Cascavel precisa definir ainda neste mês quem banca o projeto do novo arco rodoviário e por onde a obra começa sob pena de perder investimento milionário crucial para a logística da cidade

Silva na plenária “nortista” da Codesc: debate incontornável e urgente.

O anel rodoviário de Cascavel é uma obra incompleta e reveladora do estágio de desenvolvimento do município – inclusive no âmbito de força política – se comparada com o estágio alcançado em outras regiões, como a Metropolitana de Curitiba, Londrina ou Maringá. O município tem pronto apenas um segmento do anel, a oeste, com pistas duplicadas, produzindo uma conexão fluída para os estados da região Sul ou para a fronteira, e no sentido contrário para o Norte do país.
Porém, a incompletude se manifesta no sentido da 277 para Curitiba. O traçado do Contorno Norte, já desenhado e à disposição do projeto, faz uma conexão em arco da BR 277 no entroncamento com a 163 até a saída para a capital paranaense, na outra ponta do perímetro urbano, após a Ferroeste.
O arco nortista vasculariza uma região com outras ligações para o Norte e Centro-Oeste do Paraná, como as rodovias 369, 180 e 485. No entanto, antes de vislumbrar essa perspectiva, que parece óbvia, lideranças da cidade terão que vencer dois pontos pulsantes da pauta:
1) Por onde retomar o anel, contorno Norte ou Sul?
2) Quem paga o projeto executivo, Prefeitura ou Itaipu?
Há setas contraditórias no item 1, apontando para direções diferentes. A plenária realizada no último dia 7 de março pelo Conselho de Desenvolvimento Sustentável de Cascavel (Codesc), sigla que congrega mais de 70 entidades, apontou a seta para o Norte.
Mas há quem defenda priorizar o arco Sul, rodovia que sairia do acesso para Curitiba da 277, contornando a região Sul da cidade nas “costas” de bairros como Presidente, Nova
Itália, Cascavel Velho, Santa Felicidade e outros, conectando ao entroncamento com a BR 163.
CRITÉRIO TÉCNICO
O balizador na plenária da Codesc trouxe um rico acervo de números, incluindo contagem de tráfego e fluxos que apontam para o arco norte. Esse entendimento é compartilhado por lideranças como o presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, engenheiro que já comandou o Instituto de Planejamento de Cascavel.
O líder empresarial nortista não vê as opções como excludentes entre si. Mas defende que dados técnicos, e não interesses políticos ou do mercado imobiliário, norteiem uma linha de tempo em que ambas as obras podem ser contempladas.
O item 2 da pauta pede uma decisão assertiva do Paço Municipal. Quem paga o projeto executivo? Itaipu ou Prefeitura? Se for a binacional, para quando, com que orientação? Lideranças do Codesc entendem que o prefeito Renato Silva precisa entrar na conversa e dar direção. E, se for o caso, “assinar o cheque”.
O problema incontornável dos contornos é um só: o calendário. O projeto pode levar 12
meses para ficar pronto. Se não sair até abril de 2026, o cofre do Palácio Iguaçu (que sinalizou bancar a obra com dinheiro da venda da Copel) estará lacrado pela legislação eleitoral.
PITACO DO PITOCO
A Guerra Civil Americana na segunda metade do século XVII confrontou norte e sul. Ceifou pelo menos 600 mil vidas a um custo astronômico, deixando feridas que sangram até hoje.
Cascavel pode contornar uma “guerra” política entre nortistas e sulistas. Até porque guerras não produzem vencedores, somente perdedores.
Dialogar é preciso, e o prefeito Renato Silva tem que tomar a dianteira e assumir a liderança do processo. Incontornável dizer que o contorno é para ontem.

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Arya põe a régua em outro patamar
Lançamento de condomínio na região do Tropical inclui projetista de segurança que atuou na Embaixada dos EUA e paisagista de renome nacional

