Atualmente, a maior reclamação, que vem de todos os lados, independentemente da condição socioeconômica, idade ou profissão, é a de que o tempo está passando rápido demais. “Ontem estávamos comemorando a virada do ano e agora janeiro já terminou”; “Tenho muitas coisas para fazer e não tenho tempo, o tempo está voando”, “Começamos na segunda-feira e quando piscamos já é sexta-feira”.
O que está acontecendo, afinal? Será que ocorreu alguma coisa com a rotação da Terra? Será que ela está girando mais rápido? Segundo astrônomos, físicos e cosmólogos: não! O tempo continua o mesmo. Então, o que mudou?
Essa reclamação contra o tempo é antiga. Há relatos dela datando de três séculos, na época do relógio de sol. O que mudou de lá para cá foram as invenções, as criações dos seres humanos, que surgiam com a promessa de facilitar nossa vida, deixando-nos com mais tempo livre para descansar e aproveitar a vida.
Imagina a dificuldade de preparar uma refeição a dois ou três séculos atrás… Hoje, além do fogão a gás, temos forno elétrico, micro-ondas, fartura de alimentos, comida congelada, entre outros. Isto nos deixou com tempo livre? Não. Pois, ao invés de usar o tempo que sobrou das atividades que as inovações nos deram para descansar e para lazer, usamos para trabalhar mais.
A internet disponibiliza informações ilimitadas na palma da mão, a distância de um clique. A internet é uma invenção maravilhosa e nos trouxe muitas possibilidades de melhorias para a vida como um todo. Por outro lado, exacerbou a ansiedade, levando-a a um grau extremo, a ponto de transformá-la em um transtorno.
Com a internet proliferam as redes sociais. Com as redes sociais, as comparações. E as comparações são gatilhos para a baixa autoestima, sentimento de incapacidade, insegurança, angústia e ansiedade.
Eu nunca sou boa o suficiente, pois sempre tem alguém melhor que eu, mais produtiva, com mais sucesso, emprego melhor, mais amigos, com a vida social perfeita, um corpo mais bonito…
Sempre há um assunto novo para conhecer, mais um curso para atualizar e complementar minha formação, há tantas novidades sendo vendidas com a mensagem de urgência e a promessa de que se não souber estarei irremediavelmente atrasada e fora do jogo que o tempo realmente ficou curto.
E a ansiedade, de emoção necessária para a evolução humana, transformou-se num monstro que nos paralisa.
Como assim a ansiedade é boa? Desde quando ajuda alguém?
A ansiedade na evolução humana tinha a função de nos manter alertas, percebendo os perigos e escolhendo como agir em cada situação. No perigo, a ansiedade disparava o alerta, nosso corpo se preparava para enfrentar e nos manter vivos, pois a sobrevivência era o que interessava. Logo, naquele tempo a ansiedade foi fator de sobrevivência e continuidade da espécie.
Hoje não lutamos mais com mamutes e nem brigamos por uma porção de comida, né?! Os alertas que sinalizam perigos estão muito mais em nossa mente do que no mundo ao redor. Porém, vivemos mais ansiosos e por mais tempo.
A ansiedade faz parte da evolução humana, mas, em excesso, nos adoece
Esclarecendo a frase acima: a ansiedade é uma reação normal diante de situações que podem provocar medo, dúvida ou expectativa. É considerada normal a ansiedade que se manifesta nas horas que antecedem uma entrevista de emprego, a publicação da lista dos aprovados num concurso, o nascimento de um filho, uma viagem a um país exótico, uma cirurgia delicada ou um revés econômico. Nesses casos, a ansiedade funciona como um sinal que prepara a pessoa para enfrentar o desafio e, mesmo que ele não seja superado, favorece sua adaptação às novas condições de vida.
Já o Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG), segundo o Manual de Classificação de Doenças Mentais (DSM-IV), é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono.
É importante registrar também que, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional aos acontecimentos geradores do transtorno, causa muito sofrimento e interfere na qualidade de vida e no desempenho familiar, social e profissional dos pacientes.
A ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo ações e reações.
Os transtornos de ansiedade são doenças relacionadas ao funcionamento do corpo e às experiências de vida. Pode sentir-se ansiosa(o) a maior parte do tempo sem nenhuma razão aparente; pode-se ter ansiedade às vezes, mas tão intensamente que a pessoa se sentirá imobilizada. A sensação de ansiedade pode ser tão desconfortável que, para evitá-la, as pessoas deixam de fazer coisas simples (como usar o elevador) por causa do desconforto que sentem.
E este é o ponto: a ansiedade nos faz viver olhando para o futuro, tentando adivinhar e prever o que vai acontecer, criando mil narrativas impossíveis para cada situação corriqueira que ocorre. Um olhar aleatório pode disparar muitas fantasias para explicá-lo, tendenciosamente trágicas.
O ansioso teme ser julgado, criticado, abandonado, rejeitado. A questão é que ao viver no futuro, perde o presente, o aqui e agora da vida real.
A ansiedade é uma doença do tempo que nos tira do tempo, ou seja, não vivemos o presente, já que estamos conectados ao futuro e tudo de pior que pode acontecer lá.
Quando deixa de cumprir tarefas básicas, da rotina diária, as consequências virão e neste momento o ansioso tem certeza de que ele estava certo – a famosa profecia autorrealizada –: o mundo é realmente perigoso, e ansiedade aumenta.
Se você se identifica ou conhece alguém que vive esse drama, não pode perder o próximo artigo. Vem comigo.
Até o próximo!

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755
@psicofatimabaroni