Tem dias que eu penso: o mundo está dando tantas voltas que uma hora vai capotar, tamanha a velocidade das mudanças.
Ao olhar mais atentamente, é nitidamente visível que em muitas coisas, ao invés de melhorar, o mundo e a convivência entre os humanos está piorando assustadoramente.
Agora que as opções são imensas, muitos, por não saberem como decidir, aceitam qualquer coisa como verdade, como um novo que precisa acontecer para a evolução da humanidade.
Estamos perdendo o bom senso, estamos esquecendo o lado crítico da vida e, com isso, aceitando muito do que vem disfarçado do bem. Estamos empobrecendo em todos os segmentos, quer mental, emocional, cultural, físico, em tudo o que forma o ser humano.
Os achismos da modernidade estão nos roubando a essência.
Estamos preparados para refletir a respeito?
Se não estamos, deveríamos estar, pois de alguma forma muitos de nós só estamos deixando acontecer, sem focar no futuro que estamos construindo e onde iremos viver.
O tempo indo a galope e nós nos permitindo sermos engolidos pelas urgências, aceitando como certo muito daquilo que sequer temos consciência e muito menos demos aval, e o mundo vai girando e se construindo com o empenho de poucos e o descaso de muitos.
São absurdos e mais absurdos, daqueles que desde que o mundo existe são vistos como tal, e não importa quanto o mundo avance ainda assim continuarão a ser.
E nós aqui sentados, numa zona de conforto que mais tem a ver com desconforto, nos sentindo impotentes, sem ânimo para tomarmos as rédeas das nossas vidas e ousarmos discordar.
A gente tem esquecido que entre ter que respeitar tudo o que é diferente e aceitar como obrigatório para as nossas vidas qualquer imposição social, existe o nosso livre-arbítrio, o direito de fazermos escolhas, de escolhermos de acordo com os nossos valores e sustentar para nós a vida que desejamos viver.
Nessa dificuldade de fazermos escolhas que nos mantenham confortáveis, vamos engolindo tudo o que vier, permitindo sermos desconfigurados pelo padrão alheio e sequer ousamos nos posicionar, mesmo que seja atitudes puramente íntimas e pessoais.
Hoje está difícil conviver socialmente sem termos consciência de quem somos, daquilo que somos e do que permitimos que aconteça conosco.
Existe um certo temor de conviver que, às vezes, chega ao absurdo de muitos terem medo até de pensar.
Hoje tudo virou motivo para mimimi e por medo dos tais mimimis vamos aceitando como “normal” tudo o que vier. Estamos aprendendo a normalizar os absurdos e isso está adoecendo a humanidade. Estamos perdendo o rumo… será que se nos permitirmos ir muito longe um dia ainda saberemos retornar?
Mesmo que o mundo esteja infestado de absurdos, não por serem novas configurações, mas por fugirem a tudo o que humanamente seja aceitável, mesmo assim, não podemos esquecer do divisor que irá manter a nossa saúde mental equilibrada: temos o direito de não aceitar, não precisamos incluir nada nas nossas vidas sobre o qual não concordamos. Só precisamos respeitar e entender que o outro tem o direito de ser e escolher o que quer para si, e ponto.
Feito isso, será possível viver e conviver sem precisar deformar os próprios sentimentos e atitudes.
Importante ter sempre como regra de vida: o que eu não quero pra mim, o que não serve pra mim, pode ser bom para o outro. Essa deve ser a nossa escolha diária. Assim poderemos circular pelo mundo sem nunca esquecermos a velha e tão preciosa frase que as mães sempre dizem: você não é todo mundo!
Nessa caminhada, escolhendo sermos nós sem nos permitir perder a essência, respeitando a escolha de cada um, estaremos seguindo em paz.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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