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As peripécias do vice

calendar_month 21 de fevereiro de 2025
11 min de leitura

Henrique Mecabô é um projeto em miniatura de Nikolas Ferreira? Popularidade do vice no Show Rural e do deputado mineiro no caso do Pix aprofunda o abismo entre políticos digitais e analógicos

Mecabô com Nikolas Ferreira: separados por 11 dias no parto, eles podem ser
considerados irmãos siameses na política: conectados pelas telas multicoloridas

Nikolas Ferreira é um deputado federal bolsonarista raiz. Dia desses, em um vídeo postado no Instagram, ele surge bocejante, sonolento, indisposto De repente desperta forte:

Preciso trabalhar para pagar as contas da Janja e do Lula!

É a típica tirada que gera likes, engajamento, compartilhamentos, por espirituosa, dotada de timing e bem humorada.

Evidente que pode surgir um daqueles sarcásticos comentaristas de post
para escrever:

Se você tá preocupado porque precisa pagar as contas da Janja e do Lula, imagina eu que preciso pagar as contas da Janja, do Lula e as suas, deputado!

Não deixa de ter razão, a Câmara dos Deputados devora R$ 1,5 bilhão por ano para pagar super salários e mega-estruturas de toda sorte de privilégios dos parlamentares e suas infinitas equipes. E alguém precisa pagar essa conta.

Mas não é essa a questão. A geração Nikolas, mesmo que composta também de oportunistas e vendedores de fumaça como Pablo Marçal, sabe “mexer o doce”. Basta dizer que o vídeo do jovem deputado sobre a trapalhada do Pix gerou mais de 300 milhões de visualizações, e certamente contribuiu na recente piora dos índices de aprovação do inquilino do Planalto.

NIKOLAS COVER?

Henrique Mecabô, o vice de Renato Silva, é um projeto de Nikolas em miniatura? Não. Mecabô segue roteiro próprio, embora guarde muitas semelhanças com o deputado mineiro, começando pela faixa etária: 11 dias separam os nascimentos de Nikolas e Mecabô. Ambos vieram ao mundo em maio de 1996.

Para além de provar que é possível trafegar de sapatênis e meias ornadas de
bichinhos no ambiente de roça, Mecabô navegou pelo Show Rural com objetivo claro, interagir nas telas com um de seus redutos eleitorais: o agro. Alguns ainda
não perceberam, mas o agricultor, mesmo aquele de cabelos prateados, alimenta perfis em redes sociais.

Então o vice foi pra cima, no sentido literal. Subiu em máquinas gigantes, saiu de dentro de um pneu enorme, apareceu repentinamente no meio de um milharal e surgiu “alimentando” uma “capivara humana”. Alimentando-se também, lógico, da polarização política em um público notadamente hostil à turma do boné
vermelho.

Para além das acrobacias, o vice traz um roteiro bem escrito por ele próprio, com argumentos fundamentados na mão invisível do mercado. Mecabô é o roteirista e o editor de vídeo. Aqui surge um abismo intransponível a separar políticos digitais, como ele e Nikolas, dos tradicionais políticos analógicos.

PITACO DO PITOCO

Não é possível imaginar a geração do prefeito Renato Silva ou de seu 1º ministro Folador fazendo acrobacias no Show Rural para logo depois sentar-se ao chão editando vídeo no celular para colher instantaneamente milhares de likes e quase 50 mil visualizações – como foi o caso de alguns posts do Mecabô na feira.

Trata-se de espécies diferentes de sapiens. Para o bem ou para o mal, é essa nova geração que vai comandar o planeta doravante. No contraponto a isso, alguém pode dizer: um velho analógico acaba de ser eleito presidente dos EUA. Sim, mas nem todos os “velhos analógicos” dispõem de um Elon Musk para cuidar das “patranhas” digitais.

Acrobacias do vice no Show Rural: roteiro e edição próprios, engajamento e posts com dezenas de milhares de visualizações

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Renato e seus Blue Caps

Entre bonés vermelhos e azuis, “caps” tomaram o notíciário na semana do chapéu

Os bonés estão de volta. Dá para dizer que começaram azuis (blues) e terminaram vermelhos (reds).

As coisas deram muito errado no Palácio do Planalto quando algum “jênio” da raça colocou a mão no vespeiro do pix. Então caiu o cara da comunicação, que não tinha muito a ver com o peixe, em seu lugar nomearam um marqueteiro.

Uma das primeiras ações do recém-nomeado foi colocar bonés azuis nos ministros e deputados governistas cutucando os apaixonados pelos bonés vermelhos do Trump: “O Brasil é dos Brasileiros”. Não se sabe quantos votos a ação rendeu. Pelo DataFolha mais recente, muito pouco.

