Qual é o estágio de desenvolvimento de Cascavel aos 74 anos? Nossa “indústria a céu aberto” concentrada e tarifável é ponto de vulnerabilidade?

Os três ciclos econômicos de Cascavel mantiveram vínculo forte com a terra barrenta que marca seu solo: Ciclo da Erva Mate, na primeira metade do século passado, Ciclo da Madeira, entre os anos 1950 e 1970, seguidos pelo fenômeno da mecanização da agricultura que fez extinguir a paupérrima figura do “bóia fria”.
Mas e hoje, no meio da terceira década do século 21, qual é a vocação econômica de Cascavel? Vivemos um novo ciclo? Diante da instabilidade climática que se anuncia, do mau humor frequente de São Pedro, da dependência de potências tarifantes como EUA e concentração de vendas para um único país (China), é temerário manter o município e a região dependentes da indústria a céu aberto da agricultura?
Todos esses pontos de interrogação foram enviados às vésperas do 74º aniversário de Cascavel para cascavelenses que estudam a economia local sob o ângulo das estatísticas e dos ensinamentos da história.
WHEY PROTEIN
O engenheiro Edson Vasconcelos, presidente da Fiep, acredita que o Paraná, em especial o Oeste do Estado, continuará alavancado nas cadeias globais de segurança alimentar, mas pode dar um passo à frente para diluir riscos.
“Cadeias de alto valor agregado puxam vários setores. O que poderá elevar nossa região para essa condição é o segmento nutracêutico, proteínas da cadeia alimentar. A proteína que produz o whey, suplemento usado no ganho de massa muscular, perda de peso e recuperação pós treino, obtida no leite que produzimos, é algo que pode entrar nessa equação”, diz Vasconcelos, para ilustrar com um exemplo.
Ele distingue essa cadeia de outras, citando como exemplo o segmento em que atua. “A construção civil exuberante de Cascavel é reflexo de renda per capita elevada, mas não gera renda per capita alta”.
Para o presidente da Fiep, mesmo com a cadeia alimentar no protagonismo econômico, a cidade consolidou-se em outro segmento, o terciário, permitindo a diversificação no território. “Cascavel é a mais relevante prestadora de serviço regional”, pontua.
TRIPÉ DO PIAIA
Historiador e doutor em economia pela Unioeste, Vander Piaia vem pelo mesmo raciocínio. “Chegamos a um estágio de maturidade econômica. Não se pode mais falar em novos ciclos, e sim em novas etapas”, introduz ele.
Ele cita um “tripé bem alicerçado” a sustentar a economia local: o setor primário, com os recursos naturais elaborados pela agricultura com valor agregado na agroindústria, o secundário onde está a indústria de transformação (construção civil, metal mecânico, entre outros) e o de serviços, que estabelece aqui polos na saúde, educação e comércio para uma região de mais de 1 milhão de habitantes.
“Cascavel não tem que inventar nada, é produtiva, inovadora, presente sólido e futuro promissor. Não vejo nuvens escuras no céu. Temos um tripé econômico bem alicerçado”, disse.
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Paranhos vê potencial no turismo de negócios
Mecabô percebe na tilápia a possibilidade de multiplicar o valor bruto de produção da aniversariante

O tripé de Leonaldo Paranhos é outro: malhas duplicadas no entroncamento rodoviário de Cascavel conectando grandes eventos do mundo dos negócios com o novo centro de convenções e eventos.
Ao ex-prefeito e secretário de Estado de Turismo foi lançada a mesma inquietação remetida para Edson Vasconcelos e Vander Piaia na capa desta edição.
Paranhos diz que uma das primeiras propostas apresentadas ao governador, quando assumiu o Turismo no Paraná, foi criar 18 territórios turísticos no mapa do Paraná e identificar a vocação de cada um.
“O diagnóstico em Cascavel foi muito claro: aqui o dinamismo do aeroporto somado ao novo centro de convenções e a malha rodoviária duplicada nas novas concessões permite cravar que o turismo de negócios é nossa vocação”, disse Paranhos.
Para o secretário, a infraestrutura em construção vai dinamizar a região, notadamente com as obras de ampliação de pista nas rodovias 163 e 277. “Soma-se a isso o aeroporto que mais cresceu no Sul do Brasil em número de passageiros, que é o de Cascavel”, enfatiza.
Paranhos visualiza o novo centro de eventos – agora com verba carimbada (ver na última página dessa edição), sediando lançamento de máquinas e equipamentos do agro, convenções na área da saúde e seminários de diferentes setores da economia.
PESCARIA DO VICE
O vice-prefeito Henrique Mecabô, mestre em economia e cientista político, acredita que a cadeia produtiva liderada pelo agro tem muito a entregar ainda, em consonância com a análise feita por Vasconcelos, da Fiep.
Ele cita a produção de proteína de peixe, notadamente de tilápia. “Em Cascavel, que dispõe de vasto território, essa produção mal chega a 0,5% do Valor Bruto de Produção, enquanto o número é de até mais de 10% em outras cidades do Oeste”, enfatiza Mecabô.

