O Presente
Silvana Nardello Nasihgil

Educar é diferente de se apossar da personalidade de uma criança

calendar_month 8 de junho de 2023
3 min de leitura

Na maioria das vezes, idealizamos os nossos filhos. Mesmo antes deles existirem já imaginamos, colocamos como metas detalhes que talvez não tenhamos tido a oportunidade de experienciar, então repassamos essas frustrações para que os nossos filhos sejam os que irão viver de acordo com as nossas expectativas.

Eles nascem, e com isso esquecemos que eles terão suas particularidades, que precisarão ser acompanhados e respeitados. Esquecemos de educá-los para o mundo, para darem conta da própria vida e, com isso, impedimos que desenvolvam a resiliência.

Desde as coisas mais básicas, como paladar, limites físicos, sensibilidade, posição para dormir, escolha de cores… e por aí vai, deixam de ser respeitadas em nome de que os pais sabem o que é melhor para os seus filhos.

Pensamos que quando estamos escolhendo estamos impedindo que sofram, pois estamos dando o nosso melhor. Criamos, assim, seres incapazes de decidir, travados para as convivências sociais e afetivas, seres que terão muita dificuldade de lidar com frustrações, com as diferenças, sendo pessoas tidas como estranhas.

Educar, ensinar para a vida, é muito diferente de se apossar da personalidade de uma criança, buscando moldá-la de acordo com aquilo que desejamos. Porque, ao buscarmos o filho perfeito, envolvemos essa criança e adolescente em um mundo que eles não vão reconhecer como seu, onde não têm direito de discordar e vivem como se estivessem em uma bolha feita para agradar.

E a vida não vai parar, a cada dia tornando-se um sacrifício a ser vencido. Não precisa chorar, sentir fome, frio, ser contestado, resolver coisas básicas; perdem-se os limites do próprio sentir e se desenvolvem como alguém que precisará ser suprido nos mínimos detalhes.

Quando os pais ou cuidadores envolvem essa criança ou adolescente em uma “bolha” anti-frustração, elas/eles simplesmente se tornam marionetes que fatalmente experimentarão muitos sofrimentos.

O mundo e as pessoas não estão preparados para conviver com gente assim. A vida exige humildade para reconhecer dificuldades e atitudes para superá-las. Então, como pais ou cuidadores, precisamos refletir sobre as nossas atitudes, precisamos respeitar a vida que está se construindo, ficarmos ao lado, dar suporte, acolher, ouvir, ensinar, acompanhar, deixar falar e amar. Esse é o nosso papel, porque precisamos criar pessoas que deem conta de si, que olhem o mundo como um desafio, mas sabedores que poderão superar qualquer dificuldade.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 
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