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Nina, a gatinha indomável

calendar_month 14 de junho de 2024
8 min de leitura

Felino é removido para “sítio de segurança máxima” em Catantuvas após ameaça de “perda total” em bólidos inclinados para a direita

A gatinha rajada em raro momento de relax: condão de escapar por baixo da porta

Nina e suas irmãs nasceram sem teto. A ninhada foi abandonada na rua Paraguai, bairro Alto Alegre, porção Oeste de Cascavel, onde há uma casa de apoio gerida por freis franciscanos. A médica veterinária Samira Hassanieh Bomm encaminhou as gatinhas para adoção, não sem antes vaciná-las e castrá-las.

Nina se distinguia da ninhada por dois detalhes: uma manchinha clara na pelagem sobre a coluna vertebral, rompendo um padrão rajado de cinza e branco uniforme; e por ser a mais frágil naquele momento de socorro. “Ela estava muito sofrida, nem ficava mais em pé”, relata Samira.

Uma senhora do Parque Verde adotou Nina. A passagem por ali foi abreviada. A tutora, que mora sozinha, ficou semanas acamada, abatida pelo Aedes. Foi quando Nina mudou-se novamente, para um condomínio de classe média no mesmo bairro. Era para ser uma passagem de transição. Nina, carinhosa e brincalhona, conquistou corações de gente grande e das crianças no novo lar.

Mas havia um “problema” no temperamento da gatinha rajada: “passeadeira” demais, felino indomável, amante da liberdade.Não havia porteira que a detivesse. Escapava pela sacada no andar superior, escalava árvores e muros. Lapsos de segundos de portas ou janelas entreabertas, e adeus Nina. Como brincava de gato e rato com baratas, parece ter ganho uma habilidade típica desses insetos: a de passar por baixo da porta.

OS ANTIPETS

Após fugas cinematográficas, como da vez em que foi localizada via Facebook a milhares de metros da base, Nina se tornou um incômodo para vizinhos antipets. E afrontou as duras regras do condomínio. Foi flagrada “adubando” a areia do playground e cometendo “crimes” ainda mais graves, como deixar a marca da patinha em pisos de garagens e latarias de veículos.

Não tardou para Nina se tornar a principal estrela do grupo de zap do condomínio. De um lado a galera pró-flexibilização da legislação talibânica. De outro lado ferozes algozes da Nina e de qualquer outro bicho que ousasse colocar suas patas nos vistosos bólidos típicos de classe mediana – aqueles veículos inclinados para o lado direito em razão do peso do carnê da financeira acomodado no porta-luvas.

SUJO E O MAL LAVADO

“Estou colocando câmeras. Se flagrar esse bicho aqui, vou fazer o dono pagar a lavagem e o polimento”, disse uma ativista anti-gato no grupo de zap. No mesmo post, ela provou o crime: um pata felina maculando a viatura. Não notou, no entanto, a espessa sujeira na lataria e vidros do carro. Na verdade, o gato deveria ser indenizado com uma ducha no pet shop, já que o veículo sujou sua patinha.

Pouco afeito a controvérsia, o tutor da Nina se ofereceu para pagar eventuais despesas com chapeação causado por patinha de gato em lataria e chegou a sugerir que acionassem o seguro automotivo, vai que rende uma indenização por perda total e a vítima da Nina possa reduzir a pressão do carnê sobre o amortecedor dianteiro direito.

200 HADDADS

Quando já era possível produzir um book com as fotos da gatinha indomável postadas no beligerante grupo de zap, a sub-síndica se viu obrigada a cumprir o regimento e lavrar a multa: 200 haddads a menos na conta do tutor, com severas possibilidades de reincidência, já que o esquadrão de “polícia pet” estava atento, sempre com os celulares à mão para registrar novos flagrantes.

Não havia outra solução que não remover a “meliante” para um “sítio de segurança máxima” em Catanduvas. A professora Carmen Lúcia e seu marido Abel gentilmente aceitaram abrigar Nina em um belo vale verde cercado de morros em Ibiracema, distrito da cidade vizinha.

Ali a libertária felina poderá escalar árvores, dar corridões em quero-queros, eventualmente almoçar algum passarinho – contra a vontade do almoçado – ronronar no colo da prôfe e até eventualmente escalar no capô do Corsa do casal sem o risco de ser fotografada e exposta no mau humorado grupo de zap dos medianos. Seja feliz no sítio, Nina. E não tome o conjunto de sapiens por uma meia dúzia de apequenados.

PITACO DO PITOCO

A dúvida é: a lataria do carro se tornou a pele do dono? Se riscar lá, sangra o proprietário? Ou o inverso, a pele do sujeito virou a lataria do seu veículo, fria, insensível, metálica, desumanizada? Talvez sem resposta para essas inquietações, o escritor e poeta português Alexandre Herculano cravou a frase icônica: “Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais”.