Quem conheceu a antiga estrada de chão para Toledo, afundada entre barrancos por décadas de uso, e que recebeu a primeira ligação telegráfica da região com Porto Mendes, não poderia imaginar em que ela se transformou após receber o
nome de rua Guaíra e os loteamentos da Bella Casa & Okada.
A jóia da coroa, ou a cereja do bolo, ainda estava para chegar. A apresentação do condomínio Arya aconteceu na última terça-feira (07). E põe a régua que mede qualitativamente esse tipo de empreendimento em outro patamar.
A empresa pesquisou o mercado e chegou a uma informação zero surpresa: oito em cada dez potenciais compradores de produtos assim colocam a segurança como ponto fulcral.
O Arya foi buscar em São Paulo o analista criminal e gestor internacional de segurança pela Universidade de Madri (Espanha), Adalberto Santos.
A empresa dele tocou os projetos de segurança em mais de 500 condomínios de alto padrão Brasil e mundo afora. O especialista atuou no projeto de segurança da Vila Olimpica nos Jogos Olímpicos sediados pelo Brasil em 2016.
“Atuamos também no projeto de segurança da Embaixada dos EUA no Brasil, quando o então presidente George Bush determinou a revisão dos procedimentos em todas as embaixadas após o atentado terrorista que derrubou as torres gêmeas naquele 11 de setembro”, disse Santos.
FORÇA VERDE
Outro tom que ganhou força na paleta de cores dos potenciais moradores em condomínios é o verde. Em outros tempos, áreas próximas a fundo de vales ou reservas eram rejeitadas, “por ser perto do mato que esconde bandido”.
Hoje não é mais mato, é bosque. As pessoas querem conviver com o verde. A tendência foi captada pelos idealizadores do Arya. E o investimento é pesado na área.
A Bella Casa & Okada contratou o paisagista e botânico Ricardo Cardim, mestre pela USP, premiado pela Unesco. Ele criou a “Floresta de Bolso”, técnica de restauração de florestas
nativas no meio urbano e rural.
Sua missão no Arya é reconstituir a flora local com autonomia ilimitada para mostrar porque está entre os paisagistas mais premiados do país.
SEM GAMBIARRA
O Arya está projetado também para eliminar os traços de poluição visual típica de adensamentos urbanos saturados. Todo o cabeamento e fiação elétrica será subterrânea. Projetos assim são raros mesmo em condomínios de alto padrão em razão do custo. “É oito vezes mais caro enterrar a fiação que o método aéreo tradicional”, disse Fernando Garcia, da Bella Casa & Okada, na apresentação do projeto para mais de 600 corretores
de imóveis.
Ainda no campo da energia, ele destacou a usina fotovoltaica própria, que irá enfrentar o custo fixo da fatura laranja nas amplas comodidades ofertadas.
Associada à produção própria de energia limpa e renovável, o Arya dispõe de poço artesiano. Somadas as iniciativas, da água e da energia, espera-se relevante economia na taxa de condomínio a ser paga pelos moradores.
O condomínio oferece também eletroposto para carros elétricos, loja de conveniência para produtos básicos e ambientes especialmente preparados para receber encomendas como as do Ifood.


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Região Oeste já “comeu bola” em duas duplicações essenciais
Entenda como o Oeste perdeu duas obras logísticas importantes, está prestes a perder uma terceira, e por que Cascavel como cidade polo é o município que mais sente os impactos

