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Pitoco

Soja líquida, terra de ouro

calendar_month 20 de setembro de 2025
8 min de leitura

A explosão do preço das terras nas bordas do perímetro urbano expandido de Cascavel e a régua da soja como balizador da moeda

Nunca precisou tanta soja para comprar um alqueire nas áreas rurais localizadas nas franjas do perímetro urbano de Cascavel. Não se acha mais terra no entorno da cidade por menos de R$ 1 mil o metro quadrado. Para adquirir um alqueire, é preciso “casear” 18,6 mil sacas da oleaginosa.

Mas por que a soja aparece nessa conta? Historicamente soja é moeda por aqui, lastreia negócios, dá garantia para financiamento, balisa preços. E por que tanta soja para adquirir um naco de terra em Cascavel? Menos porque o preço está ruim a R$ 128 a saca, mais porque realmente os preços da terra explodiram com a expansão do perímetro urbano.

Entretanto, diferente do imobilizado, soja é líquida, é dinheiro na mão. O jornal “Estadão” de São Paulo trouxe um estudo da evolução da cultura por município desde 1974 até a safra 2023/24.

Cascavel produzia 136 mil toneladas/ano na primeira metade dos anos 1970. Atingiu um pico da montanha em 2020, com 423 mil toneladas, e chegou agora ao platô, na última safra, com 294 mil toneladas.

Comercializada a preços de hoje, R$ 2,1 mil a tonelada, a cultura de soja injeta mais de R$ 630 milhões na economia local, grande parte disso paga em moeda forte, exportada para o país da bandeira vermelha.

Parte dessa grana vai para o sistema financeiro, outra para impostos, mas um quinhão multimilionário vira camionete, terrenos em condomínios, apartamentos nos espigões, e mansões no “litoral” de Cascavel, Boa Vista da Aparecida.

CASCAVEL LIDERA

Prospectando os números do “Estadão”, Cascavel com quase 300 mil toneladas é a incontestável capital oestina da soja, seguida por Assis Chateaubriand (249 mil toneladas), Toledo (230 mil), Terra Rocha (144) e Palotina (141).

A maior produção está nos Campos Gerais, no eixo Guarapuava-Tibagi, que somadas colheram 734 mil toneladas de soja.

Nos anos 1980, quando a soja deu nome ao clássico entre Cascavel e Toledo no futebol, colhíamos aqui, somando os dois municípios, 505 mil toneladas.

A “cobra” leva vantagem sobre o “porco” pelo tamanho do território: Cascavel tem mais de 2 mil quilômetros quadrados, quase o dobro do vizinho.

GIGANTE DO NORTE

IMAGEM IA

Embora relevantes, todos esses números ficam relativizados quando comparados ao grande produtor nacional de soja, o Mato Grosso. Se fosse um país, seria o 3º maior produtor de soja do planeta, atrás apenas do Brasil e dos EUA, e maior que a Argentina.

Bem no centro do mapa matogrossense, está o município campeão: Sorriso colheu 2,2 milhões de toneladas de soja na última safra. Aqui tamanho é documento: cabem 4 cascavéis e meia dentro de Sorriso. Empresas aqui da região atuam lá, como a C.Vale.

Outro município campeão na oleagionosa é São Desidério, no Oeste da Bahia, com mais de 2 milhões de toneladas. Um dos grandes produtores de soja lá é Arnaldo Curioni, que contribui na estatística com 2,4 mil toneladas de produção anual.

Tem cascavelense também no terceiro município do ranking da soja, Pedro Muffato, em Sapezal (MT). “Colhi a melhor safra da história, com 81 sacas por hectares”, informa o piloto, que cultiva 3,5 mil hectares de soja lá, em área já misturada com o perímetro urbano da cidade. A família Scanagatta também é grande produtora no município top 3 do Mato Grosso, Campo Novo do Parecis.

Em tempo: Toledo não é a campeã paranaense em Valor Bruto de Produção em 12 anos consecutivos por obra do acaso. Ninguém no Paraná produz mais milho que a vizinha, 525 mil toneladas/ano. Boa parte do milho fica por ali mesmo, na “panceta” do gigantesco plantel suíno, composto de 900 mil cabeças. Em Toledo, são 5,7 suínos para cada sapiens.

PITACO DO PITOCO

Embora boa parte da soja e do milho produzidos aqui na região se convertam em proteína animal, alimentando gigantescos planteis de aves e suínos, há um excedente.

Transformar o excedente em dólares, exportando para o comunista Xi Jinping não é mau negócio.

Porém, agregar valor com a produção de biocombustíveis, como já faz a C.Vale com a soja e fará em breve a Coamo com o milho, poderá ser ainda melhor.

