O Presente
Pitoco

Numeral 699 da Rua Natal

calendar_month 13 de dezembro de 2025
10 min de leitura

Construtora reúne compradores de apartamentos para desenhar o “mapa do caminho” de obra atrasada; pulmões do mercado imobiliário ainda manifestam sintomas da Covid 19

Casarotto, ao fundo, de camiseta preta, expõe números aos compradores para construir um “mapa do caminho”: distratos, renegociação e revisão de valores

Sábado, 29 de novembro, manhã quente em Cascavel. Restavam escassas vagas para estacionar nas imediações do numeral 699 da rua Natal. Havia ali um encontro entre a construtora e compradores do edifício Giardino.

Bem diferente daqueles ambientes chiques de salameques, artes renderizadas, show de luzes e coquetéis de finas iguarias que marcam encontros dessa natureza, o ambiente era rústico, típico chão bruto de fábrica, bancos de tábua, obra inacabada.

E a expressão das pessoas, carregada de alguma aflição, traduzia o motivo do encontro: o empresário Sergio Casarotto reuniu os compradores para traçar o “mapa do caminho” – expressão consagrada na COP 30 – e concluir o Giardino, cujo cronograma avançou para além de 80% mas está atrasado há mais de ano.

Não é a única construtora com entregas retidas em Cascavel. Até mesmo a maior delas e uma das maiores do Brasil, a JL, aditivou prazo para entrega de empreendimentos, por motivos diferentes, mas aditivou.

O DIAGNÓSTICO

A maioria dos apês inacabados de Cascavel foram ofertados ao mercado na planta no período pré-pandêmico. Era um cenário bem diferente: juros baixos, mercado aquecido, a verticalização da cidade ganhava velocidade nunca vista para frente e para cima.

Porém, o pulmão da cadeia da construção civil é vulnerável aos humores da economia. A Covid infectou construtoras com ou sem comorbidades. Um trivial espirro da taxa Selic pode gerar pneumonia na cadeia da construção, resultando em muitos atores do segmento entubados.

“Incorporadoras que haviam lançado projetos às vésperas da Covid viram-se encurraladas: o aumento absurdo nos preços de insumos, a escassez de mão de obra qualificada e o custo da mão de obra terceirizada inflaram os orçamentos de maneira imprevisível”, expôs Casarotto.

“Muitas incorporadoras sucumbiram à recuperação judicial ou, em casos mais extremos, à falência. Clientes foram abandonados à própria sorte, com empreendimentos paralisados e sonhos adiados”, prossegue o empreendedor, que propôs outro caminho, cuja terapêutica é baseada em cuidados paliativos: distratos, renegociação de prazos de entrega e revisão de valores. “Aquelas empresas sem condições de distratar tentam resolver a crise com endividamentos e venda de patrimônio dos sócios, em uma luta desesperada pela sobrevivência”, complementa o empresário.

O MARCO ZERO

A construtora dele enfrenta problemas semelhantes em outros empreendimentos, como no edifício corporativo Design Office, na rua Minas Gerais. “Apresentamos um plano de ação para o término das obras procurando preservar o investimento dos clientes, como sempre fizemos em 24 anos de história, nos quais absolutamente nenhuma

obra deixou de ser entregue e nenhum cliente ficou desassistido”, destacou Casarotto no abafado ambiente da reunião.

De qualquer dos andares do Giardino provido de uma janela com vista para Avenida Brasil, é possível ver o Marco Zero da cidade, na Praça Getúlio Vargas, onde sobe impoluto o Soleil, um dos maiores edifícios da cidade, construído, concluído e entregue pela Wust & Casarotto, como a avalizar as palavras do empreendedor, cuja empresa já edificou mais de 300 mil metros quadrados aqui.

Todos os que cultivam um CNPJ sabem que um dia, talvez, tenham que voltar ao marco zero. Mas seguir em frente é preciso…

PITACO DO PITOCO

Há casos de passos maiores que as pernas no mercado imobiliário de Cascavel? Sim, provavelmente há.

A empresa em tela e outras que respiram por aparelhos poderão receber alta em breve? Sim, poderão.