A Fiep está desenvolvendo uma ferramenta para evitar novas surpresas no conturbado histórico de concessões de rodovias no Paraná.
É o Observatório das Concessões, que irá georeferenciar todas as obras do contrato, acompanhar o cronograma de execução, colocando lupas nas atas, aditivos ou qualquer movimentação suspeita.
O detalhamento da iniciativa foi divulgado na entrevista concedida pelo presidente da entidade, Edson José de Vasconcelos, no Pitocast, o podcast do Pitoco, gravado no último dia 7 de março.
A ausência de uma ferramenta desta natureza, disponibilizada em tempo real para imprensa e para a sociedade, permitiu duas “tungas” históricas, com severas consequências para o Oeste do Paraná.
Uma delas aconteceu em 29 de julho de 2004, no governo Requião, quando o Palácio Iguaçu assinou aditivo desobrigando a então concessionária EcoCataratas de concluir a duplicação da BR 277 entre Foz do Iguaçu e Cascavel. A outra é mais recente, no dia da Proclamação da República, em 2015, a duplicação da rodovia 369 entre Cascavel e Campo Mourão “anoiteceu no contrato”, mas amanheceu em outra região, no Norte do Paraná,
base eleitoral do então governador Beto Richa.
“Perdemos a duplicação da 369 de Cascavel a Campo Mourão no dia 15 de novembro de 2015. A obra foi para Nova Londrina e Paranavai. Esse fato, somado à perda da conclusão da duplicação para Foz do Iguaçu, tem um efeito de isolamento cultural e econômico.”
Agora, embora fora do escopo das concessões, Cascavel pode perder mais uma obra essencial, a sequência do anel rodoviário, caso suas lideranças batam cabeças ou sejam devoradas pela inação.
O Observatório das Concessões terá o desafio de previver “surpresas”, e será uma pedra
no sapato dos ligeiros, que já aprontaram na concessão atual, conforme descreve na entrevista concedida por Vasconcelos ao Pitocast, conforme segue:
Pitoco – O Observatório das Concessões passou a operar mais estruturado recentemente, porém desde os primeiros leilões já flagrou anomalias…
Edson Vasconcelos – Sim, a falta de acompanhamento já cobrou um preço perceptível. Os lotes 1 e 2 das concessões já apresentam mudanças sobre o que foi dito nas audiências públicas. Tiraram a conectividade por wi-fi, simplesmente o ítem sumiu do contrato, e também passaram a cobrar o pedágio antes de concluir as obras preliminares, antecipando uma receita de quase meio bilhão de reais.
Que outros instrumentos a sociedade dispõe para acompanhar as concessões?
O Paraná é hoje o estado mais maduro para discutir esse tema, temos um contrato robusto que prevê comissões tripartites em que a sociedade civil está representada. O dilema são os interesses políticos e eleitorais que vão por a prova o sistema.
E como esses interesses podem ser fomentados?
Na troca de governo, por exemplo, natural que um novo governante diga: esse cardápio de obras do contrato foi escolhido por um outro gestor, quero contemplar meus compromissos aqui, vou pressionar a concessionária.
E como resolve isso?
A comunidade precisa acompanhar, ocupar seu lugar de forma qualificada na comissão
tripartite. Haverá sim espaço, janelas de oportunidade para adequações no contrato, isso está previsto. Mas é preciso atentar para que sejam tecnicamente viáveis, não por interesse empresarial, do mercado imobiliário ou do “mercado” do voto.
É importante que a sede da EPR, a nova concessionária aqui da região esteja em
Cascavel?
Pouco influencia se a sede está aqui, tem que entender que o relacionamento com as concessionárias tem um linha de corte, que se chama contrato. Nada que vá pedir lá e que esteja fora do contrato, ela vai dar. Não adianta dizer “me faz mais uma obrinha aqui que tá morrendo gente”. Ela não vai dar.
Por falta de transparência e acompanhamento perdemos a duplicação da 277
e da 369…
Perdemos a duplicação da 369 de Cascavel a Campo Mourão no dia 15 de novembro de 2015. A obra foi mudada para Nova Londrina e Paranavai. Essa perda e a da
conclusão da duplicação para Foz do Iguaçu tem um efeito econômico de isolamento cultural e econômico.
Como assim?
Um pai põe a família no carro para um passeio ou para contratar um produto ou serviço em uma cidade polo. Ele está em Campo Mourão. Olha para as rodovias, percebe que até Maringá está duplicado. Para Cascavel, quase a mesma distância, pista simples. Ele vai
para Maringá.
“Tiraram a conectividade por wi-fi, simplesmente o item sumiu do contrato, e também passaram a cobrar o pedágio antes de concluir as obras preliminares, antecipando uma receita de quase meio bilhão de reais.”
Consequências?
Quebra uma cultura, os filhos que estão no carro criam vínculos com o Norte do Paraná, nunca virão para Cascavel, não estabelecem vínculo afetivo conosco. O mesmo exemplo serve para o morador de Medianeira para escolher entre Foz e Cascavel, consequências econômicas na veia.
Contorno Norte ou Sul?
Talvez ambos. É possível pacificar o tema, não há concorrência entre os trechos. Há
uma lógica temporal de cada um deles, precisamos entender os fluxos para um planejamento de longo prazo. O arco norte oferece saídas para Toledo, Tupassi, Maringá, ao passo que o Sul liga com o Rio Iguaçu, área sensível, com baixa taxa de ocupação no plano diretor em razão se concentrar nossa bacia hídrica ali e pelo relevo.
“Ninguém tá lutando contra o contorno Sul. A logística não permite equívoco: não se faz um trem onde não tem carga, não pode fazer contorno onde não tem fluxo. A partir de critérios objetivos ajustase na linha do tempo o que sai primeiro.”
Não é o caso para uma disputa paralisante entre nortistas e sulistas?
De forma nenhuma, em uma linha de tempo planejada a médio e longo prazo encaixa-se perfeitamente o Contorno Sul. É encontrar seu lugar no tempo.
Que fazer ao Sul?
As obras previstas no escopo da concessionária da rodovia, prevendo duplicar o perímetro urbano da 277 na região Sul, podem oferecer ali uma grande avenida com transposição em nível, semaforizada, eliminando a secção que hoje se observa naquela região.
Sem guerra então?
Ninguém tá lutando contra o contorno Sul. A logística não permite equívoco: não se faz um trem onde não tem carga, não pode fazer contorno onde não
tem fluxo. A partir de critérios objetivos ajusta-se na linha do tempo o que sai primeiro.
É preciso ter clareza de combinar o jogo para não perder os recursos do governo do
Estado.
A bola está com quem agora?
Está com o prefeito Renato Silva. Ele tem que liderar esse processo. A prefeitura recebeu informações técnicas que iluminam o tema. O prefeito é o mandatário. É focar em executar o projeto e levá-lo em caravana para o governador, como fizeram outras regiões e foram atendidas. Não podemos esperar para a semana que vem para ver como fica, não temos esse tempo.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

