Local lembra escombros da Faixa de Gaza sob intenso bombardeio, desrespeitando a memória do fundador do hospital


Quando o doutor Edo Peixoto contratou o carpinteiro Isidoro Chrun, no distante ano de 1958, para construir todo em madeira um hospital na rua Carlos de Carvalho, entre as ruas Paraná e Recife, jamais poderia imaginar a cena que hoje se vislumbra a olho nu no centro de Cascavel: as ruínas do que restou do tradicional Hospital Nossa Senhora da Salete.
Segundo anotações do jornalista Alceu Sperança, Edo José Dihel Peixoto nasceu em Porto Alegre no 22º dia de fevereiro de 1928. Formou-se em medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1952. Foi o terceiro médico de Cascavel, depois de Wilson Joffre e Sandino Amorin.
Edo foi longevo. Com quase 90 anos, jogava tênis no Country. Faleceu aos 94, em abril de 2022, mesmo ano em que o espólio dele obteve uma ordem de despejo para tirar os gestores do hospital do prédio por atrasos no pagamento de aluguéis.
Dali para diante o nosocômio que atendia pelo SUS pacientes de 34 municípios da região desceu ladeira abaixo. O amplo terreno de 18 mil metros foi fatiado. A face para a rua Recife, com 5,1 mil metros quadrados, foi adquirida pela rede Irani por algo em torno de R$ 18 milhões.
O naco mais próximo da rua Paraná está relativamente bem cuidado. Mas o miolo, onde estava o hospital, lembra um enclave bombardeado no Oriente Médio. O que tinha algum valor foi canibalizado. Os escombros restantes se transformaram em abrigo para moradores de rua, dependentes químicos e ladrões de fios de cobre. O odor é insuportável e casos de violência já foram registrados ali pela Guarda Municipal.
O hospital, que já foi solução para muita gente, se tornou um problema de segurança e de saúde pública, além de depreciar o valor dos imóveis na região.
PITACO DO PITOCO
Informação obtida na última quarta-feira (30), através de uma das netas do doutor Peixoto, Elisa, dá conta que a área permanecia com a família. Fontes do mercado imobiliário garantem que há negociações com a Construtora JL.
Se assim for, menos mal para os viventes daquela área do centro. A JL é mais conhecida por resolver problemas do que por criar. Foi assim quando transformou o elefante branco entre a Avenida Assunção e a Jorge Lacerda em um shopping, e quando socorreu o Tuiuti no centro, revitalizando a região. Que a memória de Edo Peixoto, pioneiro da medicina, propulsor do polo local de saúde, receba o devido respeito de seus aquinhoados herdeiros.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Líderes que fizeram a diferença
Provocados, historiadores citam lideranças que desempenharam papel fundamental em Cascavel

