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Fátima Baroni Tonezer

Qual o preço da magreza? A ditadura da magreza e as consequências das dietas

calendar_month 10 de abril de 2023
7 min de leitura

A cultura da magreza impõe um padrão de corpo inatingível e insustentável. O modelo vendido pela mídia está em constante aperfeiçoamento, isto porque o objetivo é comercial, vendas de dietas e produtos de todos os tipos que prometem o corpo ideal sem esforço. E sendo bem realista, isto é balela. Sempre tem algo a mais para atingir; nunca está bom o suficiente. Mas como diz Chico Xavier: “Você é livre para fazer suas escolhas. Mas é prisioneiro das consequências”.

Manter o peso estável não passa somente pela comida. Em algumas pessoas o ganho de peso não tem a ver com comida, mas com o estresse, dificuldades no sono, sedentarismo, problemas metabólicos. E, apesar de pouco falado e divulgado por aqui , temos muitos casos de transtornos alimentares, no Brasil e no mundo.

Aos poucos esse assunto vem sendo abordado nas redes sociais, mas infelizmente não está chegando com a mesma velocidade nos consultórios de médicos e nutricionistas, nem nos acessos ao “tio Google”.

As causas dos transtornos alimentares são multifatoriais, que variam de predisposições genéticas, socioculturais a vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Como exemplos de alguns fatores que predispõem os transtornos podemos citar a história de transtorno alimentar ou transtorno do humor na família, relação familiar com comida, valorização do corpo magro, traços de personalidade. Neste caldo a dieta é o comportamento que geralmente vai anteceder a instalação de um transtorno alimentar. Isto é, a dieta de forma isolada não é causa suficiente para desencadear o problema, mas na presença de fatores de risco, como os citados acima, precipita o aparecimento.

QUANDO PARA EMAGRECER NÃO É SÓ EMAGRECER!

Antes de pensar em emagrecer, temos que nos ocupar com nossa saúde emocional. Como anda sua saúde emocional? Quanto nossa saúde mental interfere no nosso plano de emagrecimento? Para emagrecer, primeiro você aprende a lidar com seus sentimentos, sua história, seus traumas, é um processo de autoconhecimento. É um processo que, às vezes, pode ser doloroso, mas é o caminho para o resultado sustentável. Você pode emagrecer comendo de tudo, porque o que engorda não é o que você come, mas como, por que e quanto você come.

Sinais de pessoa com comer transtornado e/ou transtornos alimentares:

1.  Se descontrolam por alguma questão e exageram na comida;

2.  Detestam o próprio corpo, não gostam de fotos e fogem de espelhos;

3. Tem muita dificuldade para dizer não e colocar limites claros para o outro;

4. Cuidam de todo mundo, mas tem dificuldade de cuidar de si mesma;

5. Fazem o possível e até o impossível para agradar todo mundo;

6. Tem um senso de responsabilidade alta com o trabalho, família, amigos, com todos, menos consigo mesma;

7. É perfeccionista, extremamente crítica e exigente consigo mesma;

8. Sente-se incapaz, inferior, desinteressante para as outras pessoas;

9. Encontra na comida o conforto, o alívio para a dor e o desconforto.

Essas pessoas acreditam que podem fugir dos sentimentos desconfortáveis, do vazio existencial, alienando-se, enchendo-se de comida. Talvez pareça menos assustador agir assim do que encarar os problemas e seus sentimentos. E isto leva a ficar com dois problemas: a ansiedade e o comportamento autodestrutivo. A pessoa oscila entre a preocupação, isto é, fazer previsões do que vai acontecer no futuro. E a ruminação, ou seja, ficar fazendo revisão do que está acontecendo agora ou do que aconteceu antes para “entender”. A pessoa fica remoendo as coisas indefinidamente porque existe uma realidade que não consegue engolir. E gente, estar vivo é conviver com incertezas. E viver com incertezas é viver no mundo real.

QUAL A FUNÇÃO DAS REDES SOCIAIS NA IMAGEM CORPORAL DISFUNCIONAL?