Todo o mercado apresenta sintomas semelhantes? Absolutamente, não. Os casos são pontuais, e demarcados claramente em lançamentos de um determinado período.

Convém usar máscara, álcool gel e vacina no braço? Sempre, em qualquer segmento da economia. O vírus da Selic a 15% convida ao repouso do capital na especulação financeira.

E o Sergio Casarotto, por onde anda? Anote aí: Rua Visconde de Guarapuava, 2285, Cascavel, Paraná. Ele não fugiu do país como alguns “valentes” políticos encrencados com a justiça.

O empresário olhou no olho do comprador, foi transparente, franco e apontou caminhos. Saúde para a Wust & Casarotto e para o mercado imobiliário de Cascavel!

Rápidas

O CORDÃO

Sob um calor infernal, potencializado pela cobertura plástica no estacionamento do Centro de Eventos no último sábado (29), o pré-candidato do Palácio Iguaçu, Guto Silva, disse que Ratinho Junior é o maior governador da história do Paraná.

Na sequência alguns oradores mais emocionados já passaram a tratar o governador como presidente da República.

Após confirmar os R$ 210 milhões para o novo Centro de Eventos – maior convênio já firmado com Cascavel – o bajulado Ratinho deixou a cidade com a região pélvica massageada.

O PODIUM

Depois do imbatível governador Ratinho Junior, os políticos mais assediados no Centro de Eventos foram o deputado Gugu Bueno e 0 secretário estadual do Turismo, Leonaldo Paranhos.

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“Porre de etanol”: 200 milhões de litros

Sem revelar os investidores, empresa sediada em Cuiabá com capital social de R$ 600 mil formaliza carta de intenções prevendo investimento de R$ 1,1 bi em Toledo

Costenaro, Sperafico e os executivos da Hydrographe João Vianei e Paulo Rangel: carta de intenções bilionária

A Hydrographe SA, CNPJ de Cuiabá (MT), constituída em 2021 com capital social de R$ 600 mil carimbou uma carta de intenções que prevê investimento de R$ 1,1 bilhão em Toledo.

Pela carta, a usina de etanol de milho será construída em 24 meses em uma fração de 60 hectares da fazenda do deputado Dilceu Sperafico, nas imediações do aeroporto de Toledo.

Segundo os diretores da Hydrographe, João Vianei e Paulo Rangel Filho, o plano de negócios da Toledo Bioetanol consumiu dois anos de estudos e prevê a produção de 200 milhões de litros por ano, devorando 525 mil toneladas de milho a cada 12 meses.

Plantas industriais desse porte produzem também ração para animais (160 mil toneladas/ano) e 18 mil toneladas de óleo. São previstos 1,5 mil empregos na construção da unidade, 150 diretos na operação e 2 mil indiretos.

Questionado sobre o elevado consumo do cereal por planteis gigantes na região, como os cerca de 900 mil suínos criados em Toledo, e eventual dificuldade para obter o grão em condições logísticas favoráveis, Rangel Filho argumenta que Toledo é grande produtor de milho, e que tanto o município como o Paraná registram excedentes de produção.

“Já há mais de 20 usinas de etanol de milho no Mato Grosso. Se as enfileirar às margens da rodovia 163, teremos uma usina a cada 100 km. O Paraná também tem condições de absorver”, argumenta.

INVESTIMENTO

Os executivos que colocaram assinaturas na carta de intenções não deixam claro de onde virá o aporte bilionário para bancar a operação. Genericamente, citaram a criação de um fundo por discretos investidores em Cuiabá e Caxias do Sul (RS).

Plantas semelhantes vêm recebendo financiamento do BNDES. É o caso da usina em construção em Campo Mourão pela Coamo, que contratou R$ 500 milhões junto ao banco presidido pelo petista Aloísio Mercadante.

Por que Toledo?

Questionados sobre a opção por Toledo, os diretores da Hydrographe apontaram o relacionamento dos investidores mato-grossenses não nominados com o deputado Dilceu Sperafico.

Presente ao ato, realizado no gabinete do prefeito Mario Costenaro no último dia 1º de dezembro, Sperafico confirmou o arrendamento de cerca de 1/5 de sua fazenda para a operação. “Não sou sócio, assinamos um contrato em que a área cedida está precificada em sacas de soja. Posso evoluir para a condição de cotista lá na frente, mas o interesse maior é trazer o investimento para Toledo”, disse o parlamentar ao Pitoco.

