A autoestima, no seu âmago, fala do valor, da estima que temos por nós. Mas quando vamos para o mundo, o que vemos é um corte, raso, do conceito desta palavra. A fixação é na imagem. E a imagem que vejo refletida no espelho tem que ser a imagem editada do padrão imposto, principalmente para nós mulheres.
Hoje temos acompanhado o padrão que aos poucos vem sem surgindo para homens também. Mas não se trata disso somente ou de colocá-los na sobrecarga de forma Igualitária ao que vem acontecendo com as mulheres a centenas de anos. Esse padrão exige que a imagem refletida seja igual para todas: a mulher magra, jovem, com bocas e caras editadas por filtros e uma postura elegante.
MAS O QUE ACONTECE POR TRÁS DOS FILTROS?
Como essa mulher que existe detrás das máscaras sociais está se sentindo? O mercado de procedimentos que prometem beleza e juventude está entre os que mais cresce atualmente. E antes que alguém saia dizendo que sou contrária a tais procedimentos, já adianto, não sou!
Mas, sendo coerente com o meu trabalho e o meu estilo de vida, me ocupo com o interno, isto é, como esta pessoa ávida por procedimentos, que muitas vezes compromete todo o seu salário de meses por um procedimento, que é caro e dura poucas semanas, pois precisa de manutenção, de fato, está se sentindo?
Na história que dá título a esse artigo, a madrasta fazia muitas maldades com a Bela para manter seu status de mulher mais bonita do reino. Isto é comum em muitos contos. E esta é a questão, qual é a postura, quais os sentimentos internos que esta pessoa nutre dentro de si, para justificar seus atos?
Quando estou focada no externo e faço coisas para atender o padrão imposto, interiormente há uma revolta, um vazio, uma carência, uma dependência. E são estes sentimentos que despertam comportamentos cada vez mais vorazes, na busca incessante por procedimentos, por relacionamentos, que tem como objetivo intrínseco a validação e amor externo, preencher o vazio e a falta de amor-próprio.
A consequência dessa voracidade é o sofrimento, seja por não sentir o amor e a validação que busca, seja por entrar em relacionamentos tóxicos e abusivos. Pois na mente desta pessoa é o outro que vai atender seus anseios, vai completar seu vazio, vai entendê-la e amá-la como ela sonha e precisa.
Tem uma frase que eu ouvi, não me recordo a fonte, que diz o seguinte: “antes de fazer o que quero, é necessário fazer o que é preciso”. Isto significa que, no nosso caso aqui, antes de querer que o outro me ame, me respeite, eu preciso descobrir e fortalecer o amor por mim, me respeitar e aceitar. É disso que venho falando aqui na coluna, lá no meu consultório e nos meus grupos. Enquanto a relação que tenho comigo não for forte, enquanto eu não me respeito e não me aceito, a busca pela validação externa será infrutífera.
Por muitos anos estudei para ajudar pessoas a terem conversas difíceis com seus pares. Há algum tempo venho me especializando em ter essas conversas comigo mesma. Eu percebi em todos esses anos de formada em Psicologia e trabalhando com seres humanos, seja nas empresas, seja na clínica, ou em palestras, que se a relação que tenho comigo não for funcional e coerente, as conversas com o outro acabará sendo sempre de acusação ou reclamação.
SUA IMAGEM REAL
O que você conhece sobre si que a imagem em 2D não mostra no espelho? Qual é a sua personalidade, o que você gosta? O que te incomoda? Recentemente conversando com uma paciente, que assumiu o posto de supermãe, e cuida até hoje, mesmo com os filhos adultos, de atender as necessidades e gostos de cada um, fiz essa pergunta ela. Depois de alguns momentos de silêncio, ela confessou que não sabe qual é o seu prato preferido, ou cheiro, ou lugar…
A explicação é simples e clara, enquanto me empenho em agradar os outros, me perco de mim. Geralmente, meus pacientes têm uma pergunta em comum, apesar de histórias diferentes: como faço isso? Bem, a resposta, também simples e direta, é observando, se percebendo, se experimentando. A tarefa ou dica, como preferir, que vou deixar antes de concluir o artigo, é: comece a olhar-se com a curiosidade de uma criança e tenha coragem de dizer para si o que gosta, o que não gosta, reconhecendo suas qualidades e pontos fortes, assim como seus defeitos e pontos negativos. Jung já escrevia nos idos de 1900, que todos nós temos sombras.
Que tal você começar a se olhar no espelho da alma? Nos vemos na próxima semana? E siga @psicofatimabaroni para mais conteúdo como esse. Vamos conversar lá?
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755