“Já perdemos”, reage o presidente da FIEP, Edson Vasconcelos, sobre calendário apresentado por Itaipu para o anel viário de Cascavel. Prefeito e vice não aparecem em audiência

“Alinhar espectativas”. Com essas palavras o diretor do Parquetec, fundação privada sem fins lucrativos mantida por Itaipu Binacional, Irineu Colombo, abriu a audiência realizada na Câmara Municipal de Cascavel, na última terça-feira (5). A conversa era sobre a elaboração do projeto executivo para o anel rodoviário de Cascavel, obra inacabada que para anelar a cidade precisa ainda de mais 65 quilômetros de rodovia e aportes de pelo menos meio bilhão.
Cauteloso no calendário, logo o professor Colombo explicou que sentido daria para a expressão “alinhar espectativas”. É que entidades de Cascavel aglutinadas pela Codesc e impulsionadas pela Fiep, têm pressa no assunto. A expectativa das lideranças locais era ter o projeto executivo pronto a tempo de conhecer o vencedor da licitação para execução da obra até o final de junho de 2026, prazo limite da legislação eleitoral para receber aportes do governo do Paraná.
EXPECTATIVA E REALIDADE
Colombo deixou claro que o projeto pago por Itaipu estará pronto, na melhor das hipóteses, no final do primeiro semestre do próximo ano, para somente então dar início ao certame que irá escolher a construtora.
“Já perdemos”, reagiu o presidente da FIEP, o cascavelense Edson Vasconcelos. Desde do início das tratativas, o líder empresarial buscou “alinhar expectativas” de outra forma, colocando a Prefeitura de Cascavel para bancar a elaboração do projeto, com o que, avalia, o processo ganharia celeridade.
Vasconcelos discorda também da inclusão do Contorno Sul na primeira etapa de obras. Entende que os esforços deveriam se concentrar primeiro na conclusão do Contorno Norte. Ele enxerga complicadores no arco Sul, em razão das taxas de ocupação e imperbeabilidade na bacia do Rio Cascavel, manancial da cidade. “Não podemos colocar os interesses imobiliários na frente do interesse público”, disse o presidente da Fiep, sem nominar os eventuais interesseiros.
PRÓXIMO PASSO
Colombo anunciou para o próximo dia 27, no Paço Municipal, a audiência técnica com chamamento para empresas interessadas na elaboração do estudo de viabilidade do anel rodoviário, incluindo Norte e Sul na conta. Na ocasião, os projetistas irão conhecer o termo de demanda.
É muito piche para caminhãozinho de prefeitura. Estima-se que completar o anel até o Contorno Oeste exigirá 65 quilômetros de uma nova rodovia. O Contorno Sul parte do viaduto no distrito de Santa Maria (rodovia 163, em Santa Tereza do Oeste) até a BR 277 na região da Ferroeste. Ali se conecta ao anel Norte, que segue no sentido leste/oeste, cruzando a rodovia 369 no meio do caminho entre Cascavel e Corbélia, ligando com o contorno Oeste.
“A ideia é usar as divisas demarcadas por estradas vicinais para reduzir despesas com indenizações”, explica o secretário Sandro Camilo, do time do Paço.
PITACO DO PITOCO
Parece haver, como pano de fundo na incompatibilidade de expectativas, uma reprodução aqui do Fla x Flu da política nacional: “Patriotas do Paço” x “PT de Itaipu”.
Na audiência da Câmara, ausência do prefeito, do vice e do secretariado corroboram essa tese. Raros vereadores governistas deram as caras no evento organizado pela petista Bia Alcantara.
Para além de supostos interesses imobiliários contrariados e do desencontro temporal, há sim divisões políticas aparentemente incontornáveis apesar dos esforços apaziguadores de homens como o “embaixador cascavelense” no Palácio do Planalto, Assis Gurgacz.
Se perdermos o anel que fiquem pelo menos os dedos e as digitais de quem errou o timing e prejudicou a execução de uma obra fundamental para a cidade.
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Televisão de outras infâncias
Minha geração teve o privilégio de assistir o maior salto tecnológico da história ao escalar o abismo entre o analógico e o digital

