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Cores descoloridas da cobra

calendar_month 5 de outubro de 2024
5 min de leitura

Verticalização de Cascavel dá visibilidade ao empalidecer da cidade; fenômeno dos tons neutros replica na frota de automóveis

Recém retocado, edifício na rua Paraná ousou com amarelo, mas mesclou com tintas neutras

As cores neutras apresentam baixa intensidade e saturação, pouco reflexo e energia. São representadas pelo preto, branco e cinza.

Subtons de outras cores, acrescidas de branco e preto, também podem ser considerados cores neutras, como o bege e o marrom.

Olhando para os paredões dos edifícios espetados no horizonte de Cascavel, é fácil observar que os tons pastéis são amplamente predominantes. A cidade, notadamente em seus andares superiores, descoloriu, empalideceu. E deve haver razões para isso.

Ao Gosto Freguês

O Pitoco consultou empresários da construção civil. “Não posso responder por todos, mas dos prédios que participo as cores são definidas conforme a escola arquitetônica utilizada no projeto”, disse João Luiz Felix Junior, o Jota. Para Natuani Costa, a escolha das cores passa tamn Recém retocado, edifício na rua Paraná ousou com amarelo, mas mesclou com tintas neutras bém por resistência a variação térmica. “Tonalidades escuras
desbotam muito rápido”, disse.

Sergio Casarotto acrescenta outro ítem, o gosto do freguês. “Cores neutras agradam a maioria”, enfatizou.

Como gosto é gosto, e não se discute, um empresário do ramo foi mais ácido em sua avaliação, e pediu para ter o nome preservado: “Cores neutras disfarçam as imperfeições e demoram mais para desbotar. E soma-se a isso uma pitada de mau gosto também”, fuzilou o construtor.

Conforto Térmico

O empreendedor Rodrigo Fávero acrescenta que as cores, em alguns casos, servem para identificar linhas de produtos, “estratégia de comunicação mesmo”. Mas traz uma explicação para além da estética: “Cores claras e neutras atendem a zona bioclimática da cidade, favorecem alcançar índices de conforto térmico”.

No início da verticalização até se buscou colorir os prédios em pastilhas azuis, amarelas e
até vermelhas. O resultado não foi exatamente a “Queda da Bastilha”, episódio histórico, mas ficou perto: foi a queda dapastilha. “Pastilha solta com o tempo, a manutenção é cara”, disse Natuani Costa. “Então o pessoal prefere optar pelo básico mesmo”.

Vista das “costas” de edifícios em tons pastéis da rua Sousa Naves, entre eles o veterano Centro Comercial Lince: verticalização acentuou o descolorido

Em Cascavel, a frota branqueou

A frota de Cascavel já passa de 270 mil veiculos. Desses, cerca de 56,7 mil são pintados da cor branca. É o que revela uma consulta do portal G1 aos dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

As latarias dos veículos em todo o Brasil sofreram um forte processo de descolorização, fenômeno que se acentuou a partir do final dos anos 1990.

Analisando um banco de dados com mais de 80 milhões de veículos emplacados no Brasil até junho de 2023, observou-se que a frota leva as seguintes cores: branca (21,2%); preta (18,9%); prata (16,8%); cinza (10,2%).

No top cinco, apenas uma cor vibrante resistiu, o vermelho, cor pintada em 15% da frota.

Três décadas atrás a paleta de cores era bem diferente: o azul predominava, com 17% da frota, seguido do branco e o vermelho com 16% cada. Na sequência vinha um inacreditável verde, com 11%. Até amarelo existia, com 6% da frota.

Pitaco do Pitaco

Cascavel empalideceu e acizentou ao gosto do freguês. E a “ditadura” dos pratas e assemelhados nos veículos se impõe até por questão mercadológica, pois o colorido mais ousado desvaloriza o seminovo.

Se o nome da cidade deriva de uma cobra, tinha que ser Cascavel mesmo, bicho cuja coloração varia entre o castanho e o acizentado. Definitivamente, não caberia o nome de outra cobra, a Coral, por exemplo, para a Capital do Oeste.

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Olhe para o seu molho de chaves

Olhe para coisas do passado que entulham sua mente, e desapegue, limpe, doe, recicle…

Ao chegar à redação do jornal na manhã da última terça-feira, primeiro dia de outubro, acionei um tag para abrir o portão do prédio. A porta do escritório já estava aberta por quem chega mais cedo, o primo Fredy, nosso financeiro do jornal há mais de um quarto de século.

Toquei nos bolsos encontrei dois molhos de chaves. Nenhuma delas foi utilizada para acessar minha estação de trabalho. Olhei novamente com mais calma e constatei alguns excessos: Por que o dois molhos de chaves, se eu posso unificar em um só simplesmente esgaçando aqueles anéis prateados que as unem?

O que fazia ali aquela chave que abria a garagem do Beto Pompeu – vizinho que havia cedido um espaço para minha bike elétrica anos atrás – se nunca mais acessei a
generosa cortesia?

Olhando mais de perto encontrei várias outras chaves em desuso há anos. E veio a analogia como uma chave mágica que abriu minha mente: quanto peso material e imaterial carregamos no bolso, nas costas, na mente, há tantos anos, e não damos conta da quantidade de energia que isso nos subtrai todos os dias?

Olhe para seu molho de chaves, para o roupeiro, para as gavetas, para os papéis e coisas do passado que entulham sua mente, e desapegue, limpe, doe, reciOlhe para coisas do passado que entulham sua mente, e desapegue, limpe, doe, recicle…cle, elimine, reduza a bagagem.

Em tempo: creio que o escritor Paulo Coelho já enfrentou o dilema dos pesados molhos de chaves, quando disse: “Não desista. Geralmente é a última chave no chaveiro que abre a porta”.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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