços não tão bonitos ou que a sociedade e a cultura dizem que temos, mas não são adequados.

Como conseguir isso? Me amar diante desses traços é simplesmente parar de brigar. É desistir do autojulgamento, da recriminação e autocrítica. Lembrar que eu tenho uma história, lutas, quedas e vitórias. Não venci todas, mas também não perdi todas. É ampliar nossa visão e não nos reduzir a um trecho da jornada. Aceitar quem você é ajuda a reduzir o autojulgamento. Não significa ser indulgente ou cair no coitadismo do “eu nasci assim”, não tem o que fazer. É exatamente o contrário: quando me aceito como sou, aí posso mudar o jeito de lidar como meus traços e atitudes.  

Amor-próprio, amar a si mesma, é difícil, mas pensa bem: viver brigando consigo o tempo todo é pior, dói mais, engessa e paralisa.

Nos vemos na próxima semana? Opssss… no ano que vem?! Por falar nisso: como será seu 2025? Seu planejamento envolve quais mudanças?

Siga @psicofatimabaroni para mais conteúdo como esse. Vamos conversar lá?

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
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