Este é assunto muito delicado. Mesmo assim, essencial. Mais fácil falar, e muito difícil de praticar. Quando entramos neste tema na terapia, uma das conversas difíceis, mas necessárias. Costumo ouvir que eu não sei o que aconteceu e como a pessoa se sentiu. Neste ponto, acolho a queixa, pois de fato não sei o que aconteceu, nem como ela se sentiu, mas digo que sei o que continuar mastigando essa coisa encruada, ressentindo a mágoa, está fazendo com a saúde física, emocional e mental. Os efeitos são visíveis no comportamento diário.
COMO PERDOAR?
Outra pergunta recorrente é a que passa por entender que perdoar não é desculpar o erro do outro. Essa é uma diferenciação fundamental. Não é sobre apagar o que aconteceu, nem tirar a culpa do outro pelas suas atitudes e palavras. Aquilo aconteceu e ponto. Perdoar não é sobre isso. Inclusive, perdoar não significa deixar de denunciar quando cabe medidas da lei.
Perdoar é entender que o erro foi do outro e apesar dos motivos dele, se era o que ele podia ou queria fazer naquele momento, já aconteceu e é dele. O outro vai se haver com os próprios erros.
Perdoar é uma decisão consciente que eu tomo de, entendendo o que aconteceu, como me afetou e me afeta, compreender que o tempo do fato está no passado, e me libertar do ressentimento e da dor. Escolher viver melhor cuidando de mim.
O perdão não é para o outro. Não é uma questão dele (o outro) merecer ou não. O perdão é um processo triplo. Eu sei que perdoar é difícil. Inclusive já ouvi muito que quem perdoa é Deus, não vou discutir isso. O objetivo aqui é alertar que, sem perdoar o que o outro fez, você continua carregando a dor dentro de você. É como se o que aconteceu fosse uma pedra. E você continuasse carregando a pedra quente e pesada dentro de você. Só você continuando sofrendo.
PERDOAR É DEVOLVER A PEDRA PARA QUEM A ATIROU!
E tomar a decisão de seguir livre. Pedir perdão se por alguma questão que foge do seu conhecimento ou não, por alguma atitude infantil, própria da infância, o outro se ofendeu e se deu direito de te atingir. E, finalmente, o mais difícil, por ser interno, se perdoar. Geralmente, de forma consciente ou não, acabamos acreditando que merecíamos aquilo, que somos imperfeitos e, portanto, a culpa é nossa. Principalmente na infância, fazemos algumas inferências com aquilo que ouvimos e assumimos a culpa por não ter nossas necessidades atendidas.
EU SÓ QUERO TER PAZ!
Essa sensação de viver em paz, leve, sem ruminação e cobranças internas é um dos benefícios do perdão, porque não é mais sobre o outro e suas ações, é sobre eu e minhas escolhas.
É preciso que eu me permita sentir paz. Fazendo uma analogia para a paz, é como viver numa casa bagunçada, com objetos velhos e quebrados, poeira, enfim, um caos. Para viver num ambiente calmo, cheiroso e confortável, será necessário entrar em cada cômodo. Nos armários e gavetas e consistentemente ir se desfazendo de roupas que não servem mais, livros que nunca foram lidos, objetos quebrados. Limpar, descartar, ordenar e deixar em cada cômodo aquilo que faz sentido e tem utilidade. Hoje, guardar a camiseta que você estava usando quando conheceu aquela pessoa ou seu time ganhou não faz o menor sentido. Só acumula poeira, ácaro e ocupa espaço, isto é, fica pesado.
Perdoar é fazer essa limpeza em fatos que aconteceram, emoções, memórias e sentimentos. Se libertar do ressentimento e das mágoas, optar por cuidar de si e viver o presente.
E lembre-se, perdoar não é esquecer. Isso é amnésia. Perdoar é deixar no passado e seguir livre para o seu futuro, sem dar espaço para que quem te magoou continue tendo acesso a você e te afetando.
Na próxima semana vamos continuar conversando! E se você ainda não me segue, @psicofatimabaroni. Vamos conversar lá?
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755