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Telas mataram o colunismo

Nos tempos em que Caio Gottlieb e Donizetti Adalto duelavam nas colunas sociais, Cascavel via o deslumbre dos novos ricos

Inspirado em colunistas sociais consagrados na imprensa nacional, como Ibrahim Sued e Zózimo Barroso do Amaral, o jovem Caio Vieira Gottlieb (foto) assinava suas primeiras notas na Cascavel dos anos 1970, no jornal “Fronteira do Iguaçu”.

A imprensa local ainda era bastante acanhada antes de surgirem os jornais “O Paraná” e “Hoje”, e os curitibanos faziam relativo sucesso aqui, como “O Estado do Paraná”, onde Caio Gottlieb, Xiquinho Zimmerman e Alvir Preisner assinavam seus artigos.

O auge do colunismo social veio na segunda metade dos anos 1980, atravessando a década seguinte. Os “influencers” da época, em duro duelo, eram Gottlieb no “O Paraná” e Donizete Adalto na “Gazeta do Paraná”. “Cascavel era uma cidade em transformação, a soja começava a enriquecer determinados segmentos, houve um certo deslumbramento e a vida passou a ser muito diferente para aqueles pioneiros que chegaram aqui de uma vida difícil no Rio Grande do Sul”, disse Caio ao Pitocast, o podcast do Pitoco.

Segundo ele, as colunas sociais retrataram esse momento em fotos de viagens internacionais, casamentos chiques ou extravagantes festas de novos ricos. “Já a segunda geração desses pioneiros chegou mais discreta. Ligavam prá gente e diziam: venha para a minha festa, mas como amigo, não como jornalista, não publique nada”. A extinção do colunismo foi apressada pelo advento da internet e das redes sociais. “Hoje cada um tem sua coluna no Instagram”, diz o veterano colunista.

ABRINDO O JOGO

Por quase 30 anos, e até hoje, Caio entrevistou nomes projetados da política nacional no “Jogo Aberto”, da TV Tarobá. Entre eles, Fernando Collor, FHC, Serra, Lula, Brizola e Paulo Maluf. No Pitocast, que pode ser acessado tanto no Youtube como o Spotify, ele relata passagens curiosas, como o pico de pressão em Maluf no estúdio e um embate ao vivo com Roberto Requião, que apontou “perguntas cínicas” do entrevistador.

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Furou o pneu do trem

Para Grolli, “Ferroeste como está não é eficiente nem suficiente, e estão querendo levar a ineficiência para Guaíra, Foz e Chapecó”

Dilvo Grolli entrevistado no Café com Pitoco: rota de colisão com os maquinistas do Iguaçu

O presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, tido como um dos mais influente líderes do agro paranaense, escancarou uma divergência com a estratégia logística do Palácio Iguaçu, que até então vinha restrita a quatro paredes, circunscrita a debates internos de entidades como a Caciopar e o Programa Oeste em Desenvolvimento (POD).

“A Ferroeste não é eficiente nem suficiente, e estão querendo levar a ineficiência para Guaíra, Foz e Chapecó” , disse Grolli no Café com Pitoco, realizado na agência do Sicoob da rua Cuiabá na última terça-feira (11).

O líder cooperativista enfatiza não ser contrário ao ambicioso projeto da Nova Ferroeste, ofertado para investidores pelo governador Ratinho Junior em recente tour internacional. “Porém, antes de expandir para as barrancas do rio Paraná, em Guaíra e Foz, ou para Pato Branco e Chapecó, é preciso sanar as ineficiências do trecho já executado”, disse.

TREM DEVAGAR

Grolli aponta os gargalos no traçado na serra de Guarapuava, perímetro urbano de Curitiba e na Serra do Mar como nós a serem desfeitos, pois tornam as composições lentas e a entrega demorada. E alerta para tratativas e lobbies visando a renovação automática do contrato com a atual operadora entre Guarapuava e Paranaguá, a Rumo. “Queremos debater esse pacote todo, envolvendo na discussão a Ocepar, a Fiep e toda a sociedade paranaense”, disse.

As palavras de Dilvo Grolli encontram ressonância em outros líderes cascavelenses, como Edson Vasconcelos, presidente da Fiep e Alci Rotta Junior, do Codesc. “O projeto da Nova Ferroeste é algo grandioso, mas para cenário de uma década e meia à Pitocofrente. Investindo na malha atual agora, podemos ampliar a capacidade de transporte da ferrovia das atuais 900 mil toneladas para 6 milhões de toneladas a curto prazo”, diz Rotta.

JANELA ABERTA

Segundo Rotta Junior, a “janela de oportunidade está aí, no fim do contrato da Rumo, em 2026, linkando as necessidades da Ferroeste com as contrapartidas da nova concessão”. De acordo com o líder empresarial, 3 milhões de toneladas de produtos seguem de caminhão do Oeste paranaense para Paranaguá.

E o transporte pelo vagão do trem, segundo Grolli, é 35% mais em conta que a carroceria do caminhão. Ou seja, o rodoviário é mais caro e mais poluente, porém, o pneu do trem está furado e os comissários maquinistas do Palácio Iguaçu parecem não dispor de borracharias ao longo do trecho…

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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