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Terça-feira, 13 horas…

calendar_month 8 de novembro de 2024
9 min de leitura

Contagem regressiva para a inauguração do Catuaí Shopping, epílogo de um dramalhão mexicano que consumiu 33 anos

23 de novembro de 1991, página 11 da “Gazeta do Paraná”. O jornal estampa o título: “Cascavel à espera de um shopping center”. Na sequência, o repórter de economia escreve: “Já está pronto um projeto da Construtora Formato para iniciar as obras”.

A espera anunciada no título iria consumir exatos 33 anos. E tem seu epílogo agora, em 12 de novembro, quando finalmente o Catuaí abre as portas em um ambiente de ansiedade poucas vezes vivenciado na cidade.

Talvez um paralelo de expectativa possa ser resgatado 42 anos atrás, também em um novembro, às véspera da inauguração do Estádio Olímpico Regional, quando o futebol profissional estava no auge por aqui, e o São Paulo compareceu para bater a Serpente por 1 x 0.

Os números não mentem: rapidamente o perfil do Catuai no Instagram aglomerou 44,7 mil seguidores. Os últimos posts, explorando a proximidade da inauguração, amealharam 3,5 milhões de visualizações.

Quase três décadas e meia e mais de R$ 700 milhões depois, o shopping será entregue a esperançosos lojistas e ansiosos consumidores às 13 horas da próxima terça-feira.

Antes, a partir de 11 horas, um número restrito de autoridades, profissionais de imprensa, lojistas e convidados especiais participam de um ato de inauguração no hall do shopping. Entre os confirmados está o governador Ratinho Junior.

Correria

O shopping tinha que subir antes do Papai Noel descer as paredes do Copas Verdes, tradicional evento que abre a programação de Natal na cidade. Foi uma corrida maluca para chegar onde estamos. E a foto da capa, extraída no final da semana passada, mostra que ainda restará muita coisa para fazer, mesmo após a tesourada na fita inaugural.

Mais de 100 lojas estarão prontas, entre elas o Festval e os cinemas, mas outras dezenas vão entrar novembro adentro – talvez até dezembro, para operar em plena capacidade. “A escassez de mão de obra tanto para o construção do shopping como para os lojistas foi o grande gargalo”, disse o jornalista Caio Gottlieb, assessor de imprensa do Catuaí.

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Catuaí Shopping é o maior do ano

A inauguração do empreendimento entregará à comunidade uma das mais importantes estruturas de lazer, gastronomia e compras do Oeste do Paraná

Na área interna do Shopping Catuaí, ajardinamento e ênfase para a luz natural

De fato, o shopping arrebanhou muitos braços do RH local, a ponto de inflacionar o mercado em alguns setores, como no segmento de marcenaria. De outro lado, os resultados perenes do investimento já surtem uma espécie de “febre do ouro” no mercado imobiliário do entorno. Grandes construtoras, como Saraiva de Rezende e JL estão lançando edifícios nas franjas do Catuaí.

PITACO DO PITOCO

Se a canção “Louvação”, de Gilberto Gil, ensina alguma coisa sobre resiliência e paciência, vale citar o refrão aqui: “…Quem espera sempre alcança/ Três vezes salve a esperança…”.

Não foram três, foram 33 anos, mas o shopping está aí, a cereja do bolo que consolida Cascavel como principal polo comercial de uma região de quase 1 milhão de habitantes.

Com um mix de lojas composto por mais de 60% de franquias e grandes redes, sendo 40% de marcas exclusivas na cidade, o Catuaí Shopping contará também com um centro médico de diversas especialidades e clínicas, espaço kids com 2 mil metros quadrados de entretenimento, pet park e cinema com salas modernas, sendo uma Stadium, que oferecerá experiência diferenciada.

Maior shopping regional do País a ser inaugurado em 2024, o Catuaí contará com operações importantes para a rotina de seus visitantes, como academia, supermercado, restaurantes com horários diferenciados e uma praça de alimentação com capacidade para 1,5 mil pessoas, incluindo as principais redes de fast-food como KFC, BOB´s, Taco Bell, Burger King e muito mais.

O shopping, localizado em área das mais valorizadas do perímetro urbano de Cascavel, traduz-se em oportunidade de empreendedorismo a lojistas e geração de aproximadamente 8 mil vagas de trabalho, sendo 2 mil empregos diretos e 6 mil indiretos.

A menina Laura expõe cartaz com a data da inauguração. No detalhe, novo aparelho de ressonância magnética da Unitom entregue no centro médico do shopping

A Área

Implantado em uma área de 106 mil m², com 83 mil m² de área construída e mais de 42 mil m² de área bruta locável, o Catuaí se integra ao horizonte de desenvolvimento de uma das regiões que historicamente mais crescem no Brasil.

Grifes exclusivas e inúmeras atrações farão do ambiente um ponto de referência: Adcos, Artwalk, Authentic Feet, Bacio di Latte, Brooksfield, C&A, Casa Bauducco, Cineflix, Cotton On, Dudalina, Gelato Borelli, KFC, Le Lis, Léo Cosméticos, Lindt, Milon, Natura, Outback, Pampili, Recco Lingerie, Ri-Happy, Richards, Salinas, Shoulder, Swarovski, Taco Bell, Usaflex e VR são algumas das grandes marcas presentes no shopping.

