Simba, Ceará, pererecas, zebras e elefantes, como a foto desta edição ilustra, uma odisséia nas franjas do Zoológico de Cascavel

Quando a menina Kesia, aos 6 anos de idade, passeava pelo bairro São Cristovão, nas imediações do antigo Terminal Leste, só poderia perceber alguma diversão por ali no Zoologico Municipal.
Não poderia imaginar que naquela altura de sua infância, começava um entendimento entre os proprietários (Paulo Sciarra e Edimar Ulzefer) de uma área gigante nas franjas do Lago Municipal (103 mil metros quadrados), com potenciais investidores, entre eles o londrinense Alfredo Khouri, para construção de um shopping ali.
33 anos depois, Kesia surge na foto que ilustra a presente edição, passeando com o mascote Simba e o marido Ednei pelos 83 mil m2 do Catuaí Shopping Cascavel, inaugurado no último dia 12. A distância entre os fatos relatados dá a dimensão do tempo transcorrido. E a presença do spitz alemão Simba evoca outros bichinhos que povoaram a novela de três décadas.
Já foram notícia naquela área o macaco Ceará, que habitava uma jaula do Zoo voltada para o local que o Catuaí reinvidicava. Então foram feitos estudos para saber se os faróis dos carros poderiam importunar o sono do símio. Outros bichinhos, como sapos, perecas e rãs, foram auscultados madrugadas a fio para identificar impactos na fauna local.
Depois veio a “zebra” do embargo ambiental da obra. Na sequência surgiu o coronavirus, que jogou para frente as pretensões da BR-Malls em mover o esqueleto do elefante branco que ali se desenhava. Enfim, na última terça-feira, surgiu o Ratinho… bem, esse, o governador, era para descerrar a fita inaugural.
E o JL Shopping?
O Pitoco acionou a assessoria de imprensa do JL Shopping e pediu comentários dos gestores sobre a dinâmica do mercado a partir da inauguração do Catuaí. Até o fechamento desta edição, na última terça-feira (12), não havia resposta para o tema proposto.
Fontes do mercado consultadas informalmente entendem que em um primeiro momento, o Catuaí tende a apresentar mais movimento. Entretanto, em alguma medida, o fator proximidade geográfica (fenômeno comum entre clientes do varejo) pode ganhar relevância, e pela dimensão que a cidade e a região ganham, viabilizar ambas as operações. Afinal, Cascavel comporta dois shoppings? O tempo, o senhor da razão, irá responder antes de novos 33 anos…
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Do ladrão ao pinhão
Necessidade de matar a sede de uma cidade que explodia demograficamente e o roubo de araucárias na região do Zoo fizeram surgir o Lago Municipal

O local é bem arborizado, tem ipês amarelos e roxos, áreas gramadas, ajardinamento. Também tem traíras e bagres. Não, não é o Centro Cívico. Trata-se do mais novo “quarentão” da praça, o Lago Municipal de Cascavel.
O local que emoldura o lago, o Parque Natural Municipal Paulo Gorski com seus 111 hectares, forma a maior floresta urbana do Sul do Brasil, segundo a Secretaria de Meio Ambiente (Sema).
A origem da unidade de conservação, segundo o titular da Sema, Ailton Lima, vem de um roubo de araucárias na área onde hoje está o Zoo, prática comum da gafanhotada que rapelou o espigão e outras áreas, incluso aqui o Parque Nacional do Iguaçu.
“Consta que o secretário de Saúde do então prefeito Pedro Muffato, Juarez Brum, lá no início dos anos 1970, flagrou gente derrubando araucárias para furtar a madeira. E sugeriu ao prefeito a proteção daquele espaço”, relata Lima.

Alceu Sperança, o historiador, complementa a informação: “Sempre roubaram araucárias ali. A definição do lago resultou de um estudo de planejamento sobre a expansão da cidade e os problemas de saneamento que se apresentavam já desde 1960”.
É isso, havia alguns raros cascavelenses, como o Brum, preocupados em resguardar alguns exemplares sobreviventes daquela que já foi a maior floresta de araucária do planeta.
E havia também quem olhasse, como relatou Sperança, para a necessidade de um grande reservatório de água potável para matar a sede de uma cidade que explodia demograficamente.
Assim surgia, já na década de 1980, o Lago Municipal de Cascavel, concluído somente no governo Fidelcino Tolentino,
cujo slogan era: “Juntos, tudo é possível”. Para encher o reservatório de 41 hectares com 4 bilhões de litros de água, as nascentes ali estabelecidas precisaram de trinta dias.
Aos 40 anos, o Lago Municipal se consolidou como principal atrativo turístico da cidade e importante manancial não só de água potável como também da fauna e da flora. São mais de 150 espécies de animais, e 80% da mata é composta de árvores nativas.
Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente
