Eu me acostumei a ouvir que sou estressada, brava e controladora! Que eu devia relaxar e deixar de ser chata. Deixar as coisas acontecerem e não cobrar e “encher o saco” de todo mundo. O problema é que eu fui ensinada desde pequena que eu devia dar conta de tudo – leia-se aqui, dos pequenos detalhes. A fazer um checklist mental contínuo para provar meu valor e ser reconhecida. Do que estou falando?!
A EDUCAÇÃO IMPLICITA (INFORMAL)!
Desde que nascemos somos “preparados” para o mundo de forma diferente, de acordo com nosso gênero. Um exemplo bem comum e prático? As meninas são preparadas para cuidar dos outros e de tudo ao redor. Aprendem a fechar as pernas, não falar alto ou dizer palavrão, ajudar a mãe. E observando nossas mães ou aquela que cuida da casa, vamos aprendendo a olhar ao redor e perceber o que precisa ser feito. Inclusive sendo elogiadas quando fazemos, quando somos “boazinhas”.
Já os meninos vão observar o pai (ou motorista) como dirigir, como guiar um carro, não uma casa. O exemplo, mesmo simplório por ser resumido, é muito diferente do que acontece na realidade? E quem cuida da casa sabe que desempenhar essa tarefa é mais do que passar uma vassoura no chão, recolher brinquedos espalhados, colocar a roupa na máquina para lavar. E vai mais longe, e profundo, do que a roupa que você veste, o sorriso que você dá, o desenho da sobrancelha.
Eu aprendi, nós aprendemos, que para sobreviver é preciso estar atenta a todos os detalhes: lembrar os compromissos, seus, do marido, dos filhos, recolher a roupa, dobrar e guardar, recolher os sapatos, os brinquedos. Além disso, verificar se as cortinas e tapetes precisam ser lavados, trocados ou consertados. Levar os filhos ao médico e dar a medicação na hora certa. Participar da reunião da escola, conferir os armários e a geladeira para fazer as compras. Observar as roupas das crianças, se ainda servem ou já estão pequenas etc.
SER A MULHER MARAVILHA: MULTITAREFAS!
Quem convive com a mulher multitarefas, leia-se estressada, não enxerga esses detalhes porque ela faz. E aí fica fácil reclamar do mau humor dela. Já pensou se ela não fizer? O caos que a vida vira? Algumas ainda têm que ouvir, quando não aguentam e explodem: “Ah! mas você não pediu”, “você não me lembrou” e outras pérolas. Mas me conta, quem lembra a mulher? Quem pede para ela?
O Dr. Gabor Maté, médico e escritor húngaro-canadense, em uma entrevista, diz que as mulheres têm 80% das doenças autoimunes na sociedade. Doenças que atacam o sistema imunológico, como fibromialgia, artrite reumatoide, fadiga crônica e lúpus, entre outras. E pergunta, por quê?
Porque somos treinadas para sermos compulsoriamente preocupadas com o bem-estar dos outros, com as necessidades emocionais dos outros, ao invés das nossas próprias. Identificadas com o dever, o papel e a responsabilidade no mundo. É por isso que tendemos a suprimir a raiva saudável.
As mulheres acreditam que devem se preocupar com os outros, sentem que não podem decepcionar, devem ser pacificadoras, queridas. Essas crenças são fatais para a saúde da mulher e isto, segundo a observação dele e diversos estudos científicos, vem embutido na educação que recebemos, que nos colocam no papel “natural” de cuidadora. Afinal, né, mulher nasce com instinto materno e cuidadora nata. Será???
É aquela que cuida de todos os pequenos detalhes, que assume a responsabilidade e por isso mesmo se desgasta, se ressente, se sente exaurida e sem forças. Você percebe que a mulher multitarefas é exaltada na nossa sociedade? E se além de cuidadora, se encaixar no “padrão estético”, é festejada. Mas quem cuida dessa mulher?
Porque nesse lugar de cuidadora até ela se “larga”, isto é, nem ela se cuida, se prioriza. E quando tenta fazer alguma coisa, mínima, do que se entende por autocuidado, é taxada de egoísta e ela mesma se sente culpada. Afinal, deveria estar fazendo algo útil para o mundo! Sentir essa culpa nos corrói internamente, impedindo de nos conhecermos, de nos cuidarmos.
E quando chegamos na maioria dos consultórios médicos, somos olhadas pelo sintoma, tratadas nos sintomas. Muitas vezes, ouvimos que “é assim mesmo”, “coisa da idade”, “normal da menopausa” ou então que “é estresse”, o que só faz aumentar o desconforto e o abandono. Essas atitudes só reforçam a crença de que não precisamos de ninguém, do quanto estamos sozinhas.
Então, vim te contar que isso é mentira. Vamos continuar falando disso no próximo artigo. Nos vemos na próxima semana? E siga @psicofatimabaroni para mais conteúdo como esse. Vamos conversar lá?
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755