Sobre o Grupo

O Grupo Catuaí originou-se no final dos anos 70, na cidade de Londrina. Cascavel se incorpora a outros quatro empreendimentos da família Khouri: Catuaí Shopping Londrina, Catuaí Shopping Maringá, Londrina Norte Shopping e Catuaí Palladium Foz do Iguaçu.
(Fonte: caiogottlieb.jor.br)

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A maldição do cemitério

No mês dedicado aos que partiram, historiador relata infortúnios de cascavelenses que removeram ossadas humanas (algumas delas crivadas de bala) . Alceu Sperança e Jairo Eduardo

O Cemitério Central demorou para ser inaugurado, pois ninguém morria para estreá-lo

Reza a lenda que um homem aguardava o ônibus no ponto da Rua Carlos Gomes, ao lado do Cemitério Central, em Cascavel. Foi quando percebeu um vulto se movimentando sobre o muro e perguntou:

Quem é você?

Sou uma assombração!

Não acredito em assombração…

Quando eu era vivo também não acreditava…
Embora o diálogo acima não

passe de uma lenda urbana, aquela região da cidade rendeu muitas histórias, como relata a seguir o historiador Alceu Sperança:

Em 3 de agosto de 1953, quando o prefeito José Neves Formighieri determinou o fechamento do cemitério distrital, localizado nas imediações da rua Rio Grande do Sul com Visconde de Guarapuava, fatos estranhos passaram a acontecer, transcorrendo pelas décadas futuras.

“Não sou supersticioso, mas depois desse trabalho aconteceram alguns fatos desagradáveis comigo, com o [prefeito] Neves e outros envolvidos”, contou Mário Thomasi (1928–1996).

Um dos primeiros servidores municipais, ele foi o encarregado de fechar o antigo cemitério distrital e abrir um novo campo santo, na futura Avenida Carlos Gomes, onde hoje está o Cemitério Central.

Temor ao sobrenatural

Thomasi não conseguiu completar a tarefa, mas depois nem tudo foi dificuldade. Teve sucesso como dirigente do Tuiuti Esporte Clube, que sob seu comando se recuperou de complicados problemas financeiros e estruturais.

Um dos primeiros astros do automobilismo cascavelense, Thomasi chegou a ser delegado de polícia e vereador na década de 1950. No entanto, também sofreu uma série de infortúnios, que atribuiu a mexer com as ossadas do cemitério.

Quando o município surgiu, em 1952, a cidade começou a crescer para o lado do Patrimônio Novo (rua Sousa Naves com Av. Brasil em direção ao Leste) e o velho cemitério, encravado entre os patrimônios Velho e Novo tornou-se um entrave ao desenvolvimento urbano.

Urucubaca

Em agosto de 1953 o prefeito José Neves Formighieri (1916–2002) se viu obrigado a determinar o fechamento. Thomasi acreditava que foi essa a razão de Neves nunca mais ter conseguido voltar a ser candidato a prefeito ou a deputado, pois uma urucubaca se abateu sobre sua carreira política.

Depois de preso e torturado pela ditadura, Neves abandonou de vez a política.

Por medo, os servidores da Prefeitura não queriam, em hipótese alguma, trabalhar na remoção do velho cemitério. O tratorista, mesmo habituado a trabalhar à noite, apavorou-se com a perspectiva de aparecerem fantasmas. Foi assim que Mário Thomasi, primo do prefeito e diretor do Serviço Rodoviário do Município, viu-se deslocado para a tarefa. Não pôde recusar, mas se arrependeu, atribuindo as dificuldades pessoais e políticas de quem lidou com cemitérios a uma espécie de “maldição” por perturbar os mortos.

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Ninguém morria para inaugurar o cemitério

A exemplo da comédia “O Bem Amado”, não havia gente para enterrar

No velho cemitério estavam enterrados os verdadeiros pioneiros de Cascavel, posseiros assassinados por jagunços e também jagunços mortos em emboscadas de represália armadas pelos posseiros, gente que, segundo a crença popular, não conseguiu morrer em paz.

Neves Formighieri condenou a área e decidiu fazer a remoção dos corpos, mas como ninguém mais morreu, a área do novo cemitério ficou sem inauguração, como na comédia “O Bem Amado”, de Dias Gomes.

Cidade com população muito jovem, ambiente saudável e doentes graves transportados a centros com melhor estrutura médica, o novo cemitério só foi inaugurado, na rua Carlos Gomes, em plena mata, pelo prefeito seguinte – Helberto Schwarz.

Bola de Crânio

Vereador na gestão anterior, Helberto havia aprovado a lei do novo cemitério e precisava cumpri-la, mas os novos vereadores não gostavam da ideia de abrir o novo cemitério na Rua Carlos Gomes, então um enorme matagal, longe do centro urbano.

Na década de 1960, já esgotado o prazo para a transferência dos corpos ao novo cemitério, o Departamento Autônomo de Águas e Esgotos da Prefeitura (hoje, Sanepar) começou a abrir valetas para a canalização de água, e na altura do futuro Moinho Corbélia, construído na quadra do velho cemitério, foram encontrados ossos humanos.

Alguns moleques foram advertidos por jogar futebol com um crânio.

O Moinho Corbélia também historiou um destino inglório: sofreu incêndio, a estrutura ficou comprometida e esteve no centro de uma longa batalha judicial.

Azares e medos

Mário Thomasi tinha um brilhante futuro pela frente, sendo um dos principais líderes da comunidade, mas se viu obrigado a ir embora de Cascavel a contragosto, levando-o a crer na imaginária maldição. “Acho que esse negócio de mexer com cemitério não é bom”, disse.

Como para confirmar o temor de Thomasi, depois de fazer a transferência do cemitério do centro da cidade para a Rua Carlos Gomes o prefeito Helberto Schwarz teve a Prefeitura criminosamente incendiada em seu último dia de administração.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

pitoco@pitoco.com.br

 
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