O vice vê oportunidades também na rápida expansão da população cascavelense. “O crescimento populacional vai além de mais bocas para alimentar, e nisso somos muito bons. Mas significa também mais vidas para cuidar, abrigar e educar”, enfatiza.
Para ele, esses fatores somados impulsionam as cadeias da construção civil, saúde e educação nas próximas décadas.
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Tornados não discursam

Antes de tudo é preciso manifestar solidariedade à população de Rio Bonito do Iguaçu e acalentar aqueles que sofreram a perda irreparável de um ente querido.
Mas também é preciso entender melhor o que se passa no planeta. Não se tem notícia que um tornado dessas dimensões tenha atingido solo paranaense antes. Da mesma forma a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul tinha uma única ocorrência em dimensões semelhantes, na primeira metade do século passado.
Olhando para o noticiário internacional, percebe-se que o adventos climáticos severos estão mais recorrentes.
O aquecimento global e suas consequências não podem ser lidas como “frescura” ideológica. O tornado não vota, não marcha de camiseta vermelha ou amarela e não mantém perfil doutrinador no zap. Ele somente chega abrupto, a 330 quilômetros por hora, sem pedir licença, sem discursar, e não precisa de mais que 40 segundos para fazer o que fez em Rio Bonito.
RANKING DA INFÂMIA
Degradações ambientais locais não explicam o hecatombe naquele município. Mas precisam ser consideradas. Entre 2020 e 2021, Rio Bonito foi destaque negativo em relatórios de desmatamento da Mata Atlântica, aparecendo entre os municípios que mais devastaram o bioma. Naquele período foram 111 hectares de desmatamento criminoso, posicionando o município na infame lista das 10 cidades paranaense com maior perda.
Se a Mata Atlântica estivesse em pé e intocada naquela região, teríamos atenuado a fúria do tornado? Provavelmente não. Os efeitos do aquecimento são bem mais complexos e não escolhem a área desmatada para manifestar consequências em âmbito global.Mas ações locais podem e devem ser efetivas. A primeira delas é negar o negacionismo.
GOTA NO OCEANO
Superados os dogmas ideológicos, é agir na aldeia, no quintal de casa. Um exemplo apenas ilustrativo: por que razão o condutor de um veículo flex opta pelo petróleo na bomba, se temos o biocombustível que vem do agro, o etanol?
Quanto custa reconstruir o Rio Grande do Sul? Quanto custa recolocar Rio Bonito no mapa? É possível precificar uma vida humana?
Ações assim parecem insuficientes, uma gotinha no oceano. Mas o oceano, por gigante que seja, ficará menor com uma gota a menos.
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Uma pergunta

Pitoco – Que fim levaram os mendigos?
Coronel Lee (Secretário de Segurança Pública) – A redução visível de moradores de rua é resultado de um trabalho conjunto que envolveu também a população ao acatar nossa campanha para não dar esmola. Quem dá esmola financia a violência e o tráfico. Tinha morador de rua ganhando R$ 8 mil mensais de esmola. Que fim levaram? Muita gente voltou para seus locais de origem, muitos foram presos, outros foram submetidos a internação involuntária, na marra mesmo. Era muita gente com mandado de prisão, usando tornozeleira. 86% tinham ficha criminal. Chegou a um ponto que Cascavel virou notícia em rede nacional, apresentada como cracolândia do interior. Ficou feio para nós, mas agora está controlado e nesse momento estamos indo para cima dos traficantes.
PEDÁGIO SEM PORTEIRA
A EPR Iguaçu, que administra trechos das BRs 277 e 163, entre outras, anunciou a implantação dos primeiros pórticos do sistema de pedágio eletrônico.
O sistema elimina as praças de pedágio tradicionais. Foi preciso uma autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para implantar o sistema que já funciona – com alguma controvérsia – no interior de São Paulo.
O pedágio eletrônico permite a cobrança automática da tarifa sem a necessidade da parada. “É uma inovação que vai garantir mais fluidez e segurança viária, além de economia para os motoristas e menor impacto ambiental”, disse Silvio Caldas, diretor da EPR.
Os primeiros pórticos estão sendo instalados na BR 163, região de Santa Lúcia (Oeste) e em Vitorino (Sudoeste do Paraná).
O Pitoco procurou a vencedora do lote 5 para saber se estrutura semelhante será implantada entre Cascavel e Toledo para quitar o “deizão” do “pedágio patriótico”, mas a questão ainda está indefinida.
Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente
pitoco@pitoco.com.br

