Por mais que algumas pessoas não gostem ou não veem a necessidade de olhar e lidar com o nosso passado, a nossa infância, isto interfere na nossa vida atual e determina a repetição de muitos dos nossos comportamentos. Como uma neuropsicóloga que admiro diz, além da genética temos o ambiente modelando os nossos comportamentos e emoções, isto é, a forma como reagimos.
E é nas primeiras experiências de vida que vamos encontrar muitas das respostas para nossos comportamentos atuais.
COMO A NEGLIGÊNCIA EMOCIONAL NA INFÂNCIA INTERFERE NAS NOSSAS AÇÕES COMO ADULTOS?
Este é um tema delicado, ainda mais hoje, em tempos de livre demanda na infância, mas nem por isso perde a importância de ser discutido. Ela ocorre quando as necessidades emocionais de uma criança são consistentemente ignoradas, minimizadas ou desvalorizadas pelos cuidadores. Isso não significa apenas ausência de palavras carinhosas ou apoio emocional; pode incluir até mesmo situações em que os pais ou responsáveis estão fisicamente presentes, mas emocionalmente indisponíveis.
Vale lembrar que nossos pais e cuidadores não receberam esse apoio que permite que o indivíduo desenvolva a regulação emocional. Por isso gosto muito de uma frase de Sartre, filosofo e escritor francês, considerado um dos maiores pensadores do século XX e representante da filosofia existencialista, “o homem não é outra coisa senão o que ele faz de si mesmo”. Mas como a negligência pode acontecer na infância?
Embora essa experiência, muitas vezes, passe despercebida na infância, seus efeitos podem ser profundamente enraizados e influenciar nossas ações, pensamentos e relações na vida adulta. E o que é negligência emocional?
Negligência emocional não é necessariamente marcada por abusos físicos ou verbais, mas pela ausência de suporte emocional adequado. Podemos pensar alguns exemplos: pais que não validam os sentimentos da criança, repetindo frases como “isso não é nada”, “pare de chorar por besteira” ou até “vai passar, vem aqui que vou te dar um docinho”.
Na correria do dia a dia acabamos não tendo interesse em ouvir ou compreender os desejos e emoções da criança.
Temos também a expectativa que a criança seja emocionalmente autossuficiente antes da idade apropriada. Hoje, ao deixar a criança escolher a roupa, os alimentos e até o roteiro da viagem, não estamos sendo pais melhores, estamos sobrecarregando nossos filhos com uma reponsabilidade que eles não têm maturidade cognitiva para assumir. Esse tipo de negligência pode parecer pequeno ou inofensivo, mas transmite à criança a mensagem de que seus sentimentos não são importantes ou dignos de atenção.
OS IMPACTOS PSICOLÓGICOS NA INFÂNCIA
Quando uma criança cresce em um ambiente onde suas emoções são ignoradas, ela aprende a suprimir ou desconfiar de seus próprios sentimentos. E os principais impactos podem incluir: baixa autoestima, já que a criança internaliza a ideia de que não é digna de amor ou atenção; dificuldade em expressar emoções, pois sem um modelo de validação emocional, essas pessoas podem lutar para identificar ou comunicar o que sentem, e o medo de rejeição, pois a falta de suporte emocional pode levar a um desejo intenso de agradar os outros para evitar o abandono ou as críticas.
Na próxima semana vamos entender melhor como a negligência emocional deixa rastros no nosso comportamento adulto e pensar juntas algumas formas de superar essas consequências. E siga @psicofatimabaroni para mais conteúdos sobre autoestima e amor-próprio.
Até a próxima.
Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755