Trazendo a prosa para Cascavel, vale dizer que o noticiário dos bonés rendeu muito na terra do chapéu, o Show Rural. A foto do prefeito Renato Silva ao lado de políticos do PT com bonés vermelhos do MST gerou reações histéricas. Duas leituras distintas podem ser extraídas do episódio:

Opção 1 – Renato engabelou os patriotas colocando o 22 no santinho, afinal ele não é tão
bolsonarista assim como tentou fazer crer. Na campanha vestiu um figurino verde e amarelo, interpretando um personagem a mando de um outro ator com mais talento para o papel, Leonaldo Paranhos.

Opção 2 – Renato é um homem de diálogo, transita bem nos diversos setores da sociedade, entende-se como prefeito de todos, não somente daqueles que votaram nele. Imperfeito como todos nós, cultiva ressentimentos por décadas, fato que não o impede de conversar com seus antagonistas.

Qualquer que seja sua opção, algo parece gerar menos dúvidas entre aqueles que olham os fatos a prudente distância, longe do calor da polarização: a ponderação, o equilíbrio, o respeito e o diálogo, valores outrora considerados virtuosos, passaram a ser entendidos como fraqueza.

Forte é valentão do zap, o sujeito que se julga tão melhor que não se mistura com os “seres inferiores que pensam diferente”. Forte é quem grita mais alto, mesmo com a contradição em presente na frase indelével: “quem grita não quer ser ouvido”.

Renato e seu Blue Caps (bonés azuis na tradução literal) fez sucesso entre os haters nas redes em outra versão: Renato e seus Red Caps.

Glossário: Renato e seus Blue Caps é a banda em atividade mais antiga do mundo, segundo seus integrantes. O grupo foi formado em 1959 e se notabilizou por versões de canções internacionais.

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Milano no Norte, Dabol no Incra

Empresários tateiam terrenos já testados e novas fronteiras para consolidar empreendimentos. Medianeirense confirma perda de competitividade de Cascavel para Foz em razão da sobrecarga na BR 277

Cavalli no Pitocast: Milano agregou um centro de saúde na “cabeceira” da
região Norte. João Dall Oglio, da Dabol, olhou para o skyline de Cascavel e acreditou que poderia fazer diferente

Um empreendimento exposto ao público de massa, movimento, gente. O outro a relativa tranquilidade da região conhecida como Incra, um recorte nobre do bairro Neva. Ambos entrevistados no Pitocast em fevereiro: Tiago Cavalli, do Milano Open Mall, e João Pedro
Dall Oglio, da Dabol Engenharia.

Cavalli, na boa parceria com o cunhado Glauber Giacobo, edificou e administra o Milano na porção Norte do município, quase na “fronteira” que a rodovia 467 faz com a região do bairro São Cristovão.

“Trabalhamos no conceito de descentralização e o melhor lugar para aplicar essa base é a região Norte e seus 150 mil moradores”, afirma Cavalli.

E a aposta tem fundamento. Entendendo o público de cada empreendimento, o Milano atraiu um polo de saúde, que inclui dentista provido do único raio X odontológico da área, especialidades raras por lá, como a clínica de ortopedia do médico Adilson Leczko e a Umuprev, empresa que diponibiliza 25 médicos ali e atende 40 pacientes por hora.

A operadora de saúde acertou em cheio ao optar pelo Milano, e já soma mais de 10 mil associados na região Norte de Cascavel, segundo Cavalli.

“O segredo é um bom mix de 20 salas sem concorrentes entre si. Vale destacar a gastronomia, que vai do tradicional espetinho até o Marquês”, destacou o empreendedor no Pitocast, o podcast do Pitoco, citando também os milhares de ítens ofertados pela Embalagens Lupatini e o centro de estética.

DOS MÓVEIS AOS IMÓVEIS

Os Dall Oglio (assim mesmo, separado), de Medianeira, carregam o DNA empreendor do Meio Oeste paranaense capaz de gerar ali, entre Cascavel e Foz, um município promissor a ponto de sediar grandes players nacionais, como a cooperativa Lar, Sicredi Vanguarda PR/SP/RJ e Frimesa.

A esse trio pode-se perfeitamente acrescentar a Dabol, indústria notabilizada por mobiliar charmosos hotéis cinco estrelas do eixo Rio/São Paulo.

O braço incorporador do grupo está aos cuidados da segunda geração da família, na pessoa do empresário João Dall Oglio. Entrevistado no Pitocast, ele descreveu a trajetória de uma década meia da Dabol Engenharia.

Aqui, alguns trechos da prosa:

Pitocast – Como se distinguir na multidão aqui em Cascavel, em meio a tanta concorrência?