A imagem corporal positiva, a aceitação corporal independentemente do peso, protege contra uma alimentação disfuncional e outros problemas de saúde mental, além de estar associado a melhores resultados de saúde física. Os julgamentos e a discriminação baseadas no peso corporal são frequentes e provocam consequências negativas para a saúde, relações sociais, educação, emprego e renda.

O julgamento em relação ao peso é uma face do ideal de aparência cultural que enfatiza e idealiza a magreza e estão envolvidos no desenvolvimento e manutenção do comportamento alimentar disfuncional.   

Os transtornos alimentares afetam pessoas, independentemente de idade, gênero, etnia, peso corporal, orientação sexual ou nível socioeconômico. Os distúrbios alimentares afetam as pessoas em qualquer forma e peso corporal. É através dos pensamentos, sentimentos expressos em atitudes e comportamentos que são definidos os transtornos alimentares.

Uma pessoa não pode ser julgada e avaliada como boa e adequada ou ruim e inadequada tendo como base simplesmente o seu peso e sua aparência. Estar acima do peso não significa defeito de caráter ou personalidade, e magreza não é sinônimo de felicidade.

Ser magra(o) não é sinônimo de saúde e estar acima do peso IDEAL também não expõe automaticamente a pessoa a problemas e doenças. Pessoas magras que não se alimentam corretamente, não realizam atividades físicas e mantêm hábitos não saudáveis, como fumar, beber, ingerir comidas ultra processadas com frequência, estão mais expostas a problemas de saúde do que as pessoas com sobrepeso que se cuidam, praticam esportes e ingerem alimentos e bebidas saudáveis de forma equilibrada.

A maior parte dos fatores que levam um indivíduo a ter ou não uma boa saúde está ligada aos hábitos adotados durante a vida. Dito isso, a conclusão é quase óbvia: você pode ser magra e ainda assim ter doenças, como diabetes, hipertensão, colesterol alto etc. Além disso, a magreza excessiva também gera diversos problemas e precisamos ficar atentos a esses sinais.

Você já parou e prestou atenção a quem você segue nas redes sociais? Como estas “pessoas” influenciam no seu conceito de si mesma(o) e no seu comer? O que aquilo que você vê tem de verdade? O que é ser saudável para você? Qual é o seu peso adequado para sua idade e altura? São muitas perguntas e, às vezes, encontrar as respostas que estejam de acordo com seus princípios e necessidades é difícil e provoca dor. Veja, nem todas as dicas de saúde, nem tudo que dizem que fazem, é saudável, é sustentável e é bom para todo mundo. Essa crença que “serei amada quando for perfeita” é a pior mentira que te contam e que você pode repetir para si mesma(o). 

A natureza não fez pessoas perfeitas, fez indivíduos que acertam e erram. Quantas pessoas perfeitas você conhece, de fato? 

Nos acostumamos a fazer comparações e esquecemos que o que está posto não é real, foi filtrado, melhorado. Ninguém, nem você, posta foto feia, desgrenhada, suja, a não ser para mostrar que venceu o percurso de uma trilha fantástica num lugar paradisíaco. E ainda assim, vai ter filtro.  

VOCÊ SABE QUANDO FOI QUE COMEÇOU A NÃO GOSTAR DO SEU CORPO?

O que exatamente você não gosta em você? A rejeição ao seu corpo, a sua forma e imagem corporal, atende aos interesses de quem? Você entende que o tamanho do seu corpo, a forma dele, não determina quem você é, nem determina se você merece ser amada(o), ter sucesso, ser respeitada(o)? Afinal, quem tem que gostar de você é você.

Você pode se empoderar, assumindo seu lugar, seu espaço, ocupando seu corpo. E aceitar-se não significa que você perde o direito de mudar aquilo que não lhe agrade.

Em tempos de internet fácil, reina a confusão e a desinformação. Se ficou interessada(o), na próxima semana vamos conversar sobre o que está por trás desses padrões e suas consequências. Você pode participar da coluna enviando suas dúvidas e perguntas. 

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

@psicofatimabaroni

 
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