E agora? É preciso acordar, se não pelo amor, pela dor.
Muitas famílias irão precisar se conhecer. Olhar uns para os outros e, sem a chance de sair de casa, dizer: olá, como vai?
Agora ninguém mais precisa fugir para a academia, viajar, inventar desculpas para se ausentar. Não precisamos mais de maquiagem, pois a família conhece o pior de cada um. Acabou o lanche com as amigas, o futebol com os amigos. Não tem mais a mínima chance das escapadas básicas para um café, um papo mais íntimo ou até mesmo encontros fortuitos.
Agora somos nós e aqueles que têm nos amado e suportado a ausência, o distanciamento e até a falta de amor.
Agora vamos descobrir coisas que nunca passaram pela cabeça, porque cabeças muito ocupadas com coisas não têm espaços para a gente.
Agora vamos relembrar detalhes dos quais nunca deveríamos ter esquecido.
Agora vamos olhar finalmente para os nossos filhos e descobrir como eles cresceram, quantas coisas aprenderam que não ensinamos e quanto eles estiveram esperando por um amor que estava distraído pela vida.
Muito do nosso egoísmo precisará se render ao espaço físico, à proximidade física e àquilo que tem passado desapercebido nas nossas vidas.
Sempre envolvidos na falta de tempo, vamos descobrir agora que o tempo precisa saber ser usado. Não é aceitável que tudo se perca pela falta de um olhar mais atento para a vida.
Vamos descobrir agora muito do que estava se perdendo e que não se percebeu, muito do que já estava distante e por pouco ainda não havia ido embora. Vamos descobrir que o amor só se sustenta com o amor, que filhos e parceiros estavam crescendo e vivendo sem exemplos e ensinamentos, sem esperanças.
Vamos descobrir que o mundo estava nos roubando a essência com o nosso consentimento e a gente estava deixando o dia a dia nos engolir.
Agora, pela dor, vamos descobrir o que o amor deveria ter nos ensinado e não se permitiu, não dando a atenção necessária.
Então, que esse momento tão grave sirva para nos ensinar mais sobre nós e sobre quem divide a vida conosco, quem ainda, apesar de tanta indiferença, permanece ao nosso lado buscando ser visto e amado(a).
Que a gente finalmente descubra que a família é o nosso maior tesouro, e que, quando isso tudo terminar, finalmente tenhamos aprendido o valor do amor.
Psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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