A pessoa que sofre com a síndrome da boazinha, que está sempre no lugar de ajudar, compreender, resolver, sentir culpa, tem na verdade uma inabilidade de lidar com as dificuldades e desafios da vida adulta, encontrar o ponto de equilíbrio onde a empatia, uma das características mais bonitas do ser humano, não esteja a serviço de resolver a vida do outro, se abandonando, se colocando nesse lugar de super-herói. E o outro vai usar isso como desculpa para não lidar com os próprios problemas.
É a diferença entre ser dependente e ser conivente, porque às vezes a pessoa é dependente, uma criança é dependente, não tem recursos próprios para viver sozinha, mas para algumas pessoas já adultas, pode ser muito conveniente estar nesse lugar de receber. Afinal, se você quer dar e parece que não te custa e não precisa de contraoferta por que você gosta, por que não? Por que não vou aceitar? Me é conveniente receber.
Quanto custa para você estar nesse lugar? Você já parou para perceber quem são as pessoas que só lembram de você quando as coisas estão ruins. Sabe aquele “Oi, sumida” que aparece do nada? Você percebe quais sentimentos isso provoca em você? E estou falando do ficante, de amigos, de alguém da família. Porque essa pessoa que estava sumida, não conversava mais com você ou te incluía nos programas e de repente aparece toda “querida” falando com você, te convidando para fazer alguma coisa? Você consegue perceber o que está acontecendo? O que o outro está fazendo, qual é o lugar que você ocupa na agenda dele?
Estar com pessoas na alegria é fácil, prazeroso e tem pessoas que quando estão com problema somem. Porém, existem pessoas que só te procuram quando estão mal, fazendo de você a central de problemas tipo 190, o número que você liga quando precisa de socorro. Avalie seu entorno e perceba se tem pessoas que te ligam para desabafar, mas que depois você vê fotos dela no rolê, se divertindo e no qual você não foi incluída.
QUEM VOCÊ ESTÁ ESPERANDO ESCOLHER VOCÊ?
Quando você entende essa dinâmica, é difícil, mas será o ponto da virada. Lidar com essa habilidade de cuidar dos outros e talvez se colocar no lugar de esperar que o outro venha na sua direção, oferecer apoio e acolhimento. Que infelizmente, na maior parte das vezes ,não vai acontecer. E esse é o momento de você parar e se acolher, cuidar de si, ser generosa e gentil consigo. E você vai precisar aprender a pedir ajuda; em qualquer relação a parceria precisa acontecer. Se existe uma falta, e ela é sua, você precisa pedir – seja nos relacionamentos amorosos, profissionais, de amizade ou familiar.
Antes de se decepcionar com a pessoa por não ver sua necessidade e atendê-la, você precisa deixar claro qual é a sua expectativa e necessidade. Esperar que o outro adivinhe ou saiba por que, afinal, te conhece, tem histórias juntos, não vai acontecer.
Pela saúde do relacionamento e a sua saúde mental, não espere o movimento do outro. Deixe claro o que é importante para você, o que você precisa, assim como quando o outro faz algo bom, reconhecer e dizer que gosta daquilo. Desenvolver a comunicação é ponto essencial. É um treino diário.
A comunicação assertiva passa por você se conhecer, o que é negociável ou não para você, o que de fato importa. A clareza das suas expectativas, daquilo que importa e que está conectado com o outro. Cuidado com essa coisa de que está o tempo suficiente comigo para saber que é importante. A expectativa é a morte da harmonia dos relacionamentos em qualquer tempo. Estar atento às suas reações, ao seu corpo, aceitar que você vai ser machucado e vai machucar também. Não tem outro jeito. Não tem a maneira correta de fazer as coisas, tem a maneira que você dá conta de fazer.
Lidar com a opinião do outro, consciente das suas, de reconhecer e curar as suas feridas. E isso não é egoísmo. É dar conta da sua vida e das suas dores. Entender que se você ficar numa relação – amorosa, profissional, familiar etc. – vai ser frustrante para todos, você e o outro. Se você sair, vai frustrar e doer. Cada um precisa dar conta dessa frustração. Olha para você, a tristeza do olhar, a doença que aparece como sintoma. Pular no rio é ruim, dá frio, mas depois que está lá dentro, se acostuma. É conveniente para as pessoas não lerem os seus desencantos. Assim como parece mais fácil não percebermos nossos desencantos. Mas, de qualquer forma, dói. O caminho é colocar limites, deixar de repetir padrões aprendidos e agir de forma mais acolhedora e gentil consigo.
Na próxima semana vamos continuar conversando sobre relacionamentos e entender uma lei da básica da física, que toda ação traz uma reação. Fica comigo. E se você ainda não me segue no Instagram ou Facebook, aproveita e começa. Será uma alegria poder trocar ideias com você por lá.
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755