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Impacto da violência doméstica nas crianças: trauma e reprodução do ciclo

calendar_month 3 de julho de 2025
5 min de leitura

Em muitos lares, o silêncio que impera entre quatro paredes não é sinônimo de paz. Às vezes, ele grita. Grita nas entrelinhas de um olhar assustado, no choro contido no travesseiro de uma criança, no medo que não encontra palavras para se explicar.

A violência doméstica, frequentemente retratada como uma ferida aberta nas mulheres, é também um trauma silencioso que atinge em cheio aqueles que a assistem de perto: os filhos. Crianças que crescem em ambientes marcados por agressões físicas, verbais, morais ou psicológicas — mesmo que nunca tenham sido diretamente atingidas — também são vítimas. E essa vitimização, por muitas vezes invisível, cobra um preço alto.

Os reflexos emocionais na infância

Diversos estudos revelam que a exposição à violência doméstica durante a infância pode desencadear uma série de consequências emocionais e comportamentais. Crianças submetidas a esse ambiente vivem em constante estado de alerta. Desenvolvem medo, ansiedade, dificuldade de aprendizado, retraimento, agressividade e problemas de sono. Muitas, ainda pequenas, aprendem a esconder emoções, a se encolher diante de discussões e a duvidar do próprio valor.

Esse trauma, muitas vezes não nomeado, compromete a capacidade de confiar no outro e de se desenvolver com autonomia e segurança emocional. Quando o lar, espaço simbólico de proteção, se transforma em um território de medo, o mundo inteiro perde o sentido de abrigo.

A perpetuação do ciclo de violência

Não se trata apenas de sofrimento imediato. Crianças que presenciam a violência doméstica estão mais vulneráveis a reproduzi-la no futuro. Meninos, ao crescerem sob o exemplo de um pai agressor, podem assimilar que o uso da força é uma forma aceitável de resolver conflitos ou de exercer poder nas relações afetivas. Meninas, por sua vez, correm o risco de aceitar relações abusivas como um padrão de amor, muitas vezes normalizando o controle, o ciúme excessivo e até a agressão.

A infância não esquece. E se não houver um rompimento consciente desse ciclo, a violência continuará se reproduzindo de geração em geração, como uma herança amarga que ninguém deveria carregar.

Em casos mais graves, a Justiça pode suspender o convívio do agressor com os filhos ou até mesmo rever questões relacionadas à guarda, considerando sempre o melhor interesse da criança.

O enfrentamento da violência doméstica exige, portanto, uma atuação integrada. É nesse ponto que projetos como o NUMAPE demonstram sua importância. Ao oferecer orientação jurídica gratuita, escuta humanizada e articulação com outros órgãos da rede de proteção, o NUMAPE atua para interromper esse ciclo silencioso, devolvendo dignidade à mulher e segurança aos seus filhos.

Rompendo o silêncio, reconstruindo futuros

Romper com a violência é um gesto de coragem. Mas, mais do que isso, é um ato de amor por si, pelos filhos e por tudo que ainda pode ser vivido com liberdade, respeito e paz. Quando uma mulher se fortalece para sair de uma relação abusiva, ela não apenas se liberta: ela ensina aos filhos que ninguém merece viver com medo. Ela oferece, com seu exemplo, uma nova possibilidade de futuro.

Cada mulher que rompe o silêncio ajuda a reconstruir o sentido da palavra “lar”. E cada criança protegida desse ambiente tem a chance de crescer sem carregar nos ombros o peso de um passado que não escolheu.

A violência não é um destino imutável. Com apoio, informação e acolhimento devidos, é possível quebrar o ciclo e reescrever a própria história.

Richard Alves, estagiário de Direito do NUMAPE, graduando em Direito – Unioeste

QUEM SOMOS

O Numape é um projeto de extensão da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Marechal Cândido Rondon. Faz parte da Superintendência Geral da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), do Governo do Estado do Paraná.

O Numape promove o acolhimento jurídico de forma gratuita e sigilosa, assegurando a tutela de seus direitos e a desvinculação do agressor para mulheres em situação de violência doméstica dos municípios de Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, Nova Santa Rosa e Mercedes.

Em atuação desde 2019, o Numape realizou centenas de atendimentos jurídicos. O atendimento é realizado com uma escuta atenciosa e qualificada e todas as orientações cabíveis para cada caso são repassadas, sempre preservando a autonomia de decisão da mulher para dar seguimento nas fases processuais, que se desdobram geralmente em medidas protetivas de urgência, divórcio, dissolução de união estável, pensão e guarda dos/as filhos/as, entre outras ações. Além disso, promoveu dezenas de ações socioeducativas na comunidade em geral, alcançando inúmeras pessoas de diferentes faixas etárias e grupos sociais.

Entre em contato para saber mais sobre o serviço. O atendimento pode ser realizado pelo telefone celular e WhatsApp: (45) 99841-0892. Nos encontre também nas redes sociais. Estamos aqui por você. Até a próxima coluna!

 
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