Segundo os “cartomantes”, a Toledo Bioetanol não irá verticalizar a operação para permitir que até 21 CNPjs da cidade ou região possam se acoplar à cadeia de prestadores de serviço, distribuindo oportunidades para os nativos.

E há ótimas oportunidades aqui. Se confirmado o investimento, serão demandadas mais de 4,5 mil viagens/ano de caminhão tanque para distribuir o etanol e o óleo. Além de mais de 11 mil viagens de caminhão para trazer o milho até a planta industrial.

O etanol traz grãos de milho para a bomba, resultando em um biocombustível 89% menos poluente que a gasolina

PITACO DO PITOCO

Embora mistérios permaneçam rondando os milharais oestinos sobre o financiamento da usina de etanol, uma vez confirmado o investimento teremos relevante notícia para a região.

O etanol é 89% menos poluente que a gasolina, energia que se renova a cada ciclo de plantio, sequestrando dióxido de carbono.

E os produtores ganham mais um potencial cliente, mexendo na balança da oferta e da demanda, hoje bastante calibrada pelas grandes cooperativas.

Vai virar? Provavelmente sim. Sperafico e o prefeito Mario Costenaro não colocariam seus nomes em uma carta de intenções mal-intencionada.

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Viagem da fotografia

Que analogia pode ser feita da fotografia que o vento arrastou de Rio Bonito até a divisa com Santa Catarina?

Foi notícia de repercussão internacional. A fotografia de uma vítima fatal do tornado em Rio Bonito do Iguaçu “viajou” 220 quilômetros e foi parar em São Mateus do Sul, na divisa do Paraná com Santa Catarina.

A fotografia estava na residência de José Gieteski, de 83 anos, e retrata o casamento do filho, Antonio. O caso veio a público quando alguém de São Mateus postou a foto em rede social para descobrir a origem.
Para além do assombro gerado pelo fato em si, impulsionado por ventos de 418 km/h, é possível produzir analogias. É de velocidade e tempo que se fala.

Até bem pouco tempo atrás, início do presente século – coisa de duas décadas e meia, um piscar de olhos na trajetória humana – o Jair, dedicado motorista da Prefeitura de Cascavel, entrava em um golzinho “quadrado” da Secretaria de Comunicação e saia com vários envelopes.

Deslocava-se para as redações de jornais, emissoras de TV e de rádio, a chamada “mídia tradicional”, única disponível na época.

No interior dos envelopes um release “batido” a máquina de escrever enaltecendo as façanhas do prefeito de turno e fotografias em preto e branco clicadas pela Salete Bramatti ou pelo Vanderlei Faria.

DESFOCADO

Aqui a fotografia faz uma viagem no turbilhão do tempo. As máquinas fotográficas arcaicas da época continham filmes de 12, 24 ou 36 poses. Não havia um visor para checar se a foto estava boa ou fora de foco.

Usava-se um macete para encontrar o foco, para tal, se o fotografado usasse uma camisa de listras verticais ajudava.

Feitos os retratos, levava-se o filme para uma sala escura da Prefeitura, onde hoje está localizado o Paço das Artes. A propósito, salas escuras eram usadas para outras finalidades também, mas deixa prá lá, vamos manter o foco aqui.

Fato é que a viagem analógica da fotografia do seu Gieteski por mais de 220 km corresponde, pelo menos em distância, ao que o Jair deveria rodar com o golzinho quadrado semanalmente em Cascavel para distribuir notícias “chapa branca”.

FOTOS AO VENTO

Hoje é possível compartilhar uma fotografia para as redações em tempo real de qualquer ponto do planeta em que haja um celular conectado com todas as cores e na melhor resolução.

A tecnologia, porém, será insuficiente para evitar que novas tragédias climáticas coloquem fotografias para voar. É uma foto em que ninguém quer aparecer, mas que retrata à perfeição as mudanças que trazem de volta cenários descoloridos produzidos por uma civilização desfocada do essencial.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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