João Dall Oglio – Com projetos arrojados, sofisticados, acima de tudo com qualidade na execução. Estreamos em Cascavel no Country seguindo a risca essas premissas.

O que você viu que eventualmente o mercado ainda não havia percebido?

Observando o skyline da cidade percebemos edifícios muito parecidos uns com os outros, projetos de sucesso replicados, repetidos. Entramos olhando tendências alternativas, designers diferenciados, fachadas mais elaboradas…

Já que as tendências vieram para a conversa, e no “recheio”, o que interessa ao consumidor final?

A palavra conforto pode ter vários significados, o térmico, o acústico, a iluminação natural, posição do sol, privacidade. Cuidamos muito desses aspectos, levamos muito a sério “detalhes” como o isolamento acústico.

Novos lançamentos à vista?

Estamos estudando locais. Acertamos nos empreendimentos anteriores ao escolher áreas nobres como o alto do Incra e a região do Country. Mais que isso, já avisamos nossos clientes do edifício em execução no Incra que vamos antecipar a entrega em quase um ano.

Certa ocasião, o agora presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, alertou lideranças cascavelenses para a urgência de concluir a duplicação a 277 entre Matelândia e Cascavel. E citou Medianeira ampliando interações econômicas com a fronteira por razões logísticas. Como morador de Medianeira e negócios aqui, você percebe esse fenômeno?

Confirmado! Para quem mora em Medianeira e imediações, a escolha para um restaurante diferente, um passeio, ou questão de saúde, acaba sendo Foz do Iguaçu. É praticamente a mesma distância de Cascavel, mas com pistas duplicadas. Faço o caminho para Cascavel toda semana. Qualquer horário que escolher, estará sempre muito movimentado, com o fluxo lento e muitos caminhões.

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Seara, Aurora, BRF e Frimesa

Quarta maior empresa do setor de suínos e derivados no país, Frimesa prevê alta de 8,5% em receitas este ano, chegando em R$ 7,1 bi, para depois mais que dobrar o faturamento até 2032

Elias Zydek, o comandante da Frimesa, põe o Oeste do Paraná na mesma linha das
gigantes Seara, Aurora e BRF

A China liderada pelo sucessor de Mao, Deng Xiaoping, se agigantava nos anos 1980/90 crescendo a uma média de 7,5% ao ano, um índice inimaginável até então. As pessoas começaram a ganhar dinheiro. “Enriquecer é glorioso”, disse Xiaoping para assombro das potências ocidentais que até então enxergavam os mandarins chineses reféns de dogmas marxistas.

7,5% ao ano foi o crescimento da Frimesa em 2024, com perspectiva de crescer 8,5% em 2025 com faturamento estimado em R$ 7,16 milhões. Crescimento chinês!

Criada no final da década de 1970, no mesmo período em que Xiaoping assumiu o leme do outro lado do planeta, a Frimesa exibe um DNA legitimamente oestino.

A propósito, Xi Jinping, sucessor do Xiaoping, é cliente da Frimesa, que surgiu da união de forças das cooperativas C.Vale, Copacol, Lar e Copagril. Mais recentemente
recebeu a adesão também da Primato. A intercooperação explica a firmesa da Frimesa.

Foi nessa balada que a agroindústria sediada em Medianeira inaugurou, dois anos atrás, aquela que será a maior planta frigorífica de suínos da América Latina, em Assis Chateaubriand. “Até 2026, nós concluiremos a primeira fase, que é de 7,5 mil suínos por dia.

Até 2032 implementaremos a segunda fase”, disse o presidente da Frimesa, Elias
Zydek, ao portal AGFeed. Em plena operação, a nova planta vai elevar o abate total da
Frimesa para 23 mil cabeças em 2032, elevando também o faturamento da para R$ 15 bilhões.

“ENRIQUECER É GLORIOSO”

O vigor e a saúde financeira da Frimesa distribui riquezas para muita gente. São 2,2 mil produtores de leite e 1.150 criadores de suínos na cadeia da indústria, além de mais de
13 mil carteiras de trabalho assinadas.

É a maior empresa de abate e processamento de suínos do Paraná e uma das maiores do Brasil em recebimento de leite, além de uma invejável capilaridade de 50 mil pontos varejistas ofertando seus produtos em todo o território nacional.

Aparecer na mesma linha, como no título dessa reportagem, com gigantes do porte deuma Seara, Aurora e BRF, no ranking que posiciona a Frimesa no top 4 do Brasil, não é para qualquer CNPJ.

Portanto, quando você for ao supermercado e ver na gôndol produto da Frimesa, compre. É feito aqui, por gente daqui. E o faturamento bilionário da agroindustria regional distribui riquezas para dezenas de milhares de oestinos. Vale repetir o que disse Xiaoping: “enriquecer é glorioso”.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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