Nasceu! É uma menina. Nasceu a princesinha da casa. A rainha do lar. Nasceu uma mulher culpada. Nasceu um ser humano que vai:
Crescer linda, magra, com extensão de cílios, seios grandes e firmes, cintura fina, barriga chapada e bumbum na nuca. Que vai passar horas na academia para manter o shape do padrão.
A dona de casa que vai cozinhar para a família todas as gostosuras, mas não vai comer porque não pode engordar. E tem a casa impecável, limpa, organizada, de capa de revista.
A profissional brilhante, com uma carreira exponencial, sempre atualizada, sempre estudando, aprendendo e ensinando.
E a esposa perfeita, sempre disponível para atender as necessidades do parceiro com um sorriso, compreensiva, alegre, disponível e disposta.
A amiga presente, que toma café com as amigas, escuta, acolhe a dor da outra, disponível e solícita.
A filha perfeita, que ajuda os pais, amorosa, respeitosa e obediente.
Essa é a vida que vemos diariamente nas redes sociais e nos é cobrada pelos padrões impostos pela nossa sociedade.
GENTE, VOCÊ DÁ CONTA?
Porque eu não dei. Enquanto estive neste lugar, deu tudo errado.
A mãe, amorosa e perfeita, gritava com os filhos.
A esposa, disponível e compreensiva, sentia raiva da ausência e da indisponibilidade do parceiro.
A filha amorosa que estava se virando com os traumas e vazios que ficou da infância.
As amigas? Como tomar café com elas se não tinha tempo nem para tomar café?
Ir para academia por horas? Enquanto estava na academia, a cabeça estava acelerada, pensando tudo o que tinha que fazer e se culpando porque deveria estar com os filhos, ou trabalhando. Quando ia treinar, claro.
Cuidar da alimentação como? Beliscando, engolindo a comida rápido, comendo de pé enquanto atendia um filho, ou respondia um e-mail, ou escutava uma aula EAD ou um podcast.
RESUMO DA ÓPERA!
Estar nesse lugar de atender as expectativas do padrão e da cultura me tornou adoecida, triste e amarga. Que corria atrás do impossível, da perfeição que não existe, que me adoecia. Até que ao perceber que não estava dando certo, parei, literalmente parei. Ou posso dizer, meu corpo me parou. Porque sinais ele emitiu, sintomas, dores musculares, insônia, irritabilidade… muitos, variados, gritando enquanto eu passivamente permanecia surda.
E estou reconstruindo ou construindo esse lugar que é meu. Renunciei à perfeição, para me cuidar, colocar limites em mim e nos outros, jogar fora o que não me serve. Com muitos gritando que me tornei egoísta, narcisista… Adoro esses pseudos diagnósticos. Tão midiáticos.
Não, não fiquei egoísta. Só decidi que ao invés de ser lembrada como uma pessoa boa, que ajudava todo mundo, e que agora “descansa em paz” no cemitério, escolhi viver.
E para viver, comecei a colocar limites. Parei de trabalhar com coisas que não me agradavam. Saí de grupos que me deixavam triste, com sensação de rejeição. Parei de tentar ser a mãe perfeita, que grita, para ser a mãe possível, que se cuida. Tem muita coisa para mudar ainda. Estou caminhando para um lugar onde eu sou importante também, não só útil. Por muitos anos, meus sonhos não foram ouvidos e validados. Então, ao invés de ficar ali acomodada no espaço que não me servia, estou construindo esse espaço.
Claro, haja crenças e traumas para lidar e desconstruir. A dependência emocional leva tempo, mas a boa notícia é que, apesar da dor, vale a pena. Se você se identifica com essa história, tão comum em mulheres, continua me acompanhando. Ainda não me segue no Instagram? @psicofatimabaroni. Vamos conversar sobre limites, conversas difíceis, relacionamentos e autoestima?
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755