Um artigo publicado na edição do último dia 11 do Pitoco, pôs um ponto de interrogação em uma provocação: quem é o (a) líder memorável de Cascavel, que de fato fez a diferença, que possa ser classificado naquilo do “antes e depois do fulano”?
Logo após a veiculação daquele texto cético, que não conseguia enxergar essa figura mitológica e imprescindível para chegar onde chegamos, surgiram algumas repercussões, por combustão espontânea ou provocadas.
O veterano Paulo Martins, atento espectador da história local desde os anos 1970, mencionou Luiz Picolli. “Construiu o Tuiuti, fundou diretórios estudantis, núcleos em bairros, motivava confraternizações sociais como o inesquecível Fercapo, atividades esportivas, enfim, por muito tempo até o regimento interno da Câmara ainda era o modelo elaborado por ele”, disse Martins.
Oportuna a menção ao Picoli. Como a memória não é o forte por aqui, o espaço público que leva o nome “Vereador Luiz Picoli”, raramente é tratado dessa forma. O local é mais conhecido como “Praça da Bíblia”, e fica na região do Centro Cívico.
O historiador Alceu Sperança coloca uma trinca no podium dos homens que fizeram a diferença. Ele fala em “três pilares de Cascavel”:
José Silvério de Oliveira
Com a família já praticando o safrismo na Encruzilhada dos Gomes por arrendamento concedido por Antônio José Elias em 1928, Tio Jeca atraiu as primeiras famílias para formar a vila, em 1930, conseguindo os primeiros 500 hectares com o apoio do prefeito de Foz do Iguaçu, Othon Mader (1931).
Sandálio dos Santos
Com a Revolução de 1930 e Jeca Silvério passando a proprietário das terras arrendadas, foi chamado por ele para iniciar a vila de Cascavel, onde foi professor, cartorário e delegado de polícia, participando de todas as conquistas, desde o distrito (1934) até o Município (1952).
Aníbal Lopes da Silva
Professor da primeira escolinha (1932), irmão de Laurentina Schiels, matriarca da primeira família estabelecida no Cascavel Velho (1922), teve papel central na formação de Cascavel por suas relações com famílias pioneiras, dentre as quais os Pompeu. Foi assassinado por um jagunço.
Boaretto
Instado a citar um nome mais contemporâneo, Sperança mencionou a extensa ficha de serviços prestados pelo engenheiro Pedro Luiz Boaretto, empresário que marcou época na presidência da Acic, morto no auge, aos 49 anos de idade, em trágico acidente automobilístico. “Ele sonhava ser prefeito de Cascavel. Mereceu ser chamado de presidente”, disse Sperança.
O link com a trajetória de Boaretto, descrita pelos irmãos Regina e Alceu Sperança, está aqui: https://www.facebook.com/share/p/GFjLsqBBzU4X6ZQb.
Piaia cita Massaneiro, Jacy e Pompeu
Para o também historiador e doutor pela Unioeste, Vander Piaia, um pioneiro com visão de futuro foi Antonio Alves Massaneiro.
“Foi o líder de um abnegado grupo de pioneiros que, sabendo que Toledo se transformaria em município e incluiria o patrimônio de Cascavel como seu distrito, foi a Curitiba e com habilidade conseguiu reverter a situação, convencer o governador a emancipar também Cascavel. Sem ele e seu pequeno grupo, Cascavel não seria a grande cidade de hoje”, disse Piaia.
Já o ex-prefeito Jacy Miguel Scanagatta, falecido em abril de 2023, é citado por Piaia como “grande homem público”. “Ele representou o espirito dos pioneiros. Arrojado, tinha visão de futuro, que aplicou tantos nos seus negócios pessoais assim como prefeito, realizando uma administração marcante e progressista, que pavimentou o crescimento de Cascavel”, argumenta o historiador.
Piaia menciona ainda o professor Alberto Rodrigues Pompeu (foto), pelo engajamento nas causas. “O professor Pompeu, além de ser grande repositório da história de Cascavel, sempre participou das grandes conquistas, quer como homem público, quer como cidadão que estava lá, na multidão, consciente de que, independente do espaço que estivesse ocupando, o verdadeiro cidadão precisa fazer a sua parte”,
Pois é, mencionar viventes é sempre mais temerário. Sperança se limitou aos que já partiram. Piaia ousou citar os vivos. “Pensando aqui , eu incluiria o Jorge Guirado , não por seu jeito gentil ou apesar de sua humildade, mas o cara ajudou a projetar Cascavel no cenário nacional. Abusando, Incluiria Paulo Sciarra, por seu papel na cultura musical da cidade, por sua paixão incontida por Cascavel . Ele transita no mundo dos negócios e da arte com igual desenvoltura”, disse o doutor.
“Queria citar um empresário altruísta, certamente que há, mas só lembrei de caras que, antes de fazer o bem aos outros, fazem muito bem para si mesmos, jogando algumas migalhas aqui e acolá. E não incluí políticos recentes, pois todos são bons e ruins, alguns se destacam apenas pela vaidade”, arrematou Piaia.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O número
194 anos é o tempo estimado para a vida útil de Itaipu Binacional, segundo estudos geológicos. O assoreamento do reservatório é a “causa mortis” de usinas hidrelétricas.
Só rindo
A enfermeira diz ao médico:
Tem um homem invisível na sala de espera.
O médico responde:
Diga a ele que não posso vê-lo agora.
Ele falou
“Foi dito que a política é a segunda profissão mais antiga, e eu percebi nos últimos anos que ela tem uma grande semelhança com a primeira”. (Ronald Reagan, 40ºpresidente norte americano)
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
A República de Cascavel
Bancada cascavelense poderá receber mais dois deputados com a possível ascensão de suplentes; “República de Cascavel” também poderá ser reforçada por Leonaldo Paranhos e “Pereirinha”


A bancada cascavelense na Assembleia Legislativa (AL) pode ir a cinco parlamentares, quase 10% das cadeiras. Hoje a cidade tem três deputados lá: Batatinha (MDB), Gugu (PSD) e Lemos (PT).
Adelino Ribeiro e Rômulo Quintino estão na fila, aguardando a senha que pode ser exarada no Palácio Iguaçu ou no Judiciário. Embora relegado à quinta suplência pelas urnas de 2022, Adelino pode ascender ao cargo, com um empurrãozinho do governador.
Entre os suplentes à frente do cascavelense um foi eleito prefeito em Piraquara, outros ocupam cargo no primeiro escalão do governo do Estado. Mantida essa configuração, Adelino sobe para a segunda suplência.
Pesa a seu favor o histórico anterior. No primeiro governo de Ratinho Junior, até o sétimo suplente virou deputado.
Para fazer a fila andar, Adelino vem articulando com outros integrantes da “República de Cascavel”, como o prefeito Leonaldo Paranhos e o agora empoderado Gugu Bueno, futuro número 2 da AL.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Paranhos na Sedu?

A outros influentes integrantes da República de Cascavel em Curitiba, como Gugu Bueno, anabolizado pela secretaria da AL, e Edson Vasconcelos – presidente da maior entidade empresarial do Estado – pode somar-se o prefeito Leonaldo Paranhos.
Em fim de mandato, quando até o cafezinho é servido morno, Paranhos surge em uma suposta “lista tríplice” para comandar a cobiçada Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedu), pasta de maior orçamento no Estado, atrás apenas da Saúde.
A Sedu foi ocupada pelo então deputado Ratinho Junior como mola propulsora para disputar o Palácio Iguaçu. É a secretaria que dá mais visibilidade aos seus inquilinos, com atuação nos 399 municípios.
Outro cascavelense na porta da “República” é o advogado Luiz Fernando Pereira. Ele é candidato a presidente da OAB estadual. Se eleito, será o primeiro nativo da cobra no cargo.
Outros cobras
Há outros cascavelenses bem posicionados em cargos de influência e poder em Curitiba: Cláudio Stabile, secretário de Estado da Administração; Eder Bublitz, presidente da Ceasa; Julio Reis e Jefferson Lobo (1º escalão da Fiep).
E por pouco outro cascavelense, meio desconhecido por aqui, não foi eleito vice-prefeito de Curitiba. O advogado Jairo Ferreira Filho estava na chapa da finalista Cristina Graeml, que chegou a ameaçar a eleição do ungido do Palácio Iguaçu, Eduardo Pimentel.
Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente
