Na última semana, falamos sobre a negligência emocional e como ela afeta psicologicamente nosso desenvolvimento. Às vezes, temos a impressão (falsa) de que ao deixarmos a criança livre para escolher tudo, adivinhar seus desejos e realizá-los, antes que ela perceba e sinta a necessidade é evitar sofrimento, é não traumatizar.
Uma dificuldade muito comum em nós, adultos, pais e mães, é a dificuldade de lidar com o choro da criança. Cada choro pede uma ação. Da dor física que precisa ser medicada e dor emocional que precisa ser acolhida.
Quando acolho o choro de frustração de meu filho(a), com presença e paciência, estou ensinando a criança a suportar que nem sempre terá tudo o que quer, na hora que quer e como quer.
PERCEBENDO OS RASTROS DA NEGLIGÊNCIA NA VIDA ADULTA
Isto leva às consequências na vida adulta, uma vez que os efeitos da negligência emocional são duradouros e podem se manifestar de várias formas na vida adulta. Alguns exemplos mais comuns: baixa autoestima e autocrítica constante. Adultos que enfrentaram negligência emocional na infância frequentemente se sentem inadequados e têm dificuldade em reconhecer seu próprio valor. Tem dificuldade de lidar com a própria frustração e carência.
Dificuldades em relações interpessoais, pois estas pessoas podem ter problemas para estabelecer limites saudáveis, temendo rejeição ou conflito. Também podem atrair relacionamentos desequilibrados, onde repetem padrões de carência ou submissão emocional. Dificuldade em reconhecer ou regular emoções. Muitos adultos que viveram negligência emocional relatam sentir um “vazio” ou desconexão consigo mesmos. Isso ocorre porque, na infância, não aprenderam a dar nome às suas emoções ou a lidar com elas de forma saudável.
A busca constante por aprovação externa, a necessidade de validação emocional não satisfeita na infância pode levar a comportamentos de agradar excessivamente os outros, muitas vezes em detrimento de si mesmo. E a resiliência emocional limitada, pois sem a experiência de apoio emocional adequado, lidar com situações desafiadoras pode ser especialmente difícil.
CAMINHOS PARA A SUPERAÇÃO
Embora as consequências da negligência emocional sejam significativas, é possível trabalhar para superá-las e construir um futuro mais saudável e equilibrado. Alguns passos importantes incluem: autoconhecimento, isto é, reconhecer como a negligência emocional afetou sua vida, que ela aconteceu de fato. Aqui entra uma dificuldade comum no “divã” terapêutico: a culpa de sentir-se assim e repetir “mas minha vida foi boa, eu não fui abusada nem agredida fisicamente, não faltou nada na minha infância”.
Pelo fato de não ter sofrido abuso sexual ou ter sido espancada, a pessoa sente que está sendo injusta, reclamando à toa. O abuso emocional ou verbal, a ausência de acolhimento afetivo, também afeta nosso desenvolvimento.
Outro ponto é o desenvolvimento de habilidade emocionais, isto é, aprender a identificar, reconhecer, nomear e validar as próprias emoções é essencial. Que nos leva a outro passo: construir relações saudáveis. Cercar-se de pessoas que ofereçam apoio e que respeitem seus limites é vital para reconhecer e reverter os padrões aprendidos na infância.
E aqui entra outro ponto crucial: desenvolver o amor-próprio, permitir-se errar, descansar e priorizar as próprias necessidades sem sentir culpa. Aprender a cuidar de si mesma é um ato de cura, e passa por ações simples como permitir-se tomar um banho relaxante, cozinhar e apreciar um prato que traz memorias afetivas, ler um livro que agrade emocionalmente e deixar-se não fazer nada, sentada ou deitada ou caminhando sem um destino útil, o “dolce far niente”, o conceito de ócio prazeroso e relaxante dos italianos.
E como última dica, aqui no artigo, fazer terapia, que ajuda no autoconhecimento, a ressignificar experiências passadas e aprender novos padrões emocionais.
Ao entender que a negligência emocional na infância deixa marcas profundas, mas não imutáveis, ao buscar compreensão, apoio e ferramentas adequadas, é possível superar os impactos dessa experiência e criar uma vida mais plena, onde suas emoções são reconhecidas, valorizadas e respeitadas, principalmente por você mesmo.
Na próxima semana vamos continuar conversando? E siga @psicofatimabaroni para mais conteúdos sobre autoestima e amor-próprio.
Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755