O Presente
Osnei Alves

Lucratividade empresarial

calendar_month 29 de outubro de 2024
6 min de leitura

100% dos clientes são pessoas. 100% dos funcionários são pessoas. Se você não entende de pessoas, você não entende de negócios (Simon Sinek)

A grande utilidade do lucro é ser um indicador de resultado a ser seguido pelos gerentes da empresa. Sabendo que serão avaliados pelo lucro trazido pelas atividades que coordenam, os gerentes têm segurança em tomar decisões que o maximizem. Outras considerações podem, também com segurança perante os superiores, ser colocadas em segundo plano.

Além do lucro, as empresas seguem uma série de objetivos gerenciais não financeiros, como a participação de mercado, a criação de valor para o cliente, a atualização tecnológica, a qualidade, a motivação da equipe, a capacitação dos empregados e a reputação.

Em empresas pouco estruturadas, pode ocorrer de cada gerente precisar deduzir quais são os objetivos da área que administra. Essa é, no melhor dos casos, uma tarefa que consome uma grande parte da capacidade criativa e do tempo do gerente, que gera uma definição de objetivos questionável e pouco integrada aos objetivos das demais áreas.

No pior dos casos, esse esforço gera uma definição de objetivos inconsistentes, que levam a esforços difusos ou até a esforços que, na verdade, reduzem o valor da empresa. A tarefa de definir objetivos e indicadores gerenciais é difícil e exige uma carga de dedicação e informação que geralmente está além da capacidade individual dos gerentes. A solução é a orquestração central do sistema de objetivos e indicadores, para formar um conjunto coerente que, se atendido, forneça o melhor resultado possível.

Gerentes precisam que alguém lhes determine os objetivos. O lucro, em alguma de suas versões, é um instrumento excepcional, exaustivamente estudado e que gera um conjunto naturalmente completo, subdivisível e metodologicamente estável de objetivos financeiros. É possível calcular o lucro por nota fiscal de venda, portanto, por produto, cliente, dia e vendedor. Por ser calculado para todos os gerentes com o uso da mesma metodologia, é difícil que um deles fuja da avaliação por meio de manipulação. Desta forma, o lucro é um excepcional instrumento de definição de objetivos gerenciais e de cobrança de resultados, sendo amplamente utilizado na gestão da empresa e na determinação da remuneração variável e outros atributos da carreira dos gerentes.

Apesar de ser um indicador intuitivo de resultado, o lucro é um indicador parcial da riqueza dos proprietários. O lucro de uma empresa pode ser aumentado por medidas que reduzem o valor da empresa, como as citadas a seguir. Cada uma delas provoca um aumento do lucro a curto prazo e a sua redução a longo prazo. Embora aparentemente mais lucrativas, as empresas que assim procederem serão menos atraentes para seus sócios e valerão menos.

É relativamente fácil manipular o lucro. Um mecanismo clássico é a antecipação das vendas por meio de expedientes pouco edificantes, como a concessão de grandes descontos em véspera de vencimento de metas, faturamento de produtos inacabados para posterior substituição, pressão sobre os distribuidores para carregarem um estoque extra. Embora aumentem o lucro no curto prazo, estas medidas reduzem o valor da empresa.

Outra forma é cortar despesas que, de fato, são investimentos, como as de pesquisa e desenvolvimento, propaganda institucional, treinamento, planejamento e desenvolvimento de mercado. O impacto é um lucro momentâneo, seguido de um longo período de dificuldades.

Outra forma de aumentar o risco do negócio e aproveitar um aumento é voltar-se a um mercado ou a uma tecnologia instáveis, porém, atualmente prósperos. Como poucas empresas sérias assumiriam um risco destes, há poucos competidores e o lucro aumenta. Nesse sentido, o melhor exemplo foi a sanha de ganhos fáceis de curto prazo que tomou conta do mercado financeiro até o estouro da bolha de 2006.

O lucro é importante para que as decisões dos gerentes sejam orientadas em direção à maximização do valor da empresa, mas ele é insuficiente para expressar o objetivo final dos investidores. Este objetivo é o valor da empresa, que expressa o patrimônio que os investidores possuem.

Sobre o objetivo financeiro dos acionistas, é possível afirmar que quem tem ações em bolsa está interessado no preço que elas têm e terão. Nesse sentido, se o acionista imaginar que a combinação de aumento de preço e proventos não trará um ganho compatível ao do investimento em outras ações ou em outros tipos e ativos, ele vende a ação e procura outra. Para ele, os clientes, a tecnologia, os recursos materiais, as pessoas e até o lucro são apenas meios para atingir o fim. Meio importante, mas apenas isso. O fim é o preço da ação e o patrimônio do investidor.

O preço da ação é o resultado da negociação no mercado das ações. No caso do investidor típico, estes interesses são exclusivamente econômicos: a valorização do capital investido. Esses acionistas só compram ações porque acreditam que receberão suficientemente mais do que pagaram por elas. Além dos proventos recebidos, imaginam poder vender suas ações mais caro do que as compraram, visto que terá aumentado a futura geração de caixa da companhia, portanto, seu potencial de distribuir dividendos.

Se realmente distribuirão ou reinvestirão este caixa gerado é uma decisão a ser tomada no futuro, à luz das oportunidades de, então, e garantidamente no melhor interesse dos acionistas que, em última instância, tomam esta decisão.

O importante não é tanto a distribuição efetiva, mas o potencial de fazê-lo. Sendo potencialmente distribuído, o caixa gerado e por gerar é o que interessa ao acionista. É a capacidade de geração de caixa excedente que o acionista tem que projetar para tomar a decisão de a que preço comprar ou vender uma ação. É a capacidade de geração de caixa que os administradores tentam projetar quando avaliam um projeto no qual investirão os recursos não distribuídos aos acionistas.

A diferença entre as abordagens do lucro e do valor não se dá segundo o fluxo de caixa, mas no fato dele refletir o futuro. O lucro contábil e suas variantes tiram sua força da solidez metodológica com que são apurados e de refletirem uma realidade já ocorrida, portanto, sacramentada. Entretanto, não podem refletir o interesse real dos investidores, que está naquilo que ainda acontecerá.

Já o valor, ao refletir o futuro, é a expressão do objetivo financeiro da empresa. Considera, no cálculo do valor presente dos fluxos de caixa futuros, o valor do dinheiro no tempo, ou seja, que é preferível um fluxo de caixa positivo mais cedo do que mais tarde, posto serem transformáveis um no outro por meio de uma taxa de juros. Considera, também, o risco associado ao fluxo de caixa gerado, com maior redução do valor para investimentos mais arriscados.

A utilização do valor enquanto objetivo financeiro é óbvia no caso das grandes empresas de capital e controle aberto, mas e as empresas controladas por um punhado de acionistas, muitas das quais pequenas? Para estas empresas, o valor de uma ação (quando elas têm ações) é, no melhor dos casos, um conceito abstrato a ser materializado apenas no caso de uma eventual venda.

Quem é Osnei Francisco Alves

Osnei Francisco Alves é especialista na área de gestão, estratégia empresarial, marketing, comunicação, tecnologia, educação, entre outras. Escritor de livros e artigos científicos. Atualmente, gerente executivo do Senac em Marechal Cândido Rondon.

consultorosnei@gmail.com

Facebook e Instagram: Osnei Francisco Alves

 
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