O Rio Grande do Sul é quase um país à parte. Lá eles não falam “estou assistindo TV”. Eles falam “estou olhando TV, estou olhando a novela”. Olhando para o pretérito perfeito das telas, um passado nem tão distante, não mais que uma geração, “de repente, não mais que de repente”, como repetia Vinicius de Moraes no “Soneto da Separação”, fica a imaginária impressão que séculos de evolução separam o aparelho de TV dos anos 1970 – de onde ainda guardo lembranças – para as telas atuais.
CHUVISCO
Nosso primeiro aparelho de TV foi uma Colorado RK, 24 polegadas, dotada de imagens em preto e branco. Alguns colocavam uma tela de acrílico na frente do aparelho para parecer colorida.
Subir no telhado para “virar a antena” era procedimento comum no esforço – muitas vezes vão – de “tirar o chuvisco”.
Para selecionar o canal havia um botão grande redondo que exigia o deslocamento do sofá até o aparelho. Da mesma forma o botão do volume. O controle remoto veio bem depois, era algo revolucionário.
Em Cascavel, na virada dos anos 1970 para 1980, sintonizava-se a TV Tibagi, cujas torres estavam em Apucarana, a Rede Paranaense (Globo), de Maringá, e depois a Tarobá (Band) e mais adiante a Carimã (canal 10), onde iniciei a carreira no jornalismo.
BOLETO DA BAHIA
Com o passar dos anos, os aparelhos foram mudando. A TV colorida 20 polegadas virou quase um padrão. A de 29 polegadas chegou com um tubo enorme, era chique adquiri-la no carnezão de 24 folhas das Casas Bahia. Depois veio a plasma. Em uma Copa do Mundo da época, ofertou-se TV de plasma 42 polegadas por R$ 7.999,00.
Hoje, com essa grana é possível adquirir uma smart TV Samsung de 85 polegadas, daquelas que se pode ligar ou desligar sem o controle remoto, com um movimento de mão a distância. Ali é possível navegar por centenas de canais e aventurar-se pelos labirintos da internet.
Perdeu a novela? O Jornal Nacional? Assiste novamente quando quiser e quantas vezes preferir. É o milagre tecnológico do streaming. Olhar TV, ou olhar para a TV na linha evolutiva do tempo é algo fascinante e exclusivo da geração que assistiu o maior salto tecnológico da história: o abismo que separa o mundo analógico do digital.
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“Empresa rica, dono pobre!”
As dicas do “Véio da Havan” após passear de Fiat 147 e revelar a fábula que fatura por dia

Repórter encontra Luciano Hang em sua caminhada pelas areias de Balneário Camboriú e pede uma entrevista. E foi logo perguntando quanto o “Véio da Havan” fatura:
R$ 50 milhões, responde Hang.
Por mês? Por ano?, indaga o repórter.
Não, por dia!, complementa o empresário.
Na sequência da prosa, Hang passa outros números: faturamento de R$ 1,5 bi/mês, R$ 18 bi/ano. Paga R$ 4 bi de impostos, emprega 22 mil funcionários e lucra R$ 3 bilhões.
OS SEGREDOS
Hang deixou três dicas na entrevista:
Dica 1: “Comece pequeno, sonhe grande, não espere ter muita coisa para começar, basta ter uma: credibilidade. Nunca atrasei uma duplicata na vida, peguei emprestado com amigos, bancos, créditos com fornecedores, sofri para pagar consórcio. Mas nunca atrasei uma conta”.
Dica 2: “Sou descascador de abacaxi. Adoro problema, apareceu, resolvo. Não fique se queixando. É bom pagar imposto, se tá pagando é porque está vendendo. Pare de se queixar”.
Dica 3: “Invista na empresa, durante 40 anos tudo o que ganhei na vida foi para a Havan. Você vê aquele volume de dinheiro no caixa, acha que aquilo é seu. Não é. É do fornecedor, do imposto, da folha de pagamento, o que sobra é pouco. Guarde isso contigo: por muitos anos terá que ser empresa rica de dono pobre”.
Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente
pitoco@pitoco.com.br

