Ao fazer um passeio pelas redes sociais, dentre tantas coisa que eu li, uma me chamou muito a atenção: “Existem filhos de pais vivos que são órfãos de educação”.
Parei e por um bom tempo fiquei analisando a profundidade dessa frase e o quanto ela está cheia de verdade.
Infelizmente, mas infelizmente mesmo, estamos criando uma boa parte dessa nova geração, sem critérios, sem valores, sem responsabilidade, com uma dificuldade absurda de lidar com frustrações, incapazes de tomar atitudes, desobedientes, grosseiros, sem limites, sem autorrespeito e sem respeito por nada e ninguém.
Qual a razão dessas respostas assustadoras? Eu credito a maior parte ao abandono emocional, onde se tem aberto portas ao erotismo precoce e permitido que as ligações afetivas com estranhos comece muito cedo, onde se normaliza atitudes absurdas e onde a preguiça de educar está em nível máximo.
Uma criança ou adolescente que não tem a presença dos pais ou cuidadores com qualidade, com escuta e acolhimento, deixa um espaço vazio que vai se somar com a curiosidade. Esse espaço muito provavelmente será preenchido por qualquer pessoa que saiba adentrar esse terreno, desconstruindo ou construindo padrões comportamentais que beiram ao absurdo.
Diante da falta de alguém que disponha de tempo para orientar, conversar e ouvir, existem os sem comprometimento ou responsabilidade que chegam para bagunçar o que já não anda bem. Nesse terreno perigoso entra a curiosidade potencializada pelo abandono emocional. Então, o sexo começa quase na infância.
Sem sequer terem o mínimo conhecimento da própria fisiologia, as crianças já beijam na boca com o intuito de “ficar”; as drogas começam a ser experimentaras por farra, o álcool para dar coragem e se sentir adulto… e por aí vai.
Muitas crianças gritam e impõem suas vontades, usando palavrões para se comunicar, e tudo vai andando como se fosse normal.
Nesse emaranhado de confusão, esquecemos que esses pequenos em breve serão adultos, mas, que tipo de adultos serão?
Quantos irão sofrer por terem sido permitidos se criarem usando a velha desculpa de quem tem falta de responsabilidade emocional: deixa que façam suas escolhas, porque esse é o melhor modo de aprender, pela experiência. Depois cresce e tudo se ajeita.
Por que alguém precisa aprender pela dor? Por que alguém precisa adicionar marcas negativas na vida sem ao menos ter consciência que tem um futuro? Por que os responsáveis se omitem permitindo a adição de tantas coisas ruins?
Por que está difícil ser pai, mãe ou cuidador e exercer a responsabilidade de educar?
Quem ama seus filhos não pode esquecer que educar, ensinando seus filhos a serem respeitosos, sem preconceito, cuidadosos consigo e com o outros, educados, gentis, a tomarem atitudes, se defenderem, reconhecendo aquilo que lhe faz mal quer física, emocional ou psicologicamente, é uma obrigação. Acompanhar o seu desenvolvimento com dedicação e tempo de qualidade é necessidade primordial.
Quem ama seus filhos e observa os cuidados necessários para a sua formação, no futuro verá o quanto essa dedicação reverterá em pessoas bem resolvidas, com potencial de construir a sua história e ser muito mais feliz.
Diante disso tudo, já que os nossos filhos têm pais ou cuidadores, sejamos aqueles que, com dedicação, saibamos auxiliá-los a crescerem saudáveis e serem adultos comprometidos e felizes.
Aprendamos a usar o tempo com qualidade, sendo presença, abraço que cura, colo que acolhe, palavra que anima, sejamos quem saiba indicar a direção com melhores resultados, mostrando os limites, amando-os para que aprendam a amar.
Que por mais difícil que possa ser, nunca permitamos que sejam abandonados de qualquer forma, e jamais os deixemos órgãos de educação.
Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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