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Pitoco entrevista Odete

IA tenta introduzir a vilã de “Vale Tudo” na redação do Pitoco; imagem é montada, mas respostas da controversa personagem são fiéis ao roteiro interpretado pela ilustre visitante

IMAGEM IA GEMINI

A vilã da novela “Vale Tudo”, Odete Roitman, agora interpretada pela atriz Debora Bloch, é o típico personagem desenhado para ser odiado pela assistência. Sob o escudo da espontaneidade e da franqueza, ela reproduz falas carregadas de preconceito, hostilidade e segregacionismo, mas que encontram eco em vastos setores da sociedade. Sempre que possível, Odete reproduz conceitos que reforçam a expressão “complexo de vira- latas” para descrever o brasileiro médio, sempre descontente com seu país.

Usando IA, simulamos aqui uma entrevista com a personagem e encomendamos até uma ilustração para o Gemini. Como se percebe, a imagem gerada com a vilã na redação do jornal traz algumas imperfeições, mas foi possível transportá-la para Cascavel sem que a Debora tenha sido informada. As perguntas são aleatórias, já as respostas são frases que Odete proferiu na novela.

Pitoco – Por que esse mau humor todo com o Brasil?

Odete Roitman – Esta terra não tem jeito! Esse povo não vai pra frente. As pessoas aqui não trabalham! Só se fala em crise neste país. Um povo preguiçoso!

Percebe alguma perspectiva de mudança?

Pensei que alguma coisa tinha mudado no país. Foi só botar o pé aqui que você começa a sentir esse calor horroroso, uma gente horrível no caminho, gente feia esperando ônibus, caquéticos!

Sem esperança então?

O Brasil é um país de jecas. Ninguém aqui sabe usar talher de peixe.

Você parece odiar profissões modestas…

Se eu encontrasse minha mãe vendendo sanduíche na praia, eu não viraria a cara para ela. Eu enterraria a cara inteira na areia.

Investir em educação seria o caminho?

E você pensa que alguém aprende alguma coisa em universidade brasileira? Você quer se apresentar ao mercado de trabalho com um diploma assinado em tupi-guarani?

Saída do Brasil então é o aeroporto?

Sei que está cedo, mas quero ir logo para o aeroporto. Quando entro na sala vip, já me sinto em território neutro.

Vai me convidar para um jantar em sua mansão?

Nosso jantar é muito simples. O primeiro prato é de uma simplicidade franciscana. Temos uma lagostazinha.

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Avenida da vaquinha

Associação de vizinhos ilustres reúne sobrenomes da “soja-society” para viabilizar avenida no “filé do boi” da porção Oeste

Trajeto que dá sequência à Avenida da Torres vai pedir uma “curva na reta” para a vaquinha desviar do brejo

Bem que o pessoal tentou viabilizar no Palácio Iguaçu e Assembleia Legislativa verbas para construir a avenida que ligará a fábrica de prédios à porção Oeste da Avenida Brasil. Até o prefeito Renato Silva endossou as articulações. Mas essa avenida estava interditada.

Então acionou-se o “Plano B”, em que os proprietários do entorno farão uma “vaquinha” para bancar os custos da via que liga a rodovia 163, no Contorno Oeste até a Avenida das Torres (que hoje termina ao lado do condomínio Treviso). Deste ponto, convertendo a direita, é possível alcançar a Avenida Brasil e a Tito Muffato. São duas pistas de rolagem com cerca de 33 metros de largura e pouco mais de 5 quilômetros de extensão rasgando o “filé do boi” do mercado imobiliário de Cascavel.

A vizinhança que será chamada a contribuir na causa, a julgar pelos sobrenomes, não terá muitas dificuldades para juntar os “caraminguás” necessários: Simeão, Scanagatta, Gurgacz, Urio e o Cezar de David, da Bella Casa, entre outro.

Para articular a “vaquinha” e passar a chave pix aos vizinhos associados, está nomeado o “embaixador” de Cascavel em Brasília, Assis Gurgacz.

Embora o linhão das torres desenhe um trajeto quase retilílio, será preciso cuidado para não derrapar na curva. É que em linha reta, a nova avenida dá com os “burros nágua”. O lago da chácara Damagril, construído por Jacy Scanagatta, está no caminho do empreendimento.

Nada que a criatividade cascavelense não possa resolver.

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Silva & Mecabô

Como das outras vezes, a manifestação pró-Bolsonaro do último dia 7 de setembro não contou com a presença do prefeito Renato Silva. Mas o vice, Henrique Mecabô, fiel à pauta bolsonarista, estava firme no palanque, defendendo anistia ampla, geral e irrestrita.

Frota finalista

A eletrificação parcial da frota de transporte coletivo em Cascavel é finalista no Prêmio Parque da Mobilidade Urbana. A premiação será entregue no próximo dia 25, na ExpoCenter Norte, em São Paulo.

O NÚMERO 41,8 mil passageiros passaram pelo terminal do Aeroporto de Cascavel em agosto, ante 32,5 mil no mesmo período de 2024.

The End

“Para onde vai a humanidade? Não sei, mas quando souber, irei para o outro lado”
(Luis Fernando Veríssimo)

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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