O Presente
Fátima Baroni Tonezer

Depressão: um drama que pode estar ao seu lado

calendar_month 20 de fevereiro de 2023
6 min de leitura

A depressão assusta pelo sofrimento e pelos números que vêm crescendo nos últimos anos. Podemos falar de uma epidemia, ou uma pandemia, segundo alguns pesquisadores, que de forma silenciosa vem se alastrando entre as pessoas. Se você der um “Google” ou se leu o meu artigo anterior, no qual citei os sintomas da depressão, já tem conhecimento do que é e quais são os principais sintomas. Por isso, hoje quero falar de sintomas e sinais nem sempre associados à doença.

Como a própria Organização Mundial da Saúde divulga, o mal do século, como é chamada, atinge atualmente 322 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são mais de 11 milhões de casos. Muitas pessoas já foram diagnosticadas, mas muitas sofrem caladas por desconhecerem as causas do sofrimento. São muitos sinais que geralmente não são associados à depressão ou estão presentes em outras alterações clínicas.

Sintomas ocultos da depressão

Um desses sinais é a falta de energia, “um cansaço que não passa” e a fadiga. Importante ressaltar que esse quadro não é causado somente pela depressão, pode ser provocado por problemas de sono, como a apneia do sono, hipotiroidismo, falta de vitaminas e alterações hormonais. Sendo assim, uma visita ao seu médico de confiança e exames clínicos são necessários. Contudo, identificando e tratando as alterações clínicas, continua cansada(o), sem energia? Atividades que fazia com prazer agora são cansativas e difíceis? Dormiu o fim de semana todo e ainda assim está cansado(a)? Pode ser sinal de depressão.

As alterações do sono são outros indicativos de depressão que podem passar de forma despercebida. O sono pode estar diminuído – insônia inicial (dificuldade de engatar o sono, o sono desaparece assim que se deita na cama), insônia intermediária (não tem dificuldade de iniciar o sono, mas acorda no meio da noite e demora a voltar a dormir) e a terminal (acorda mais cedo, muito antes do horário do despertador tocar). A insônia, principalmente a intermediária e a terminal, pode ser sinal de depressão. Ao tentar voltar a dormir, a mente é assaltada por pensamentos aleatórios, negativos, repetitivos ou pelo “vazio”. Os efeitos do despertar precoce aparecem durante o dia, com a irritabilidade, cansaço e sonolência. E se acumulam nos próximos dias, semanas, meses.

Outro sinal são as alterações de apetite. É comum durante um processo infeccioso ou a partir dos 65 anos a perda do apetite ou a sua diminuição. Mas, em outros momentos a diminuição do apetite ou a hiperfagia (aumento do apetite, com a busca por alimentos específicos, como massas e doces) pode ser percebida como sinal de alerta para um possível quadro depressivo.

Outro ponto a ser destacado é a dor no corpo; 80% das pessoas com fibromialgia têm quadros depressivos. Toda dor tem componente físico e emocional. Na depressão a sensibilidade à dor fica aumentada e a dor amplificada.

Com o tratamento da depressão ocorre a reativação de três importantes áreas: o prazer, a concentração e o controle natural da dor. O centro da dor no cérebro é muito próximo do centro de humor e mediado por algumas substâncias, principalmente a noradrenalina. A diminuição da noradrenalina está associada à depressão e à dor.

Mais um sinal é a perda do interesse por coisas que antes eram agradáveis de se fazer. Além das atividades estarem desinteressantes, há a diminuição da vontade. Vários fatores podem causar isso: o trabalho e os relacionamentos familiar ou afetivo, por exemplo. Na depressão tudo fica mais chato e difícil. Está em uma festa querendo estar em casa. Está em casa querendo sair. Cansando mais rápido das atividades que gostava de fazer, estar com os amigos que fazem coisas prazerosas não interessa mais. A pergunta é: melhora depois de dois ou três dias de descanso? Se não, fica o alerta.

Outro sinal é a dificuldade de foco. A sensação de que o raciocínio está lento, não consegue tomar decisões, demora para entender o que está lendo, tendo que reler várias vezes, falta concentração, esquecimento, insegurança para decidir assuntos corriqueiros que resolvia com rapidez e tranquilidade.

E, finalmente, tristeza, angústia e baixa autoestima. Sentimentos de tristeza sem razão aparente, um aperto no peito que incomoda, acordar de madrugada com a sensação difusa de falta de ar e mal-estar. Nos comparamos e chegamos à conclusão de que somos inferiores, incapazes. Não conseguimos ver as qualidades, as soluções. Nos sentimos irritados quase sempre, com e por quase tudo.

Esses sinais estão presentes para nos alertar de algo. É nosso corpo nos dando alertas de que algo não está bem. É importante prestar atenção na duração deles, se perdura por mais de duas semanas. Procurar ajuda especializada é fundamental, evitando a automedicação, um costume tão brasileiro, e ações paliativas, que podem, em muitos casos, levar a uma piora considerável.

Buscar ajuda é essencial. Conseguir ajuda nem sempre é fácil. Há uma sutil diferença entre buscar ajuda e encontrar um espaço de acolhimento. Contar com uma rede de apoio, que de fato saiba auxiliar e acolher.

Uma pessoa com depressão gostaria de ouvir “isso vai passar, não vai durar para sempre”, mas, muitas vezes, escuta: “procura algo para fazer, se ocupe que passa”. Uma pessoa deprimida tem receio, medo mesmo, de viver assim para sempre. Isso embota toda iniciativa, deixando-a travada e paralisada.

Outra coisa importante para dizer a alguém com depressão: “não é culpa sua”. O deprimido sente culpa e vergonha, e ouvir que isso é falta de Deus ou que quer chamar a atenção não ajuda a melhorar. Pelo contrário. A depressão já faz um estrago enorme, jogando a pessoa num looping descendente de medo, culpa e vergonha. Não piore a dor.

Depressão não é falta de vergonha, é funcionamento deficiente do cérebro.

Depressão tem tratamento. Nós, brasileiros, temos medo de tomar medicamentos controlados. Procure um médico psiquiatra que possa te acompanhar, quando for o caso, e siga as orientações dele. Porém, além do tratamento medicamentoso, existe a opção do tratamento comportamental, isto é, com as terapias cognitivos comportamentais. O tratamento exige força e persistência e ajuda você a caminhar para fora da dor e do sofrimento de forma segura e objetiva.

Ficou na dúvida, percebe alguns desses sinais em você ou em um familiar ou amigo? Procure ajuda. É importante obter ajuda num espaço de acolhimento, que possa olhar para o ser humano em sofrimento em sua totalidade.

Na dúvida, pergunte. Peça ajuda. E lembre-se: se tiver dúvidas, me chame. Meus contatos estão disponíveis no final do texto.

Ah! E por falar em final do texto, conta aí: como você anda se sentindo ultimamente? Irritada? Cansado? Você entende por quê? Não? Mas já percebeu que não tem ligação com a depressão. Na próxima semana vamos conversar sobre outro ladrão de tempo e energia que nos ronda.

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

 
Compartilhe esta notícia:

Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.
Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.